Editorias, Opinião

Maria Leal: Truth Never Told

Em mais uma noite nas ruas lisboetas, mais precisamente na discoteca mais pacífica e com os maiores valores éticos de Portugal, vulgarmente conhecida como Urban, estava eu, a dançar e a lançar os mais sofisticados piropos, em mais uma tentativa de copular com o sexo oposto e quiçá começar uma linda relação heteroafetiva.

Foi então que reparei que um grande furdúncio se instaurava e uma quantidade considerável de seres humanos se agrupavam à frente de um ser, uma divindade qualquer, pois a euforia já era tão gigantesca que eu desconsiderei de imediato a hipótese de que tal movimentação fosse em função de um indivíduo qualquer.

Logo de seguida, todos os que estavam ali presentes entoaram numa só voz:
“Oh, oh, hoje Maria Leal aqui só para ti”.

Era inevitável que aquela comoção se espalhasse por todo o Urban e, mesmo sem me aperceber, já estava a cantar com todos. Um momento épico na história da nação.
Porém, num determinado momento, eu decidi distanciar-me daquele concerto e analisar friamente tudo o que se passava ali. Depois de uma rara reflexão filosófica cheguei à conclusão: “Essa mulher não pode ser tão ignorante assim”.

Ignorante no sentido mais concreto da palavra. Eu recuso-me a acreditar que a Maria Leal não tenha a perceção de que as pessoas não estavam ali propriamente a apreciar seu talento musical, mas sim a gozar e desprezar sua imagem ou, no melhor dos casos, a celebrar o grande absurdo que é uma pessoa que não se apercebe de sua total falta de talento.

Na verdade eu acredito que, sim, Maria “Diva” Leal possui total entendimento de que o seu sucesso se deve ao facto de não apresentar qualquer tipo de talento ou conhecimento de música. Ela sabe disso e usa toda essa exposição ao seu favor, a ganhar cada vez mais dinheiro e a conquistar cada vez mais fãs.

Isto tudo se resume ao facto de a “Diva” não se levar a sério: ela não vê problema em ser vista como uma grande “lerdaça” que não sabe o que esta a fazer da vida. Em contrapartida, utiliza todo o bullying para reforçar a sua imagem. A letra da música, os passos de dança envolventes, a capa de disco revolucionária, os looks que fazem Lady Gaga parecer uma rapariga cristã recatada, todos os elementos de sua majestosa apresentação são minuciosamente estudados. Nada é por acaso!

Ouso dizer que Maria Leal é, em Portugal, o que Andy Kaufman foi nos Estados Unidos. Uma excelente e inteligentíssima atriz, que brevemente dominará todo o mercado mundial do entretenimento, juntamente com José Castelo Branco, Inês Brasil e Kosaka Daimaou – o gajo da música Pen Pineapple Apple Pen.