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Sim, estamos em outubro. Sim, ainda estamos a tempo de falar de Angel Olsen.

Depois de Burn Your Fire For No Witness (2014), a menina do Missouri regressa com novo álbum, porte de mulher e um leque de canções arrepiantes para nos deixar de queixo caído. My Woman foi editado no dia 2 do mês passado e veio para ficar. Confirma-se: Angel Olsen voltou em força.

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Se em 2014 os ouvidos do mundo ficaram arrebatados com a entrega estrondosa que se ouvia em Burn Your Fire For No Witness, então o que não lhes terá acontecido no mês passado. Álbum novo, vida nova – poder-se-ia dizer – mas a verdade é que esta é a mesma Angel Olsen que nos cantava com ternura, acompanhada da sua guitarra, em temas como Acrobat e Lonely Universe (que, já agora, pertencem a Half Way Home, editado em 2012). Esta é a mesma Angel Olsen que veio das palavras cruas do folk, que nos conquistou com a voz enorme, que se escondia por detrás da sua franja, e que reencontramos neste novo registo, como nunca a ouvimos antes.

Angel Olsen partiu do folk, mas as suas pisadas pelo mundo do rock tornaram-se evidentes nas guitarras rasgadas de Forgiven/Forgotten, onde a inquietude de ambos os géneros se uniu na perfeição. Mas se antes caminhava por diálogos teóricos, de um cariz quase espiritual, agora vai direta ao assunto. Num misto de drama, ironia e comicidade, em My Woman, Olsen fala-nos dos seus amores e desamores, de um mundo baseado numa constante procura pelo sentido da vida, sempre de um ponto de vista feminino. Basta ouvirmos a primeira faixa, Intern, para ficarmos convencidos e nos revermos nas palavras: “Doesn’t matter who you are or what you’ve done/Still gotta wake up and be someone”.

something old, something new que resulta num conjunto de canções para lá de espetaculares. Ouvem-se sintetizadores, as já tão conhecidas guitarras elétricas e, claro, a voz de Angel Olsen como a grande e brilhante cereja no topo do bolo. A menina que nos conquistou em 2011, com o EP Strange Cacti, é agora uma mulher e na sua voz ouve-se algo para além da melancolia que a acompanhava, por vezes, à guitarra. Soam desafio e sensualidade, num tom de certeza, aliados à doçura que já nos é familiar – vá, ouçam Heart Shaped Face, peço-vos.

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Este é, sem dúvida, um álbum no feminino. Ouvimo-lo em todas as faixas – é impossível ignorá-lo em Sister, onde Olsen retoma alguma serenidade nas cordas da guitarra, conseguindo mesmo assim uma música assombrosa. Não a substimem, não vale a pena.

My Woman é no feminino, mas como todos os álbuns é um álbum para todos. No entanto, atenção: este não é um álbum qualquer. Angel Olsen não é só uma mulher qualquer. É a mulher de que precisávamos na música de hoje.

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