Média, Moda e Mediana
Eu não percebo nada de moda. Ou melhor: o meu conhecimento da moda é um vácuo. Nada ao pé do que eu sei sobre o assunto ainda é alguma coisa. Eu só tenho três pensamentos no que à moda diz respeito. O primeiro é o de que não devemos fazer combinações com verde e castanho a menos que seja dia da árvore; o segundo é o de que as t-shirts pretas não fazem sentido. O preto atrai o calor, portanto só deveria ser usado em roupa de Inverno. A menos que venha com ar condicionado incorporado; o terceiro é o de que qualquer pessoa pode entender de moda. É precisamente sobre este terceiro que me quero debruçar um pouco mais aprofundadamente.
Toda a gente pode entender de moda como toda a gente pode entender de qualquer assunto? Não. Não se trata de uma daquelas afirmações que sugerem que se pesquise, que se veja, que se experimente e, a partir daí, se forme conhecimento. Toda a gente pode entender de moda sem fazer nada. Por duas razões: por um lado, por mais bizarro que determinado visual possa ser, alguém no Mundo vai achar piada. Isto é tão certo como ver uma bola no meio da estrada e contar os segundos para ver uma criança ou um cão a atravessar atrás dela. Não se pode dizer de modo absoluto que uma coisa está mal feita ao contrário do que acontece na maioria das outras áreas. Por outro lado, basta falar como um crítico de moda. E não me refiro a nenhuma espécie de linguagem corporal. Refiro-me mesmo à linguagem. Basta usar expressões em inglês como look, outfit, skinny, casual(dito em inglês), trashy, clean ou em francês como toillete, avant-garde, haute couture, démodé ou Eduardo Beauté. Todas estas palavras têm sinónimos em língua portuguesa, mas usá-las em estrangeiro dá um ar diferente ao assunto. É um pouco como aquilo que acontece com as pessoas que deixaram de correr e começaram a fazer running. Fugir é para cobardes, correr é para habitués (tomei-lhe o gosto), jogging é para ricos e running é para quem quer perder peso.
Apesar de não fazer parte do meu leque de interesses, eu não tenho nada contra a moda. Incomoda-me apenas que em galas como a dos Óscares se fale tanto dos vencedores como da forma como eles vão vestidos. Em vez de escrutinarem minuciosamente a forma como chegaram ao prémio, escrutinam de forma minuciosa a forma como atravessaram a passadeira e subiram ao palco. Todo o esforço, dedicação e sucesso quase resumidos a um “ia bem vestido” ou “ia mal vestido” (sendo que, para mim, ir mal vestido é ir com os sapatos trocados, por exemplo).É a moda vista por quem comenta fotos da red carpet. Já não é uma moda. É uma média daquelas bem medianas. Très chic!
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.