Milhares em Lisboa em protesto por uma “vida justa”
Organizada pelo movimento Vida Justa, a manifestação que tinha como mote “Todas e todos, por uma vida justa” juntou em Lisboa 10 mil pessoas em protesto contra o aumento do custo de vida, segundo dados da organização.
No dia 25 de fevereiro milhares de pessoas deslocaram-se às ruas de Lisboa para protestar e exigir ação política perante a inflação, os baixos salários e os problemas na habitação. O movimento Vida Justa, criado por associações, ativistas sociais e moradores dos bairros da periferia de Lisboa, foi o principal promotor do protesto.
A manifestação começou no Marquês de Pombal, de onde saiu às 15h45 em direção à Assembleia da República. Ao longo do percurso, fizeram-se ouvir e ler várias palavras de ordem como “Costa, escuta, queremos vida justa!”; “Lutar, lutar, para a fome acabar. Lutar, lutar, queremos casas para morar”; “queremos pão, não inflação”; “A cidade a quem nela trabalha”.
Um casal de jovens de Setúbal deu o seu testemunho à Agência Lusa. Ela é médica, ele tem um mestrado em Engenharia, e ambos perdem duas horas e meia em transportes públicos para se deslocarem até Lisboa para trabalhar. “Sou médica, recebo bem, mas mesmo assim não dá para encontrar casa em Lisboa”, confessou a jovem. O seu namorado, apesar da formação, reclamou do contrato de trabalho precário. “Não se consegue poupar. Vive-se para trabalhar.”
Os salários e a subida dos preços estiveram também na mira dos manifestantes. Carla Isidoro, 49 anos, vinda de Oeiras, exibia um cartaz onde se podia ler: “Costa, vivias com 700€ brutos?”, pois considera que existem “salários baixos em Portugal, de uma forma generalizada, em relação ao nível do custo de vida”. Como trabalhadora independente, diz que “quase 50%” do que ganha vai para impostos e Segurança Social, “uma carga fiscal incomportável”, afirma.
Os manifestantes dispersaram por volta das 18h, aquando da chegada da manifestação dos professores e trabalhadores não docentes e após um momento de comunhão e solidariedade entre os dois movimentos.
Com a recolha de assinaturas ainda em marcha, o movimento Vida Justa promete lutar pelas populações mais pobres. No manifesto, disponível no site do movimento, pode ler-se: “As pessoas são vítimas de uma sociedade que acha normal pagar mal a quem trabalha. É preciso dar poder às pessoas para conseguirem ter uma vida digna. Exigimos um programa de crise que defenda quem trabalha”.
O movimento sugere no manifesto diversas medidas que considera essencial implementar no contexto atual, entre elas o tabelamento dos preços da energia e dos produtos alimentares essenciais; o congelamento dos juros dos empréstimos das casas; o fim das rendas especulativas das casas e proibição dos despejos; o aumento geral dos salários acima da inflação; e medidas para apoiar os comércios, pequenas empresas e os postos de trabalho locais.
“Para nós, isto é o início. Não é o fim“, afirmou no balanço da manifestação Nuno Ramos de Almeida, um dos organizadores.
Fonte da capa: Miguel A. Lopes/ Lusa
Artigo revisto por João Nuno Sousa
AUTORIA
Maria Beatriz Batalha, 23 anos, sempre foi fascinada por História(s). Embalada pela ilusão de pensar o passado e o futuro no presente, encontrou o Jornalismo. Não ser ninguém é ao mesmo tempo o seu maior medo e o seu maior sonho. Na ESCS Magazine, a Editoria de Informação é o seu próximo desafio.