Artes Visuais e Performativas

Mulheres de Atenas

No nosso vizinho Teatro Turim, surge uma produção do grupo MOB, a peça “Mulheres de Atenas”. A peça exibida nos dias 7 a 9 de Abril aborda uma temática que transpõe o tempo. Assim, neste que é o mês da liberdade e após um março marcado pela tensão pela luta dos direitos da mulher, a arte é uma vez mais veículo de uma mensagem de libertação e atitude.

A ação da peça decorre naquela que foi conhecida como Guerra Mundial da Antiga Grécia – os homens de Atenas forçadamente alistados abandonavam mulheres, mães, noivas e amantes. A mulher era vista aos seus olhos como um ser passivo, de “forças tão débeis” que limitava-se a ter um papel estanque à lida doméstica e à satisfação das vontades dos homens. É neste panorama que Lisa, mulher do general Leónidas, convoca uma reunião de mulheres representantes dos diferentes estratos da sociedade e juntas por um sentimento em comum. Pois, enquanto que aos homens o desejo e paixão lhes devoram o coração, às mulheres eram a solidão e a saudade. E, enquanto que os homens não podem chegar a esse ponto de castidade, a saudade das mulheres é negligenciada. Consequentemente, para a acabar com a guerra implementa-se uma greve de sexo e um ataque ao tesouro do estado.

É neste gesto tão simples que a mulher troca a típica “dor de cabeça” por um NÃO, ferindo as suscetibilidades do homem. Assumindo-se como ser igual ao homem que é, com desejo carnal, carente, corajosa e determinada, mais que um “animal mais desavergonhado”, como o ser mais ousado. Estas mulheres de Atenas, seguindo o apelo de Chico Buarque na música com o mesmo título, despojam-se desse rótulo que lhes foi atribuído e conquistam aquilo a que se propõe, o fim da guerra.

A narrativa foi marcada por um discurso corrente e acessível, não perdendo pela falta de um vocabulário elaborado, ou pela inexistência de um cenário que remetesse à época retratada. As vestes das personagens fundiam-se com as cortinas negras no fundo do palco, dando destaque a uma performance expressiva e multifacetada dos atores com espaço para rir e refletir. Do negro também brotam assuntos que, embora sejam confundidos e escondidos no nosso dia a dia, foram protagonistas: a igualdade de género e social, a subsistência de estereótipos de género, a prostituição, o adultério e a justiça social, revelando que por detrás de uma batalha há sempre uma guerra ainda maior – pela qual cabe a todos nós lutar.

Deixo por fim as palavras proferidas pela personagem Lisa e a música de Buarque na esperança de deixar em aberto o espírito de reflexão.

“Não basta libertar um escravo, é preciso acabar com a escravidão”