Música

O Renascimento de Beyoncé

Dispersa do olhar mediático e dos holofotes por quase três anos, Beyoncé Giselle Knowles-Carter regressou à ribalta com o seu tão aguardado sétimo álbum de estúdio. Este é o primeiro corpo de trabalho lançado a solo pela artista desde o impactante Lemonade (2016),  da sua breve exposição com o lançamento do filme The Lion King (2019), onde a mesma participou, e Black Is King (2020) – um documentário/álbum-visual escrito, dirigido e produzido por Beyoncé – assim como a trilha sonora The Lion King: The Gift, que integra estes dois últimos projetos.

Renaissance é o primeiro ato de uma trilogia, um conjunto de três álbuns musicais planeados por Beyoncé anunciado para os próximos anos. 

Lançado a 29 de julho de 2022, pela Parkwood Entertainment (produtora/agência fundada e dirigida pela própria artista) e Columbia Records, o ato conta com a colaboração de ilustres nomes da indústria musical como Jay-Z, Drake, Pharrell Williams, Skrillex, The-Dream, Sydney  Bennett ou Sabrina Claudio. Inclui ainda a participação vocal de Beam, Grace Jones e Tems, assim como a integração de samples – trechos sonoros retirados de outras músicas – de artistas como Big Freedia, Nile Rodgers, Robin S., James Brown, Donna Summer, entre outros.

O conceito que nomeia o álbum “o Renascimento” faz referência a uma época histórica de grande relevo com o mesmo nome (entre o século XIV e XVI) – um tempo marcado pela rotura de um período de trevas (pestes, fome e miséria), em virtude da ascensão de um tempo de glória e prosperidade definido pela adoção de novas conceções, nomeadamente ao nível das artes – o que se traduz, em parte, na subjetividade deste título (Renaissance) pois, tal como o Renascimento revelou um “despertar para as artes”, também Beyoncé “despertou” dos seus anos de retiro, inovando, uma vez mais, o meio musical e até artístico-cultural que, ao longo dos últimos meses, tem vindo a sofrer altas influências de tempos passados (nomeadamente o regresso do pop e disco), como resposta aos infortúnios a que as sociedades assistem atualmente e que incitam a necessidade de fuga e recurso a algo positivo e alegre, libertando as frustrações de uma forma criativa,espontânea e pacífica. Assim, a concessão deste álbum produzido durante a pandemia pela autora integra-se nestes aspetos mencionados, surgindo como um refúgio ou “grito de exaltação e liberdade”, que alude à quebra do isolamento e das distâncias interpessoais e ao regresso da união e comunidade, através de uma grande festa (em termos metafóricos).

 Deste modo, Renaissance assume-se como um álbum de house, disco, pop e R&B, altamente inspirado por black dance music dos anos 70/80 e a club culture ou raving, característica destes finais do século XX, que se distinguem pela sua energia única. Assim, o ato não deixa de parte as raízes negras da artista nem a sua cultura, tal como o amor expresso e indiretamente mencionado à comunidade LGBTQI+, cuja cultura de ballroom e raving marcaram a sua história enquanto abrigo das discriminações sentidas “outside of the club”. Como forma de simbolizar estas duas realidades acarinhadas pela intérprete – nitidamente evidenciadas em faixas como COZY e HEATED -, Beyoncé dedicou o álbum à sua mãe, Tina Knowles, e ao seu falecido “tio” (na realidade primo), Johnny. 

A profundidade, criatividade e paixão das letras; a relação com a experiência de vida atual; os ritmos contagiantes e sensuais; a relatividade cultural; as transições impercetíveis e o tom “unapologetic” utilizado que impõe a artista, são algumas das características que contribuem para a coesão do álbum enquanto uma obra de arte única, natural de Beyoncé e diferente de tudo o que alguma vez foi produzido até ao momento.

Posto isto, é necessário referir que o álbum foi altamente aclamado pelo público, embora desacreditado por muitos quanto à viragem estilística que a artista seguiu, totalmente diferente do seu registo habitual. Já os críticos valorizaram o ecletismo, a performance e o valor histórico deste corpo de trabalho, que atualmente se encontra nomeado para Álbum do Ano nos E! Entertainment Television; People Choice Awards e Soul Train Music Awards; Melhor Álbum Pop/Rock e Melhor Álbum Soul/R&B nos American Music Awards; Melhor Album Dance/Eletronik nos Grammys, entre outros.

Concluindo, o regresso de Beyoncé à música (e brevemente aos palcos) ficou então marcado por uma nova abordagem, tanto do estilo musical, como da vida. A artista segue em frente firme, provando a todos que não se insere num único meio e numa única “caixa”. O seu trabalho só é limitado pela sua criatividade, que, mesmo estando na indústria há mais de 23 anos, continua a dar frutos e a surpreender o mundo. A artista provou-se mais completa do que nunca, recusando-se a perder a sua presença. A Queen B é mesmo “that girl”!!!

Fonte da capa: beyoncé

Artigo revisto por Inês Moutinho

AUTORIA

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Apesar de ser Pedro todos lhe chamam Alexandre, embora ele assine sempre com os três nomes (“porque é mais chique”).
Ingressou no curso de RPCE, porém a paixão pela escrita despertou-lhe o interesse em áreas como o Jornalismo, querendo manter desta forma um vasto leque de opções profissionais para o seu futuro, sobre o qual ainda não se decidiu concretamente. A sua personalidade extrovertida e a sua ambição são aspetos que o caracterizam e o impulsionam diariamente a dar o melhor de si em tudo, sonhando com um futuro promissor. Quando confrontado com a oportunidade que a ESCS Magazine lhe providenciou, não pensou duas vezes antes de se inscrever e tenciona tirar o melhor partido possível deste novo desafio.