Paus na sexualidade
Não é preciso sermos uma árvore para sabermos o que é um Pau Duro com Coração Mole, ou um pau mole de coração duro. Em muito estes trocadilhos, e não falando de galhos, transmitem os modos como podemos encarar uma atração. Assim, na exposição “ Pau Duro Coração Mole “ encontramos excertos de algo que nos é tão familiar como o sexo e o amor.
Ao que cada série poderia ser considerada arte erótica e simultaneamente não o é, uma vez que não apela apenas à imagem como estímulo sexual mas como estímulo do que é ser sexual e de como é encarada a sexualidade.
Os quatro artistas, são artistas no masculino, no entanto não torna a sua mensagem apenas para homens e para aqueles que são homossexuais. É usada a arte para mostrar a sua sexualidade que como em qualquer pessoa em introspecção desperta, estranheza, familiaridade, ternura, conflito e desejo.
O desejo, tem uma natureza selvagem, mas como o mar, igualmente fluído podendo ser despertado de inúmeras formas e de igual modo esvanecer. É o primeiro sinal de uma atração, sexual ou não. João Gabriel foca-se no desejo sexual que surge quando convidado a tal, como por exemplo por meio da pornografia. As suas pinturas, num registo de acrílico sobre papel rasgado e com pinceladas expressivas, nunca deixando a figura humana fundir-se por completo com o espaço envolvente, retratam cenas de pornografia gay dos anos 70/80. Percebe -se que é contada uma história e a partilha entre algumas figuras que por via de diferentes traçados, se fundem ou complementam.
Depois do desejo surge a estranheza, quer sejamos um pré-adolescente que estranha a vontade de se tocar, quer sejamos uma mulher adulta que estranha sentir -se atraída por A,B ou C. Na estranheza, revejo as obras de cerâmica de Thomas Mendonça. O curador da exposição com “SRY NOT SORRY” mostra-nos algo que à primeira vista causa estranheza pois tem formas que nos são familiares no entanto não se encontram no contexto estipulado. Do mesmo modo que “tampa com tampa / não fecha” (Ciclo Preparatório – Deixem-nos brincar em paz) , uma espécie de cacto rosa com mamilos, ou um homem que gosta de homens não soa bem e não bate bem aos olhos de muita gente na sociedade. No entanto, é de retirar que a natureza daquela figura é assim, seja uma simbiose de formas fálicas, animais entre outros é algo que é natural e intrínseco à pessoa.
As fotos analógicas de Rui Palma poderiam perfeitamente ser encontradas numa conta de instagram ou como excertos de stories. O seu conteúdo é tanto ousado, como romântico, misterioso, delicado e fetichista. A série tem como cenário espaços onde o sexo e a identidade são explorados, ao que é frequente a figura drag mesmo que nua, dildos e um jovem de quispo branco.
No entanto, a familiariade e a aceitação nem sempre são imediatas ou sequer opções.A obra de Christophe Dos Santos é aquela que por ser também num formato video e aúdio, vai captar mais a sua atenção. “Moda Chechena” – tradução do nome original – é uma vídeo performance em que está presente o conflito. O conflito não interior, mas dos outros para com a homossexualidade, em específico para alertar para a crueldade cometida na Tchetchênia com os tratamentos de electrocussão como método para “curar” a homossexualidade.
A exposição é de admissão gratuita e a galeria está aberta das 11h00 às 20h00. Uma oportunidade a não perder e ter outras perspetivas da comunidade LGBTQ.