Peças de Teatro: O lado político
Este artigo pertence à edição especial de janeiro – Disponível no site.
Apesar de ser uma vertente pouco falada, o teatro político desempenha, quando necessário, um papel de grande importância social. Sátiras, dramas, comédias – seja sob que formato for, a análise política de uma época ou nação pode ser um fator decisivo no rumo, por exemplo, de eleições.
Um dos pais deste conceito é, portanto, Bertolt Brecht – um dramaturgo alemão que resistiu através do teatro às forças nazis. Discussões sociais que até à altura se faziam apenas em papel, de forma hipotética e meio silenciada, ganharam vida através do pensamento marxista de Brecht. Neste contexto, é certo que se desenrolou uma nova forma de se construir e de definir a função do teatro que, para além do entretenimento, era e é uma forte ferramenta de informação e de debate social sobre os problemas que afrontam o público.
Foram peças como “Baal” (1918), “Drums in the Night” (1921), “In the Jungle of Cities” (1923), “Mysteries of a Barbershop” (1923), “Life of Galileo” (1938) e tantas outras que deram vida à noção de que o teatro pode ser muito mais do que entretenimento ou uma distração emocional. Aliás, pode ser uma fonte de debate, de aprendizagem e até mesmo de alerta social.
Tal como Brecht, vários dramaturgos até aos dias de hoje depositam nas suas obras mensagens sociais e políticas com o intuito de suscitar debate e de transparecer problemas que, aos seus olhos, sejam alarmantes. Embora os clássicos sejam, tal como o nome indica, eternos e insubstituíveis, existem muitas peças atuais que acarretam uma mensagem política igualmente importante e que, quer seja controversa, quer não seja, pode gerar um debate saudável e, acima de tudo, indispensável para a altura em que vivemos.
Por fim, aqui ficam algumas peças nacionais e contemporâneas que têm uma única coisa em comum: uma forte mensagem política.
Catarina e a beleza de matar fascistas, de Tiago Rodrigues
A crítica política é, neste caso, evidente, mas a história vai para além desta forte mensagem política: Catarina pertence a uma família cuja tradição peculiar tem mais de 70 anos. Qual? Matar fascistas.
Nesta peça, a família reúne-se numa casa de campo, no Sul de Portugal, perto da aldeia de Baleizão. Catarina, um dos elementos mais novos da família, está prestes a matar o seu primeiro fascista. “É um dia de festa, de beleza e de morte” é um dos lemas desta peça.
Contudo, Catarina é incapaz de matar. A tensão familiar faz-se acompanhar de uma série de questões ideológicas construídas para fazer o público pensar. “O que é um fascista?”; “Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor?”; “Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?”.
O novo Mundo, d’Os Possessos
Fonte: https://images.app.goo.gl/uJ3DFDj43Jf8iJH86
Trailer:
E se um grupo de millennials acabasse no deserto? É isso que se debate nesta peça: as questões de vida de uma geração que vive num limbo político e espiritual. O deserto representa um certo vazio que, nesta peça, se encaixa perfeitamente nos dilemas político-sociais e de evolução humana que este grupo de jovens descobre, numa forte aventura de ideais, através de um debate contra o amor, a morte e o deserto. No fim, resta apenas uma questão: estará esta geração pronta para sobreviver no medonho mundo que se aproxima?
DON JUAN ESFAQUEADO NA AVENIDA DA LIBERDADE, de Pedro Gil
NÃO discutimos a pátria, NÃO discutimos a autoridade, NÃO discutimos a família, NÃO discutimos o trabalho e NÃO discutimos Deus – Estes eram os cinco ideais do regime do Estado Novo. Pedro Gil leu-os pela primeira vez quando visitou a antiga prisão onde o seu avô esteve preso durante o período Salazarista. Esta comédia altamente satírica acompanha uma viagem rodeada de fantasmas históricos e as suas mensagens.
DEMOCRACY HAS BEEN DETECTED, de Diogo Freitas e Filipe Gouveia
“A democracia é a pior forma de governo, à exceção de todos os outros já experimentados ao longo da história.” – Winston Churchill
Em Vila Cheia as leis não existem. Nesta cidade ficcional, o mundo é pacífico, mas será que é mesmo?
Nesta peça existe um objetivo final: discutir a fragilidade do mundo como o conhecemos. O debate político e social de uma geração com os olhos postos no futuro, e que levanta a questão: que rumo é este que a humanidade tomou? A democracia chega aos ouvidos do público através de um grito de urgência e um pedido de ajuda mais do geracional: humano.
“Sócrates tem de Morrer” e “A Vida de John Smith”, de Mickaël de Oliveira
Esta viagem apresenta uma linha cronológica muito própria: Desde os últimos três dias de Sócrates na prisão, há um novo planeta do futuro, habitado por uma elite de almas reencarnadas.
“Sócrates tem de morrer” reinventa a figura de Sócrates e alguns dos seus fiéis amigos, que, enquanto Sócrates se encontra preso e à espera da morte, o tentam manter vivo e, se possível, até mesmo ajudá-lo a fugir. Através do debate e da retórica, este grupo desconstrói ideais como a política, a vida e a morte. Não existe uma resposta certa e os limites entre o bem e o mal são, afinal, muito ténues.
A Vida de John Smith, o segundo episódio, representa a vida após a morte, a reencarnação. O novo mundo precisa de ideias, precisa de um futuro. Está nas mãos destas personagens, agora reencarnadas, decidir quais os alicerces a construir. Será assim tão simples decidir o futuro de “uma” humanidade?
Artigo escrito por Andreia Simão
Artigo revisto por Bruna Gonçalves
AUTORIA
Se não estiver atrasada para algo, é possível que se tenha esquecido completamente. A luta por acabar o curso de Jornalismo está quase a chegar ao fim, contudo, ainda não decidiu qual das suas paixões seguir: A rádio ou a imprensa escrita. Por enquanto vai correndo de núcleo em núcleo! Porquê escolher só um?