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Pôr do Sol: Uma série a gozar com novelas

“Deixa-me dar-lhe qualquer coisinha, para ela também não ir assim toda desgraçadinha. Leva um maço de tabaco, meu amor.” Provavelmente, não sabes qual o contexto em que estas frases foram usadas e, com certeza, não adivinharias que foram utilizadas por uma mãe que se vai despedir de uma bebé. 

A história, no entanto, fica ainda mais confusa. Esta mãe, a Madalena, despede-se de uma das filhas gémeas perto de um rio, com uma música de guitarra de fundo, enquanto o seu amante e empregado, António, lhe pergunta se esta escolheu a filha certa, interrogando “tu já viste bem o nariz dela?”. Mas, pouco depois, o barco que leva a bebé explode, enquanto os pais assistem da praia.

Madalena e António jovens.
Fonte: TV 7 Dias

Esta é uma série da RTP, Pôr do Sol – um título que é repetido continuamente não só na música de abertura mas também ao longo dos episódios, pela voz do conhecido Toy. Não é só a voz do cantor que se ouve, este também aparece em todos os episódios, às vezes sem camisola na praia, enquanto canta as palavras “pôr do sol”.

Pôr do sol é uma série que goza com as novelas e com todos os seus estereótipos. As músicas cliché; as paisagens de campo com cavalos a correr; as filmagens sobre o rio; uma família rica com um enorme segredo; um dos elementos dessa família apaixonado por alguém da classe baixa, o que leva à luta por umamor impossível: assim poderiam ser descritos os ingredientes para a típica novela portuguesa.

A família Bourbon de Linhaça. Da esquerda para a direita: Madalena, Eduardo e Matilde, e o empregado da quinta, António.
Fonte: Espalha-Factos

Esta história é sobre a família Bourbon de Linhaça, uma família rica que mora em Santarém, na Herdade do Pôr do Sol. Construíram a sua riqueza devido à produção de cereja e aos seus cavalos, que são campeõesmundiais de corrida. A família é constituída pelos pais, Eduardo e Madalena, e pela filha, Matilde. 

Matilde vive um amor secreto com um dos empregados da herdade, Lourenço – filho de António, o antigo amante da mãe. Ou seja, este casal partilha o mesmo pai: um drama muito parecido ao livro Os Maias, de Eça de Queirós.

Filipa e um dos funcionários da revista Blaze.
Fonte: Espalha-Factos

Mas tal como já foi dito anteriormente, Madalena esconde um enorme segredo: a sua filha tem uma irmã gémea; a tal que ela abandonou no rio e pensa estar morta. Só que esta filha está viva e chama-se Filipa Martins. Foi acolhida por freiras quando foi encontrada à beira rio. É uma empresária implacável que trabalha numa revista de moda em Lisboa, a Blaze, e é uma das grandes vilãs do enredo.

Matilde e o tio.
Fonte: Unimado

Os Bourbon de Linhaça são também importunados pelo tio maléfico, que vai fazer de tudo ficar com a herdade. Este veste-se sempre de preto e completa a vestimenta com um copo de whisky, que parte constantemente nas mãos, nos momentos mais constrangedores.

A ação divide-se entre Santarém, Lisboa e Alfama. Neste bairro da capital, há personagens cómicas que representam o modo como são usualmente retratadas nas novelas – os alfacinhas. 

Fonte: Maria

Resumindo, são só clichés de novelas. A RTP pegou em todos esses elementos e exagerou-os ao máximo, com tantas frases caricatas, e com diálogos que levam os espectadores às gargalhadas; desde o nome do cavalo preferido da família ao padre do Nosso Senhor do Coisinho, passando pela frase da empregada “eu venho sempre aqui quando preciso de pensar ou fazer topless” ou pelo grito do pai Eduardo à mesa de jantar – “não podemos ter uma conversa sobre viagens e barcos como uma família rica normal?!”.

Além disso, há a “gémea boa” e a “gémea má”, a menina rica que se apaixona pelo menino pobre, uma filha secreta… tudo o que poderíamos esperar de uma novela dos canais de cabo. Estreou no verão de 2021, na RTP, e encontra-se ainda disponível na RTP Play. Chegou em junho ao catálogo nacional da Netflix e a segunda temporada é esperada para este verão.

Pôr do Sol é uma lufada de ar fresco. É algo original, que goza com uma narrativa rotineira. É uma narrativa absurda, exagerada e cómica.

É uma das melhores séries portuguesas dos últimos tempos, que promete deixar todas as gerações a rir.

Fonte da capa: Visão – SAPO

Artigo revisto por Andreia Custódio

AUTORIA

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A Matilde sempre sonhou em ser jornalista. Isto depois de ter desistido das suas aspirações de astronauta do jardim de infância, por estar sempre na lua. É apaixonada por histórias independente do formato onde estas estejam. Procurou a ESCS Magazine para contar algumas das suas. É licenciada em Ciências da Comunicação, e atualmente frequenta o mestrado de Jornalismo da ESCS.