Portugal não se cumprirá, obrigado
PEis uma lista de coisas que vão na cabeça da maioria dos miúdos do secundário: a próxima festa, a próxima bebida, o “alvo” amoroso atual (e próximos) e, até certo ponto, mas em pano de fundo, aulas e testes. Isto eles querem bem no fundo. O resto convém estar meio fundo, mas os vulcões hão-de entrar em erupção eventualmente. Miúdos e miúdas de 16, 17, 18 anos são terramotos com pernas e se nem eles sabem o que lhes vai na cabeça, muito menos os pais ou qualquer um. Eu apenas pressuponho: já lá vão esses tempos para mim. Ainda faço abalar, mas agora já não tem piada. Não é que em adolescentes tenha muita piada, mas acaba sempre por ser engraçado, até porque é, creio, a altura própria para tais parvoíces, quer as deixem no consciente, quer as verbalizem.
Por falar em vocabulário, posso garantir que o que não falta no palavreado jovem são putas, masturbanços (muitas vezes em termos ainda menos próprios do que o ato em si mesmo) e outros vulgos, e humor negro, com variadíssimas referências. Talvez pedofilia seja um pouco demais para muitos, mas depende da disposição de cada um. Por cada 200 fãs da Dua Lipa deve haver um fã de Anal Cunt. Se calhar até há crossovers (eu).
Não creio que muitos leiam regularmente, mas, com algum incentivo e alguma honestidade, muitos até acabam por gostar, apesar de poucos prosseguirem com o hábito, julgo. A não ser que tenham com quem falar sobre o conteúdo da obra-prima que estão a ler, quer seja “Guerra e Paz” ou o livro do Wuant.
Se há outra coisa que pré-adultos não gostam que lhes digam é não. É uma idade em que não há duplos negativos: números pares de nãos são nãos na mesma. Até pode haver alguma discórdia, desde que não haja desdém. O que não falta são guerras entre grupinhos. Para quando fãs de Dua contra fãs de Anal Cunt? Uma esbelta superpotência certamente dilaceraria uma milícia de bairro, mas o Vietname lá ganhou. Por outro lado, Hitler não era um homem muito sensível. Partam-me ao meio e mudo o meu nome para Coreia. Certamente não será pior que Lonô. Digo isto porque não aguentaria um confronto de titãs como esse, mas, como bom radical centrista que sou, creio que o convívio entre extremos enriquece o caráter. Será que os professores deviam ter liberdade para dizer isso aos alunos? Não, vamos omitir palavras más porque estamos no Estado Novo e o papá Salazar lê o nosso feed no Twitter!
A escola serve precisamente para desafiar-nos a pensar e a refletir sobre tudo, mesmo que os temas sejam controversos. Os nossos pais e familiares também devem contribuir, mas essa é apenas uma faceta da parentalidade, e já há muitas. Para além disso, muitos pais já vão com tanto brain fog para casa que só se querem sentar no sofá sem pensar em mais nada, e mesmo que tenham vontade, muitas vezes, não têm a embalagem para conseguir falar com miúdos (quanto mais velhos pior) sobre tais questões de forma esclarecedora. Se a escola não está disposta a fazer isso, mais vale andar a acartar paletes, porque aprender-se-ia mais, ganhava-se caparro, e aprendia-se sobre negócios, de forma a que, finalmente, cumpra-se o Portugal super-hiper-mega-ultra empreendedor com o qual todos sonham. Depois queixem-se que os putos de hoje em dia não gostam de ler.