Portugal sem Tino
Há quem diga que Aníbal Cavaco Silva tem sido um Presidente decorativo. Não é bem verdade. Chega até a ser injusto que se afirme tal coisa. Primeiro, porque se fosse para decorar, era preferível que os portugueses tivessem votado num bonito aparador – sempre era mais estético e ainda tinha alguma utilidade. E segundo, porque uma afirmação desta natureza menospreza relevantes ações deste homem. Não se pode ignorar a grandeza de feitos como o grande elogio às “agora maiores e mais saborosas” bananas da Madeira, de extrema importância para a motivação da produção nacional (e que más línguas defendem ter sido um meio de Pedro Passos Coelho ganhar tempo na sua governação em banho-maria), ou a sua recente – e, ao que parece, frustrada – tentativa de passar amigavelmente o testemunho da presidência a Marcelo Rebelo de Sousa, ao deixar-lhe uma leizita muito simpática e nada controversa para promulgar.
Se dúvidas restassem sobre a utilidade do homem que presidiu Portugal nos últimos dez anos, estas ficariam portanto dissipadas perante a constatação das suas brilhantes ações. Com tão exímio exemplo Presidente da República, não é de estranhar que o cargo se tenha enaltecido e parecesse agora mais fácil de exercer, despertando em muitos a vontade de se tornarem também um Chefe de Estado herói.
Tino de Rans, recentemente também conhecido como Vitorino Silva, queria, no entanto, ir ainda mais longe. Qual Zé do Telhado* em intenções, Tino não ambicionava apenas ser um herói do Estado; ambicionava ser o herói do povo e afastá-lo da cadeia alimentar dos “tubarões”. O candidato revelação das Eleições Presidenciais de 2016 reuniu mais de oito mil assinaturas em sete caixotes e num cesto de vindimas com um claro objetivo: trazer de volta a alegria e os sorrisos ao povo.
Prometeu e cumpriu! E nem precisou para isso de tomar posse como Presidente. Graças à sua campanha, nas duas semanas que antecederam o dia 24 de janeiro, Tino conseguiu que os sorrisos voltassem aos rostos dos portugueses. Popular entre os eleitores, o candidato tinha quase tudo para ser o próximo a chefiar o país. Só o slogan lhe estragou as contas.
Que Portugal precisava de Tino, não havia quaisquer dúvidas. Mas a simples ameaça de Portugal se vir a transformar num país com tino amedrontou os portugueses. A homonímia atravessou-se irremediavelmente no promissor futuro do antigo Presidente da Junta de Rans e arruinou-lhe a corrida a Belém. Tivesse Tino apostado no poderoso slogan “Vote no Tino, porque, de qualquer maneira, Portugal é um desatino!” e esta corrida estaria ganha.
Apesar deste pequeno contratempo, o candidato Vitorino Silva ainda conseguiu um poderoso sexto lugar, tendo mesmo chegado a roubar o quarto lugar de Belém a Maria durante algum tempo. A sua percentagem de 3,28% dos votos foi um bom resultado para uma candidatura presidencial de primeira viagem. No entanto, soube a pouco. Tino sonhava com “mais uma voltinha” disputada com o outro candidato mais popular junto do povo. É uma pena que nem tenha havido segunda volta…
A Joana Costa escreve ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
As imagens são da autoria da Marta Silva