Editorias, Opinião

Quando as pessoas não pensam

Na qualidade de pessoa que vive, sai de casa e se cruza com outros seres humanos no seu dia-a-dia, sou, como todos nós, forçada a lidar diariamente com a falta de respeito e consideração dos outros, com o egoísmo, com o simples “não querer saber”. Há as pessoas que saem das casas-de-banho públicas e não puxam o autoclismo; as que passam à frente dos outros nas filas de supermercado; as que gostam de falar muito alto no cinema, estragando o filme a toda a gente; as que atiram lixo para o chão… Mas, de todas, as piores para mim são as que estacionam nos lugares de deficiente sem terem o direito de o fazer.

Estou demasiado farta de chegar aos parques de estacionamento e ver os lugares para deficientes cheios com carros que transportam pessoas saudáveis e perfeitamente capazes de se deslocarem. Demasiado farta de ter de fazer o meu irmão andar mais do que consegue só porque há gente que acha que os lugares de deficiente são para todos. Esses lugares requerem o Dístico de Identificação do Deficiente por algum motivo.

Custa assim tanto andar um bocadinho até à entrada do centro comercial, da praia, o que for? Porquê ir ocupar lugares que estão designados para pessoas com dificuldade de mobilização? A impressão que me dá é que as pessoas pensam que estes lugares são um luxo, uma superficialidade, que os deficientes não precisam realmente de os utilizar; não pensam que estas pessoas têm de facto muita dificuldade em andar e que, além disso, precisam do espaço proporcionado pelos lugares para deficientes para conseguirem sair do carro – seja porque utilizam cadeira de rodas, seja porque precisam de espaço para executar os movimentos.

Além das pessoas que estacionam nestes lugares, há outras – essas, sim, provavelmente sem pensarem nisso – que acabam por prejudicar muito os deficientes. Estou a falar das pessoas que estacionam em cima do passeio. Apesar de ser proibido, parece que não tem assim muito mal, não é? A verdade é que, se chegar alguém numa cadeira-de-rodas, já não consegue passar. A pessoa vê-se obrigada a voltar atrás, fazer uma grande manobra e ir pela estrada, o que não só é muito perigoso como por vezes é mesmo muito difícil e exige um grande esforço, devido à altura dos passeios em relação à estrada.

Por favor, passem a estacionar com mais consciência. Os deficientes já têm demasiados obstáculos nas suas vidas para ainda lhes impormos mais, principalmente estes, que são perfeitamente evitáveis. Usufruam da vossa saúde, da vossa mobilidade, em vez de utilizarem (e roubarem) os direitos de pessoas que certamente prefeririam não precisar deles.

AUTORIA

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A Inês Rebelo tem 19 anos e está no primeiro ano de Jornalismo.
Começou a ler com 4 anos e a escrever as suas criações com 9, sendo que foi sempre esta a sua grande paixão. Fez teatro durante oito anos, gosta de ler e, embora não interesse a ninguém, tem três tartarugas. Também gosta de cantar, mas para isso não tem muito jeito. Na ESCS MAGAZINE integra as equipas de Correcção Linguística e de Literatura, e escreve com o Antigo Acordo Ortográfico.