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“Quanto mais alto se sobe maior é a queda” – o ano de 2023 do SL Benfica

2023 ficará na memória dos benfiquistas pela conquista do campeonato nacional, quatro anos depois. O ano encarnado fica também marcado pela inconsistência da equipa, que variou constantemente entre o melhor e o pior, dentro e fora de campo. Com prestações aquém das expetativas na Liga Portuguesa e na Champions League, nos primeiros meses desta temporada, a glória de 27 de maio parece cada vez mais distante.

Ícaro ganhou asas e quis voar cada vez mais alto, mas ao aproximar-se demasiado do Sol acabou por cair. O ano de 2023 do Benfica é a prova de que, por vezes, os mitos podem ajudar a descrever a realidade. A equipa encarnada entrava em janeiro com apenas uma derrota em toda a época e uma possível chegada à final da Champions chegou a passar pela cabeça dos adeptos encarnados mais otimistas.

O primeiro golpe nas asas do sonho benfiquista surgiu logo no último dia do mercado de transferências de inverno com a venda de Enzo Fernández ao Chelsea por 126 milhões de euros. Nenhum dos restantes médios do plantel tinha a capacidade de passe entre linhas e de remate exterior do argentino, e nem o ressurgimento de Chiquinho conseguiu mascarar as diferenças no funcionamento do meio-campo.

Esta alteração de dinâmicas, aliada à débil gestão do plantel, feita por Roger Schmidt, ajudam a explicar a quebra de qualidade nas exibições do líder do campeonato que se refletiu nos resultados do mês de abril. Derrotas seguidas com Porto (1-2), Inter (0-2) e Chaves (1-0) reduziram de dez para quatro pontos a vantagem para o segundo classificado do campeonato e traçaram o fim do sonho europeu do Benfica.

Ainda assim, as águias venceram cinco dos últimos seis jogos rumo ao seu 38.º campeonato nacional. O triunfo frente ao Santa Clara iniciou uma festa que ficou também marcada pela despedida de dois grandes obreiros da temporada bem-sucedida: Alejandro Grimaldo e Gonçalo Ramos.

Fonte: LUSA

Até à data, nenhum dos jogadores contratados para substituir os dois jogadores tem atingido as expetativas colocadas pelo seu antecessor. De resto, com exceção de Trubin, todos os reforços para a época 2023/2024 parecem não encaixar no modelo predileto de Roger Schmidt. As chegadas de Orkun Kökçü, antigo capitão do Feyenoord, e principalmente de Ángel Di María, deixaram os adeptos em êxtase, mas não se traduziram numa qualidade e consistência exibicional de uma equipa com os objetivos do Benfica.

A nova temporada até começou com a conquista da Supertaça contra o FC Porto, mas a derrota no Bessa no arranque da liga e a prestação desastrosa na Champions League fizeram soar os alarmes no Estádio da Luz.

Fonte: José Sena Goulão/Lusa

Atualmente, o Benfica está em terceiro lugar no campeonato, depois de dois empates seguidos, tendo somado apenas quatro pontos na fase de grupos da Champions League. Ainda assim, a vitória por 3-1 em Salzburgo, com um golo de Arthur Cabral no último minuto, garantiu a qualificação das águias para a fase eliminatória da Liga Europa.

Como é que em sete meses se vai dar glória ao desespero? O planeamento pobre da temporada, as lesões de jogadores chave e a gestão deficitária do plantel em certos momentos por parte do treinador ajudam a explicar a situação que hoje se vive de um lado da Segunda Circular.

Em 2023/2024 Roger Schmidt já tentou um sistema de três centrais com João Neves a fazer a ala direita, testou todas as possibilidades para a dupla de meio-campo e Morato é por agora o lateral esquerdo titular.

A falta de flexibilidade do alemão não é novidade, tendo sempre optado por construir um núcleo de 13/14 jogadores da sua confiança, em vez de promover uma maior rotação. Nesta temporada, a mudança para um modelo de jogo que favoreça as qualidades dos jogadores à sua disposição tornou-se inevitável.

O Benfica começou 2023 a voar perto do Sol, mas as asas foram perdendo força aos poucos. Resta saber quanto tempo mais vão aguentar.

Adeptos do Benfica a demonstrar descontentamento perante Roger Schmidt

Melhor jogador: Alejandro Grimaldo: 54 jogos, oito golos, 14 assistências. Numa temporada de grandes exibições individuais, o lateral espanhol foi o jogador mais consistente, contrariando críticas antigas sobre a sua falta de regularidade. A temporada estrondosa que está a fazer no Bayer Leverkusen (nove golos em 20 jogos) confirma o que a última época de águia ao peito denunciou: está no melhor momento da carreira.

Jogador revelação: João Neves: Do oito ao 80 em menos de um ano. O pequeno médio da camisola entalada nos calções apareceu para colmatar o espaço no meio-campo deixado por Enzo, mas acabou por reinventá-lo à sua maneira. Com um impulso fora do comum para a sua estatura, Neves é um box-to-box que recupera os anos 90, como se não tivesse nascido apenas em 2004. A internacional A e o Euro 2024 estão já ali.

Fonte da capa: Visão

Artigo revisto por Natacha Moreira

AUTORIA

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Desde miúdo que tinha duas paixões, a escrita e o desporto. Ao crescer percebi que combinar as duas áreas e tornar-me jornalista desportivo era o meu objetivo de vida. Gosto de dizer que fui criado por Pablo Aimar, Lionel Messi e Matías Fernández, dada a quantidade de horas que passei a vê–los distribuir classe e sonho pelos relvados. Tenho uma lista com duas páginas de estádios míticos que quero visitar e sim, a Bombonera está em primeiro lugar.