Música

Sabaton: Aprender história enquanto se ouve metal

Música pesada, riffs latejantes, bateristas furiosos, mosh pits e letras indecifráveis à primeira – todos eles aspectos que identificam o metal, tanto para fãs, como para quem não goste do género. Lições de história acerca de batalhas, coragem ou uma bravura cada vez mais rara na sociedade. À partida, estes parecem dois aspectos muito distantes um do outro, mas há uma banda que os une: os Sabaton.

A História

Nascidos em Falun, uma pequena cidade sueca com menos de 40 mil habitantes, os Sabaton foram criados em 1999. No entanto, da formação inicial, apenas permanecem o vocalista, Joakim Brodén, e o baixista, Par Sundstrom. Atualmente, o resto da banda é composto pelos guitarristas, Chris Rorland (desde 2012) e Tommy Johansson (desde 2016), e pelo baterista, Hannes van Dahl.

As Músicas

Na génese dos Sabaton está uma grande apetência para abordar acontecimentos históricos e batalhas militares. Exemplo disso é, desde logo, o nome da banda – um sabaton era uma proteção para o pé de uma armadura de um guerreiro medieval, usado a partir do século XIV. 

No seu website, a banda justifica a escolha deste nome por ser “simples, por se relacionar com os tópicos das canções e por evocar curiosidade nas pessoas”. 

Em relação às músicas e aos seus tópicos, The Last Stand é a introdução perfeita para qualquer pessoa que não conheça a banda.

Para além de ser uma das canções mais populares da banda, retrata a história da invasão de Roma, e do Vaticano, em 1527. Um exército de cerca de 20.000 homens, composto por mercenários alemães e espanhóis, invadiu a casa do Papa com sede de saquear a Basílica de São Pedro. Aos degraus da mesma, a guarda suíça do Papa Clemente VII, composta por 189 homens, repeliu com bravura a força invasora, dando tempo ao Sumo Pontífice de escapar pela passagem secreta até ao Castelo de Sant’Angelo, onde se pôde abrigar.

Em quatro minutos, o ouvinte aprende um acontecimento histórico relevante que não é ensinado na escola.

A banda tem uma especial inclinação para retratar os horrores da Primeira Guerra Mundial, como por exemplo:

  • Price of a Mile fala das condições desumanas das trincheiras.
  • Soldier of Heaven conta a batalha gelada e infernal que ocorreu nos Alpes.
  • Christmas Truce relata as tréguas não oficiais que soldados alemães e ingleses declararam no Natal de 1914, no qual conviveram e fizeram jogos.
  • Lady of the Dark é a narrativa deslumbrante de Milunka Savic, uma mulher sérvia que ocupou o lugar do seu irmão no exército e terminou como uma das pessoas mais condecoradas da guerra.
  • Great War é uma encapsulação da questão permanente na humanidade acerca da necessidade da guerra.  

Para além da produção musical, os Sabaton decoram-na com videoclips únicos – costumam produzir dois para as principais canções, um centrado em imagens, outro centrado nas letras da música.

Outra das características da banda é dar a conhecer factos históricos relevantes, não oferecendo apresentações subjetivas acerca dos mesmos (com algumas exceções)  – algo raro até mesmo em historiadores. 

Músicas como Ghost Division (que destaca a velocidade da força invasora alemã em França, em 1940) e Bismarck (um navio alemão, um dos maiores da Segunda Guerra Mundial) relatam feitos de guerra de um dos regimes mais sanguinários de sempre, sendo o objetivo da banda continuar a dar a conhecer factos históricos.

Em contrapartida, músicas como Rise of Evil (sobre a ascensão do nazismo) e Primo Victoria (um hino épico sobre a invasão e triunfo dos Aliados no “Dia D”) contam também o outro lado da história. 

O Som

Por mais interessante que a história de uma banda seja, a mesma não singra sem o talento musical necessário para se conectar com o público.

Na verdade, a fórmula para as músicas dos Sabaton não é demasiado complicada – nem precisa de o ser. 

Há, na generalidade das músicas, um contexto de epicidade trazido pelos tambores da bateria e por um coro feminino. A voz de Brodén é grave e potente, perfeita para contar histórias e complementar com o coro. 

As letras costumam ter refrões orelhudos, fáceis de aprender e, por isso, entoados em uníssono pelos fãs nos concertos.

Claro que também há solos de guitarra em todas as músicas, graças aos talentosos guitarristas Tommy Johansson e Chris Rorland. Estes passam para segundo plano com alguma – e demasiada – facilidade, dado o interesse das letras e de toda a intensidade da banda.

Outro fator importante são os sintetizadores – odiados pelos fãs mais “puristas”  de metal. Nos Sabaton, são eles que muitas vezes estabelecem a toada e o ritmo da música, no entanto, não são usados em demasia nem se sobrepõem aos restantes instrumentos. 

Relação com os fãs

Para um fã, não há nada melhor do que ter contacto com um artista que admira. Sente que, mesmo que da forma mais ínfima possível, o artista consegue ter um impacto na sua vida. Ora, os Sabaton proporcionam essas oportunidades diariamente.

Quem os segue e comenta com alguma frequência nas suas redes sociais, de certeza que acaba por receber uma resposta da banda. Desde simples elogios a pedidos de concertos nos mais variados países, ou até a sugestões de música, os Sabaton fazem questão de manter um contacto permanente com os seus fãs – supõe-se que não sejam os próprios músicos a responder, mas este não deixa de ser um esforço assinalável, que outros artistas musicais poderiam seguir sem grande problema. 

O website

Outro dos fatores diferenciadores dos Sabaton é o seu site oficial. Proporciona uma grande viagem pela história da banda, dos seus membros, discos e músicas, mas também da humanidade.

Todas as canções têm uma explicação e contextualização histórica disponíveis. Para além disso, na secção Historic Calendar destacam-se os principais acontecimentos da história em cada mês  do ano, relacionando-os com uma música da banda sobre o tema. 

Há também uma secção onde os fãs podem contactar a banda e sugerir temas para canções – algo praticamente inédito no mundo do metal.

Concertos

Com aparições parcas em Portugal (quatro concertos nos últimos dez anos), a última foi a fechar o VOA Heavy Rock Festival 2022, no Estádio Nacional do Jamor.

Como é habitual nos seus concertos, o baterista estava em cima de um tanque. O carisma de Brodén criou uma conexão com o público presente e o concerto proporcionou momentos deslumbrantes de pirotecnia.

Por todos estes motivos, os Sabaton são uma banda que se diferencia de todas as outras. Para fãs de metal, é difícil não gostar da sua música; para fãs de metal e de história, é difícil encontrar uma banda melhor. 

Fonte: Sabaton

Fonte da capa: Sabaton

Artigo revisto por Beatriz Merêncio

AUTORIA

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A Música sempre fez parte da sua vida. Após uma iniciação na música clássica, passou para o rock clássico de Rolling Stones e depressa se focou em bandas de hard-rock e metal (sendo Scorpions e Iron Maiden, respetivamente, as principais referências nesses campos). Hoje, gosta de ouvir um pouco de tudo, desde Mozart a John Coltrane, e desde Guns N’ Roses a System of a Down.