Opinião

SERÁ A EDUCAÇÃO UM RECURSO E O RESTO…O CURSO?

Dia 10 de janeiro de 2019, o jornal “Público” publicou um artigo que revelava que, segundo estudos da DGEEC, os alunos que ingressavam na área da Educação – que serão os futuros professores dos nossos irmãos/primos/filhos/netos – têm notas inferiores no exame nacional de Português – com uma média de 10,2 – às daqueles que pretendem ingressar na área da saúde – que têm uma média de 12,4.

A diferença não é assim tão drástica, mas o assunto continua a ser de extrema importância. Não só pela ótica abordada pelo artigo, mas também por outra: estará o ensino da nossa língua-mãe a deixar de ser considerado prioridade?

Não desvalorizando todas as outras áreas que são lecionadas no Ensino Secundário, o Português devia continuar a ser a maior prioridade. É a nossa língua, é a nossa origem e é, sobretudo, a forma como comunicamos.

É evidente que um médico precisa de dominar bem o português para que os seus pacientes o possam entender, mas não será ainda mais pertinente que um aluno que pretenda seguir a via do Ensino o domine ainda melhor?

Esta questão dos resultados do exame de Português está correlacionada com a questão do “é de Humanidades e no final do curso vai trabalhar para o McDonalds” e, se elaborássemos uma tabela cruzada para analisar em conjunto duas variáveis, a outra seria “as médias de entrada no curso de Medicina são superiores à de Educação e é por isso que quem tem média mais baixa concorre para Educação”.

Tanto uma como outra são absurdas: nem quem vai para Humanidades tem contrato garantido com o McDonalds, nem quem vai para Educação tem de ter uma média mais baixa do que quem vai para Medicina. Aliás, a média de Educação devia ser uma das mais elevadas.

O papel de um Educador é muito maior do que o valor que lhe dão. O professor complementa a educação que é dada à criança pela sua família. Condiciona, à sua maneira, os gostos e paixões do aluno e transmite-lhe valores e ensinamentos que o acompanharão não só no ciclo nem no liceu, mas para a vida.

Nem todos os jovens que concorrem para Educação o fazem porque a média é mais acessível do que para outros cursos. Fazem-no porque querem ensinar, porque querem ajudar crianças a entender o mundo, a matemática e o português. No entanto, muitos outros também ingressarão em cursos de Educação porque a média é, realmente, mais acessível.

A forma de contrariar isso é voltar a priorizar o Português. Quantas vezes, a estudar gramática, me perguntei a mim mesma: para que é que eu quero saber disto? Para poder falar com eloquência. Para saber onde e quando colocar uma vírgula. Para saber terminar um texto de forma correta. Para saber quando é importante utilizar um recurso expressivo para enfatizar aquilo que escrevo ou digo.

A forma de contrariar isso é subir as médias de entrada em Educação e aumentar a exigência do ensino português. Não pelos alunos que estão neste momento a tirar as suas licenciaturas e que realmente gostam daquilo que fazem – porque todos nós, estudantes, amantes da Academia, achamos que o nosso curso é que é O curso (e o resto recurso) –, mas pelos maus professores que todos tivemos. Pelo professor que faltava mais do que o aluno que chumbou por faltas no nosso 11º ano. Pela professora que achava que ver filmes nas aulas era mais importante que dar a obra de Eça de Queirós. Pelo professor que humilhava o aluno que chegava dez minutos atrasado à aula, mas que depois demorava dois meses a corrigir os testes. Não pelos alunos que estão a tirar Educação e que pensam: “só quero acabar este curso”, mas pelos que acordam todos os dias cheios de vontade de fazer aquilo para o qual nasceram – para educar. Para ajudar crianças e jovens, como eu, a crescer. E, quiçá, os próprios pais dessas crianças e jovens.

Portugal esqueceu-se, mas nós não: nunca se é velho demais para aprender. E nunca é demais a exigência no Ensino: só assim se formarão bons profissionais. Independentemente se se quer ser médico ou professor.

Fonte: Youtube Yale University

Foto “thumbnail”: Marcos Borga, Visão

Artigo revisto por Lurdes Pereira