Cinema e Televisão

“Shrek” Vs “Shrek 2″…De acordo com a ciência

Passados cerca de 2 meses desde o aniversário de 10 anos do lançamento da obra-prima de animação e enciclopédia “memeográfica” que é o Shrek e a dois meses do aniversário de 7 anos da sua igualmente genial sequela, Shrek 2, pensei em fazer o impensável… comparar os dois filmes para descobrir qual é o melhor!

É quase impossível negar o quão bom é o Shrek 2 enquanto sequela, porém, muitos não reparam na sua força enquanto filme individual. Na verdade, quando eu questionei a minha amostra gigante das cerca de 600 pessoas que me seguem no Instagram, 83 foram gentis o suficiente para me responderem qual dos dois preferem. A resposta foi chocante… O Shrek 2 ganhou com 68% dos votos.

Contudo, e por muito que aprecie a vossa participação, a vossa opinião é irrelevante! Nesta casa acreditamos em ciência e é com ela que iremos encontrar a resposta certa. Após uma longa e exaustiva pesquisa que consistiu em ler o primeiro resultado que apareceu quando pesquisei “critérios para analisar um filme”, recolhi as categorias que irei usar para analisar estes marcos de património cultural mundial.

Critérios super específicos e rigorosos:

  • Originalidade
  • Criatividade
  • Enredo
  • Personagens
  • Banda Sonora
  • Incentivo (qual dos dois incentiva uma maior mudança pessoal em quem assiste)

Avisos

Sublinho que, tal como a minha tentativa estatística anterior, isto não vai ser 100% rigoroso (chocante!) e, por muito que tente não ser parcial, provavelmente serei. Se não queres spoilers, vê só a parte a negrito!

Agora, agarra uma cebola, senta-te no teu pântano, escolhe o teu lutador e vamos a isto!

Originalidade

 É quase obrigatório que o primeiro Shrek ganhe esta categoria. Não só é a origem de toda a história, como também aquele que mais explora o universo em que se situa. O que quero dizer com isto? O Shrek 2, por muito original que seja, acaba por depender muito das referências geniais pop da atualidade contemporânea, adaptando-as para o universo do primeiro. Por outro lado, o primeiro distorce o mundo dos contos de fadas em que se situa de uma maneira completamente única e original.

Para além disso, uma das consequências obrigatórias de uma boa sequela é estender o universo apresentado pelo primeiro, ou seja, a sequela acaba sempre por estar dependente da originalidade do primeiro filme.

Em suma, por muito que adicione ao primeiro, o Shrek 2 deve a sua originalidade à base criada por Shrek.

Vencedor: Shrek

Fonte: Junkee

Criatividade

Ok, é aqui que começa a verdadeira batalha. O primeiro Shrek é extremamente criativo – um ogre vive sozinho num pântano que é o local escolhido por um príncipe para exilar várias personagens de contos-de-fadas. Para ter o seu pântano de volta, Shrek terá de salvar uma donzela para que o príncipe case com ela para se tornar rei. Essa princesa, porém, transforma-se num ogre todas as noites. Só esta sátira da cultura de contos de fadas seria suficiente para que se tornasse num dos mais influentes filmes de animação de sempre, mas adicionamos a isto elementos contemporâneos, críticas aos abusos de poder e o romance entre um Burro e um Dragão. Temos nas nossas mãos um dos filmes mais criativos das últimas décadas.

O que é ainda mais surpreendente é o facto de a sua sequela o conseguir superar. Para além de continuar a sátira dos elementos introduzidos pelo primeiro, o Shrek 2 tem a ideia genial de fazer uma paródia da cultura de Los Angeles e do capitalismo e triplica as referências e piadas. A Fada Madrinha é, na verdade, a líder de uma indústria que usa falso ativismo e privilégio para estabelecer a sua relevância e poder? E o seu filho é um agrobeto da Católica? Genial! Não me levem a mal, porque a cena do casamento do primeiro é brilhante, mas nem O Padrinho consegue vencer um Shrek humano em cima de uma bolacha gigante enraivecida a caminho do palácio real, para parar o plano malvado de uma Fada Madrinha que está a fazer uma cover do “I need a Hero”, de Bonnie Tyler.

E eu sei que não faz parte do filme em si, mas o segundo recebe ainda mais pontos pelo “Ídolos de Bué Bué Longe”, que é o melhor extra alguma vez posto num DVD.

Vencedor: Shrek 2

Fonte: Twitter

Enredo

O enredo do primeiro Shrek é bastante simples e eficiente – o típico conto em que um príncipe salva uma donzela com um twist: um ogre e o seu acompanhante equino fazem o trabalho sujo de um príncipe anão para pagar a hipoteca. O que vende o enredo, para além dos seus elementos satíricos, são as suas personagens icónicas e os eventos típicos de contos de fadas distorcidos, como o facto de a luta contra a dragão acabar num romance ou um casamento acabar em homicídio. O filme nunca é aborrecido e pouco podia ser adicionado ou retirado para o melhorar.

Contudo, o Shrek 2 mirou o céu e não terminou como o Icarus. O Shrek e a Fiona vão visitar os pais da mesma, no reino de Bué Bué Longe. Para além dos dramas familiares, Shrek e o Burro lidam com os planos maquiavélicos da Fada Madrinha; aliam-se ao Gato das Botas, um assassino contratado (PELO PAI DA FIONA); transformam-se nas versões mais atraentes deles próprios; são presos; escapam e criam uma Bolacha Gigante para conseguirem chegar ao castelo, no qual está a haver uma cerimónia de passadeira vermelha…

(pausa para respirar)

O primeiro é excelente, mas o Shrek 2 tem um ritmo melhor e é capaz de adicionar novos cenários, personagens e eventos de maneira organizada, provando que, às vezes, mais é melhor.

Vencedor: Shrek 2

Fonte: Pinterest

Personagens

O Shrek introduz-nos ao gang principal, Shrek, Fiona e Burro, e foi capaz de tornar até as personagens mais aborrecidas em memoráveis (se o Lord Farquaad tivesse mais do que 1,30m e o cabelo rapado, não viveria na memória coletiva, sejamos sinceros!). Além disso, foi neste que conhecemos um lobo em drag, três ratos cegos, o Bolacha, o Espelho mágico e uma bela pedra!

O Shrek 2 apresenta-nos duas novas personagens icónicas com a Fada Madrinha e o Gato das Botas, mas o restante não tem o mesmo impacto que o primeiro, mesmo que lhes entreguem o triplo da atenção que foi dada às personagens menos importantes que mencionei no parágrafo anterior. O Rei e a Rainha têm os seus momentos, mas não estão à altura do Lord Farquaad (badumtss!) e o Príncipe Encantado parece o tipo de pessoa que fuma IQOS às escondidas da mãe, porque não quer deixar cheiro no quarto.

Vencedor: Shrek

Fonte: Netflix

Banda Sonora

Eu sei que devem estar a achar esta óbvia, mas aposto que 90% de vocês não consegue dizer mais de três canções do primeiro filme, sem ser o “Believer” e o “All-Star”. Não me interpretem mal, porque a banda sonora é perfeita, mas a verdade é que as únicas canções que vivem na vossa cabeça sem pagar renda são estas (e talvez o “Hallellujah” e o “Bad Reputation”).

Por outro lado, toda a gente se lembra das canções do segundo, mas não se lembra dos nomes. Quantas vezes na vossa vida já disseram «Ah! Aquela canção do Shrek 2, hmmm hmm hmmm hm»? E isso é porque a banda sonora do segundo é bastante mais memorável e coesa. Desde a intro com o “Accidentally in Love” (que tem o videoclipe mais perturbante que já vi) ao “Funkytown”, que toca quando eles chegam a Bué Bué Longe, ao “Changes”, do Bowie, que toca quando eles mudam depois de beber a poção.

Talvez seja uma opinião controversa, mas nos meus ouvidos o Shrek 2 tem uma das melhores bandas sonoras da história do cinema e supera a do primeiro filme.

Vencedor: Shrek 2

Fonte: Twitter

Incentivo (qual dos dois expõem a sua mensagem da melhor forma e incentiva mudança pessoal no espectador)

Vamos agora entrar em território de análise. Ambos os filmes têm mensagens semelhantes e é difícil decidir qual deles é que a expõe da melhor forma.

Por um lado, o primeiro Shrek destruiu a ideia de quem pode ser um herói ou vítima numa história. Não é por não encaixarmos no molde de príncipe que não significa que não sejamos um herói de alguém e o mesmo se aplica a quem acha que a feminidade não pode coexistir com um lado mais duro e resistente. O Shrek todos estes anos criou um espelho para aqueles que acham que não são bons o suficiente para fazer algo incrível com as suas vidas, só porque não veem outras pessoas como elas a fazer o mesmo. É uma ode para aqueles que acham que o seu “lado ogre” é algo que deve ser salvo ou corrigido, quando na verdade sempre tiveram a capacidade de se salvarem a si próprios da toxicidade desta mentalidade.

Fonte: Geeks+Gamers

            Contudo, o Shrek 2 põe esta ideia em causa. Sim, é muito bonito pensar desta maneira, mas a verdade é que nem todos estão prontos para nos verem de maneira diferente, mesmo que nós sejamos capazes de o fazer. Se pensarmos, nem o próprio Shrek interiorizou bem as lições do primeiro filme e mudou-se fisicamente quando não conseguiu resistir à pressão. O segundo filme põe em prática as ideias do primeiro, ilustrando que vai sempre haver Príncipes Encantados que acham que lhes é devido algo por serem quem são e pessoas que se vão sentir ameaçadas por alguém que quer sair daquilo que é pré-planeado para elas. No final, Shrek vence não por beneficiar da sua beleza e por ganhar a rapariga, mas por encontrar amor próprio e perceber que, mesmo que tenha de lutar um pouco mais, também consegue ter um final feliz ao escrever a sua própria história.

            Considero, por isso, o segundo filme bastante mais impactante e capaz de incentivar mudança interior.

Vencedor: Shrek 2

Fonte: Looper

E o grande vencedor é o Shrek 2, com 4/6 pontos! Se têm problemas com os resultados, falem com o Galileu.

E não se preocupem que o Shrek é, e sempre será, uma obra-prima!

Artigo redigido por Bernardo Campos

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

Fonte da imagem de destaque: Screen Rant

AUTORIA

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Natural de Mafra, este estudante de jornalismo ainda não sabe o que quer ou vai fazer mas pode garantir que vai procurar respostas nas artes visuais. Amante de cinema, gostaria de um dia trabalhar em algo relacionado com a área, mas tal como foi dito anteriormente, ainda é uma incógnita… Talvez descubra no próximo filme! Gosta do escapismo e identificação que a arte nos traz, e acredita na importância de contar histórias sobre pessoas, quer seja numa série ou numa reportagem.