Somos seres humanos ou somos jogadores?
Se a vida fosse um jogo, Marta tê-lo-ia perdido. Fugiu de tudo, com medo de uma decisão que, por circunstâncias do destino, nunca foi tomada.
Jogo de Damas é um drama, escrito e realizado por Patrícia Sequeira, que teve a sua estreia em 2016 no Lisbon and Sintra Film Festival. É protagonizado por Ana Nave, Ana Padrão, Fátima Belo, Maria João Luís e Rita Blanco.
Neste filme são-nos apresentadas cinco mulheres, amigas de longa data, cujas afinidades se encontram ameaçadas ou apagadas por diversos segredos. Voltam a reunir-se no funeral de Marta, que, apesar de estar fisicamente ausente, está presente em espírito, até nas paredes da sua antiga casa, algures no Alentejo.
Este é um filme de atrizes, de mulheres, que preenchem um cenário limitado, operando como peões de uma peça prestes a ser encenada. A história, que parece simples por nunca se complicar, tem, por detrás, um processo complexo. “Isto começou como um jogo, um exercício para atrizes”, diz Ana Padrão.
Patrícia Sequeira confessou à revista Sábado que a ideia original surgiu de maneira clara: “Tinha vontade de trabalhar com estas cinco atrizes e construir uma história que servisse esse propósito. Tinha vontade de que este não fosse um processo normal – ter um guião e depois ir lá filmá-lo… quis convidá-las a entrar no processo de criação”.
O ponto central de todo o filme acontece quando Dalila (Ana Padrão) decide ler a carta que Marta deixou, mudando ali todo o rumo da história. O processo de leitura das cartas foi uma das partes mais emotivas ao longo do processo. Todas as atrizes tinham uma carta que só elas podiam ler.
O ponto alto do filme é assente no trabalho de criação envolto das atrizes, que, devido à sua afinidade fora das câmaras, acabaram por trazer mais de si às personagens e à amizade existente entre o grupo.
Os pontos negativos passam pelo facto de o filme se reger muito por aquilo que já é esperado, acabando por apenas cumprir aquilo que foi exigido, mas não mais que isso.
Apesar de tudo isto, é um filme que aconselho a ver. Devido não só à brilhante interpretação das atrizes, que se entregam de corpo e alma às personagens, mas também por ser um filme português que foge à tradicional comédia a que estamos habituados.
Revisto por Ana Rita Curtinha