Cinema e Televisão

Stonewall – Quando a ficção não respeita a realidade

Em 1969, a manifestação de Stonewall, em Nova Iorque, marcou o nascimento do movimento dos direitos LGBTQIA+ na esfera pública dos Estados Unidos da América e em torno de todo o mundo. Em 2015, Stonewall, obra de Roland Emmerich, baseou-se nos factos da vida real. No entanto, nem tudo correspondeu à realidade.

Controvérsia é a palavra que melhor descreve a longa-metragem protagonizada por Jeremy Irvine, que dá corpo a Danny, um rapaz que se muda para Greenwich Village, onde abraça, finalmente, a sexualidade que escondeu ao longo da sua vida. O drama ganha forma com a ajuda de Jonny Beauchamp no papel de Ray, uma personagem não-binária que se apaixona pelo protagonista, e Jonathan Rhys Meyers, Trevor, o interesse amoroso de Danny –  fechando, assim, o triângulo amoroso.

A ficção interceta a “realidade” quando os personagens criados por Roland Emmerich se encontram envolvidos no centro da manifestação de Stonewall. Contudo, a condução da narrativa de Jon Robin Baitz não reconhece os verdadeiros veteranos deste momento inesquecível da história da comunidade LGBTQIA+.

Fonte: IMDb

Durante a promoção do filme, as declarações do realizador levantaram exclamações de desagrado. Emmerich justificou a decisão de entregar o papel principal a Jeremy Irvine, um ator caucasiano e heterossexual, com base no seu straight-acting, capaz de alcançar a “maior audiência possível”. Esta forma de pensamento e atuação dá força e lugar à discriminação que existe contra a comunidade queer. Sendo este um filme com base num acontecimento tão importante para esta comunidade, parece que a própria foi anulada e colocada de lado, deixando o protagonismo para aqueles que representam o tradicional e clichê.

Na realidade, na madrugada de 28 de junho de 1969 uma manifestação teve início em frente ao Stonewall Inn, depois da polícia invadir o espaço e utilizar a força contra os presentes no local. À época, a homossexualidade era considerada ilegal em 49 estados dos Estados Unidos da América, e os membros da comunidade queer podiam ser presos de forma violenta, perseguidos e discriminados pelas autoridades que punham em causa o seu trabalho, finanças, relações pessoais, família e saúde. As pessoas transsexuais e não-binárias eram as mais perseguidas pela polícia, por “não vestirem roupa apropriada ao seu género”, tendo sido as mesmas que encabeçaram a revolução de 1969. Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson são algumas das referências mais marcantes deste episódio histórico. Ambas passaram completamente despercebidas na adaptação cinematográfica de Stonewall.

Fonte: esQrever

Depois de a comunidade queer se unir contra os polícias, os agentes refugiaram-se dentro do Stonewall Inn. Tijolos, garrafas e outros objetos foram arremessados contra o edifício que foi incendiado pelos civis, numa manifestação na qual as vozes pelos direitos igualitários gritavam mais alto.De um lado, os protestos violentos e destrutivos; do outro, a brutalidade e a injustiça contra a comunidade LGBTQIA+. Este foi o início da luta contra a discriminação de pessoas queer que todos os dias continuam a enfrentar as dificuldades e barreiras impostas pela sociedade heteronormativa.

Fonte: The Guardian

A 28 de junho de 1970, um ano após as manifestações de Stonewall, celebrou-se a primeira Marcha LGBTQIA+, para celebrar a diversidade desta comunidade tão colorida. Atualmente, à volta de todo o mundo, junho é considerado o mês do pride, isto é, “orgulho”, uma forma de festejar as verdadeiras essências de cada pessoa queer.

Fonte da capa: The New York Times

Artigo Revisto por Madalena Ribeiro

AUTORIA

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Perdidamente apaixonado pelo mundo do audiovisual. Adora procrastinar: ficar em casa, enrolado em mantas com uma caneca quentinha de chá enquanto vê um filme ou uma série é o seu passatempo preferido. Apesar de ser tímido, é através das palavras que consegue exprimir os seus pensamentos.