The Devil All the Time: Tanto Barulho por Nada
Mais um dia, mais uma estreia na Netflix. Desta vez trata-se de The Devil All The Time, ou Sempre o Diabo em português, um thriller ambicioso com nomes fortes de Hollywood. Baseado na obra homónima de Donald Ray Pollock, o filme, realizado por Antonio Campos, estreou no passado dia 16 de setembro e constrói ao longo dos seus 138 minutos o caminho para um clímax que nunca chega.
The Devil All The Time passa-se entre o fim da Segunda Guerra Mundial e meados dos anos 60 e conta a história do órfão Arvin Russell (Tom Holland) e da sucessão de eventos macabros e caóticos que ocorre desde a sua infância, na rural e extremamente católica cidade de Knockemstiff, Ohio. Knockemstiff, que adquire aqui uma dimensão muito maior: não é só apenas cenário, é também personagem. Passiva, assume o papel de observadora do caos e do espetáculo de horror que se desenrola. Pelo meio, há um polícia corrupto, um casal de serial killers, fanáticos religiosos e um pregador carismático e perverso. No fundo, todos os elementos necessários para mais um retrato estereotipado da América rural, que tem tanto de perturbadora como de fascinante.
Um dos problemas do filme de Antonio Campos, e talvez o principal, é o facto de termos várias personagens e enredos a acontecer ao mesmo tempo, sem que nenhum deles seja explorado de forma eficaz. A questão dos enredos paralelos não nos é desconhecida e nem sequer é sinónimo de flop. Já a vimos, aliás, em diversos filmes de Tarantino e o resultado é, como se sabe, nada menos que cativante. A diferença é que com Tarantino temos personagens icónicas que existem por si só e que ganharam o estatuto de cult. Neste caso, temos uma abordagem superficial e personagens esquecíveis, de uma só dimensão e iguais a tantas outras que existem e existirão. Uma pena para o elenco que, apesar de tudo, cumpre o seu papel sem falhas. No fundo, fizeram o que puderam com o que lhes foi dado.
Contudo, há espaço para um destaque positivo que vai, inevitavelmente, para Robert Pattinson e para a sua interpretação do pregador fanático Preston Teagardin. A personagem é um estereótipo com pernas: a história do “pregador fanático que condena veementemente todos os pecados e que na verdade é ele o maior e mais perverso pecador” já não é nova. Ainda assim, Pattinson vai além e acrescenta-lhe outra dimensão, tornando esta a personagem mais marcante de todo o filme. Talvez seja o sotaque inesperado, a interpretação muito física ou o carisma e presença inegáveis a que nos tem habituado.
The Devil All The Time é ambicioso, mas perde-se tanto na sua arrogância que não chega a ser eficaz. É uma mistura barulhenta, agressiva e caótica de peças soltas que nos deixa à espera de um final forte que nunca chega. É muito (demasiado) barulho por nada.
Artigo redigido por Madalena Ramos
Artigo revisto por Lurdes Pereira