Literatura

Treze e os devaneios a que deu origem

Treze é um romance adolescente de FML Pepper, no entanto não se resume a isso. Este livro conta a história de Rebeca, que, desde que o pai morreu, entrou em atividades ilegais com a mãe. Um dia vai a uma feira com a sua melhor amiga, Suzy, e ambas entram na tenda de uma vidente. Rebeca, sendo uma “vigarista” de profissão, é bastante cética quanto a esta vidente e tenta proteger a sua melhor amiga. Por ordem de sorte ou do destino, acaba por receber ela própria um conjunto de previsões e é avisada de que se não as seguir à risca terá uma vida miserável. Como o seu ceticismo dita, Rebeca ignora a primeira previsão e acaba por ter o destino que lhe foi dito caso não a seguisse, ficando assim preocupada com a possibilidade de as restantes se cumprirem também. 

Por outro lado – sendo esta uma narrativa na primeira pessoa com dois POV’s -, temos Karl, um boxer campeão que, após ter sido traído pela sua namorada da altura, sofre um acidente que o limita a níveis irremediáveis.

Um romance cheio de dúvidas e medos que acaba por se resolver de uma forma que, francamente, não adorei (opinião pessoal, atenção). A história em si é bonita, escrita de forma apelativa e tudo mais, no entanto o final dá uma espécie de “lição de moral religiosa” da qual não sou propriamente fã, contudo é de apontar que não “deslia” o livro por esta simples razão.

Passando ao devaneio, este livro toca em dois pontos que sempre tentei conciliar, mesmo sendo estes relativamente opostos: destino versus livre arbítrio. Rebeca acredita que está numa posição de controle, no entanto com o desenrolar das profecias, já não tem tanta certeza.

É sempre interessante pensar, independentemente das crenças que possamos ter, se realmente vivemos a nossa vida de forma livre e incontrolada ou se há, como muitos acreditam, um propósito e um destino feito à medida de cada um. Eu, pessoalmente, nunca consegui escolher nem uma opção, nem a outra. 

Como tal, encontrei um middle ground: pus a hipótese de haver efetivamente o conceito de destino, no entanto não apenas um. Todos sabemos que a vida é feita de escolhas, escolhas essas que são inevitavelmente finitas para cada dada situação. Pensemos então na vida como um vídeo-jogo (daqueles em que há vários outcomes possíveis – desculpem o meu conhecimento limitado da matéria). O nosso livre arbítrio entra na parte das escolhas – pois, mesmo com escolhas finitas, continua ao nosso critério que caminho seguir; e o destino representa-se como a combinação destas escolhas já premeditadas – seja pelo Universo, Deus, ou qualquer outra entidade superior a nós – que nos leva a UM dos outcomes que podíamos ter tido.

Francamente, acho que nunca chegaremos a ter uma confirmação de qual das hipóteses – destino, livre arbítrio ou a junção de ambos -, ou se sequer alguma das hipóteses, está certa. Mas como seres humanos é inevitável pensarmos nestas questões existenciais, questionando-nos se somos independentes e livres ou, no outro extremo, apenas arrogantes ao ponto de pensar que nós é que mandamos em qualquer coisa que seja dentro deste vasto Universo. 

Fonte da capa: Joana Costa 

Artigo revisto por Lara Alves

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