Literatura

Um Conto De Natal com uma lição no final

É ao frio e à neve da cidade de Londres, na véspera do Natal, que todos se preparam para esta noite: as donas de casa ocupam-se alegremente com os seus cozinhados, os homens, ansiosos, não veem a hora de voltar para casa, e as crianças perdem o sono só de pensar nos presentes. Apenas uma pessoa não parece estar feliz com o Natal: o velho Scrooge, um homem de negócios forreta, rezingão e solitário. Ele não percebe a razão de tanta alegria e inquieta-se, apenas, com a folga que terá de dar ao seu funcionário. É uma alma atormentada, tanto por rancores do passado como pelo sentimento de cobiça, que o preenche por completo. Ignora os seus familiares, empregados e não sabe o que é compaixão.

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Contudo, após receber a visita de dois homens que pedem a sua colaboração para realizarem boas ações para os pobres aos quais ele se nega terminantemente a ajudar por achar que já faz de mais ao pagar impostos, a versão fantasmagórica do seu ex-sócio Marley aparece-lhe, mostrando as correntes que ainda o prendem a este mundo. Marley conta-lhe o que está a passar, após ter morrido, por não ter praticado o bem durante a sua vida. Nesta visita, Marley avisa Scrooge de que irá receber a visita de três fantasmas – o fantasma do Natal Passado, do Natal Presente e do Natal Futuro. Temendo as consequências dessas visitas, Scrooge pede ajuda ao seu ex-sócio, mas este alerta-o que apenas a mudança da sua atitude o pode salvar de um futuro desolador como aquele que ele está a viver.

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O primeiro é o espírito do passado e leva-o para rever a sua infância, a criança que foi, as pessoas queridas que o rodeavam, como a sua irmã e o seu primeiro patrão. Vê o quanto as pessoas eram felizes e o quanto tentavam fazer as outras também felizes, embora não fossem ricas. Ele lembra-se do quanto era feliz.

Na segunda noite, vem o espírito do natal presente. Mostra como as pessoas não gostam dele e lamentam por ele ser tão ganancioso e vê que poderia fazer algumas pessoas mais felizes, mas não ajuda em nada. Sente que não é feliz.

Na terceira noite, Scrooge está já muito cansado e arrependido de tudo o que fez na sua vida e na vida das pessoas. Nessa noite, vem o último espírito, o espírito do natal futuro. Tudo o que o espírito lhe mostra é morte, solidão, uma tristeza infinita, uma falta de respeito até no final da sua vida. Afinal, ele nunca respeitou ninguém. Ao ver isto pede uma oportunidade para ser diferente, porque quer mudar o seu futuro. Quando regressa a casa, tudo não tinha passado de um sonho, pois percebe que ainda é véspera de natal. É então que a sua oportunidade para mudar chega. Resolve então mudar o seu destino ao dar alguns presentes, ao ir jantar com o seu sobrinho, ao tratar melhor o seu funcionário e ao viver mais feliz e contente consigo próprio.

Charles Dickens, escritor desta obra, consegue caracterizar as suas personagens tão bem que facilmente reconhecemos, quando lemos o livro, as falas de cada uma delas sem precisar de ver a indicação das personagens. Além disso, o autor sabe muito bem como mexer com as emoções do leitor: é impossível não odiar Scrooge, é impossível não sentir pena dele por ser um ser humano tão mesquinho, é impossível não se sentir confrontado com a intenção do autor de nos fazer perdoá-lo, mesmo após ele ter cometido tantos erros. Entretanto, há ainda personagens como o Tiny Tim e o fantasma gigante do Natal Presente que encantam desde a primeira aparição e que ficam na cabeça do leitor muito tempo depois de terminar a leitura.

Um Conto de Natal é uma história que leva o leitor a observar a postura que algumas pessoas de classe superior têm em relação a uma classe mais desfavorecida, como alguns deles exploravam as crianças ao fazer com que realizassem trabalhos infantis e tudo isto é contado pelo autor, que usa a sua própria experiência de vida. Tenho a certeza de que quem procura uma boa história vai adorar ler este clássico, que, mesmo com a palavra Natal escrita no seu título, possui um conteúdo atemporal que deve ser lido independente da época do ano.

Um Conto de Natal é uma das mais belas e conhecidas histórias de natal. Escrito em 1843 por Charles Dickens (1812-1870), este livro foi um sucesso imediato. Por meio da sátira social – adaptada diversas vezes ao cinema –, Dickens teve um papel fundamental ao recuperar o espírito de bondade e solidariedade das tradições natalinas.

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