Editorias, Opinião

Uma vida sem viver

Uma relação deve basear-se numa reciprocidade de sentimentos, de confiança, de respeito e na garantia de um sentimento de segurança. Porém, esses sentimentos podem por vezes ser quebrados, e quando tal acontece qualquer relação deveria deixar de existir. No entanto, existem casos em que isso não acontece. Quando decidimos que queremos estar com alguém é porque essa pessoa nos faz sentir bem e nos trata como merecemos. Devemos sentir que essa pessoa nunca nos vai fazer sofrer e que vai impedir que algo ou alguém nos magoe; infelizmente, nem sempre isso acontece.

Pode começar com palavras que são ditas no calor do momento, palavras ofensivas que nos fazem sentir como se fôssemos nada nem ninguém. Pode-se pensar que palavras são simplesmente isso mesmo e que não podem ferir ninguém, mas a violência não são apenas atos físicos. Existe a violência verbal: coisas que são ditas e que fazem uma pessoa acreditar realmente que é tudo aquilo que está a ouvir, coisas que nunca deveriam ser ditas pela pessoa com quem partilhamos tudo, a pessoa em quem confiamos para nos fazer sentir bem e seguros e que tem o poder sobre os nossos sentimentos. A pessoa que nunca imaginaríamos que nos fosse fazer sofrer acaba por ser aquela que nos destrói, e tudo por umas simples palavras.

Seria de pensar que, quando alguém se vê perante uma situação de violência verbal por parte da pessoa com quem tem um relacionamento, isso bastasse para tomar a fácil decisão de abandonar esse tipo de relação tóxica. No entanto, as vítimas têm tendência a culpabilizar-se e a acreditar que tudo aquilo que estão a ouvir, que as deita abaixo por completo é a realidade e que não têm outra opção se não justificar a pessoa que amam e aguentar.

Contudo, o fato de se manterem na relação que as atormenta é uma espécie de permissão para que a violência continue e se agrave, e é aí que se torna possível que as palavras passem às ações. Quando isso acontece não há maneira de voltar atrás. A relação que outrora trazia segurança e felicidade torna-se uma prisão de momentos aterrorizadores em que as vítimas chegam a temer pela sua vida, mas ao mesmo tempo temem cada vez mais deixar a pessoa que as brutaliza devido às repercussões que possam surgir.

Nunca nenhuma pessoa deveria sentir-se aterrorizada ao lado da pessoa que ama, mas enquanto vítima essa pessoa sente-se sozinha e sem opção ou escapatória possível. Por essa mesma razão existe a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima), que assegura fazer de tudo para ajudar as pessoas que estejam a sofrer de violência doméstica. Se alguém souber de uma situação que se esteja a passar, ou mesmo a própria vítima, podem contactar a APAV e só isso pode mudar e até mesmo salvar a vida de alguém.

Estar numa relação com alguém é respeitar essa pessoa e fazê-la sentir-se bem e segura. Não são só os atos que são considerados violência, as palavras podem ser igualmente maneiras de magoar alguém e causar danos psicológicos. Antes de dizermos ou fazermos algo a alguém em momentos de zanga ou de raiva temos de pensar como é que vamos afetar essa pessoa. Vamos estar atentos a situações que possam vir a ser casos da APAV e vamos impedi-las. Toda a gente merece sentir-se amada e segura.