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«Vamos competir contra monstros. E fomos»

A chave para o sucesso é o que está para lá do óbvio. Fora do esperado, à frente do ortodoxo, quatro caloiros de Publicidade e Marketing ganham o título de Jovens Líderes do Futuro 2015. Para trás ficam os cursos de gestão e ciências empresariais das grandes universidades (públicas e privadas). Viva o politécnico?

A quem se pode atribuir o sucesso? O que faz de Hugo Veiga o melhor publicitário do mundo? Será que a chave está na formação dada pela Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) ou, pelo contrário, o segredo reside no poder que esta escola tem de atrair pessoas singulares? Isto não é uma entrevista normal, em que apenas o jornalista põe as perguntas, mas também estes não são entrevistados normais (e o que é ser normal?). Assim, nas próximas linhas, fiquem a conhecer os quatro «sonhadores» que um dia se inscreveram na ESCS e acabaram a dominar o maior torneio universitário de liderança em Portugal em menos de dois meses.

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Algures nas catacumbas da ala dos professores da ESCS, arranjámos uns sofás e fomos falar com os 4 Marketeiros (os mesmos cuja vitória acompanhámos aqui. Inês Agostinho, Helena Rita, Pedro Almeida e João Pereira vêm dos quatro cantos do país. Estão em turnos diferentes, mas estudam em conjunto. Esperam ficar juntos no futuro, para fazer os trabalhos de grupo: «se funcionou da outra vez, pode funcionar no futuro». Até porque, é juntos que trabalham melhor: «se é de quatro, contem connosco!»

Admitem que o seu mundo é cor-de-rosa e que sonham muito alto. Mas, até hoje, serem sonhadores não lhes tem trazido más memórias. Nenhum deles quer ficar em Portugal, mas não descuram a ideia de vir a criar uma empresa.

Acham que o curso vos vai ajudar a ganhar mais concursos? Os finalistas não ganharam e vocês, com dois meses disto, vencem o nacional…
Helena Rita (HR): Acho que nenhum de nós sabe, nem quer saber (risos).

Inês Agostinho (IA): Se a criatividade tiver nascido connosco, acho que não a vamos perder por causa de um curso. Ou o empreendedorismo. Acho que não nos prejudica; aliás, acho que até complementa um bocado.

Não acham que vão ser formatados para pensar de determinada forma?
IA: Em certa parte, sim, mas não creio que isso afete o nosso modo de trabalho.

HR: Eu acho que não.
Pedro Almeida (PA): O facto de já termos participado neste concurso foi quase como um conceito de, no futuro, mesmo que tenha “bué” termos técnicos sobre marketing e publicidade, continuarmos sempre com uma veia criativa. É basicamente um aviso: «continuem assim, mas no futuro vão saber um pouco mais».

Que preparação tiveram para o evento nacional?
HR: É sempre essa pergunta (risos). Foi cerca de uma semana, aproximadamente três, quatro horas com os professores do departamento de marketing, lá em baixo onde nós passámos, nomeadamente a professora Alexandra David, a professora Helena, o professor Manuel Batista e o João de Barros, de vez em quando.

Nós preparámo-nos mais no sentido de conhecer as empresas [EDP e Jerónimo Martins], saber onde é que elas investem atualmente para nós seguirmos sempre a mesma linha que elas usam – apesar de não termos feito nada disso (risos). Mas tentámos seguir sempre essa linha. Nós não procurámos soluções, procurámos perspetivas diferentes de ver as empresas. Porque cá [no evento local], não tivemos preparação – só nos inscrevemos dois dias antes do acontecimento! Desta vez já nos deu mais margem para ter preparação, até porque tínhamos de mexer em orçamentos e termos técnicos, com empresas também com outro grau de importância e isso exigiu mesmo esse trabalho.

Acreditaram logo que iam ganhar?
João Pereira (JP): Não.

IA: Mais ou menos… O ambiente da fase nacional era muito diferente. Era mais pesado, muito mais competitivo e nós não sabíamos bem que expectativas ter, o que achar porque, não é que estivéssemos inseguros, mas nós somos do primeiro ano e eles eram pessoas de universidades ligadas a cursos de gestão, como o ISCTE…

PA (como voz de fundo): Economia, engenharia, farmácia…

IA: Foi uma sensação estranha. Nós por um lado estávamos: «a EDP correu-nos bem, vamos ganhar», mas cinco minutos depois já estávamos a dizer «não vamos ganhar nada, somos uma porcaria». Foi um bocado bipolar esse dia.

HR: Foi até o feedback que nos deram: acharam-nos muito engraçados, íamos com as camisolas todas iguais, «ah, são tão únicos», mas foi mais naquela de gozarem. «Isto vem cá qualquer um» e assim. Também houve indícios. A equipa da [Faculdade] de Farmácia ganhou o primeiro desafio, depois a Farmácia ganhou o segundo desafio e ficámos a pensar que já tinham ganho eles. Mas depois há sempre aquela reviravolta.

Acham que o que vos fazia ser diferentes era o facto de serem os únicos vindos de uma escola de comunicação?
HR: Eu acho que não.

JP: Sim. Sim, sem dúvida. Acho que sim.

HR: Achas que sim? Nós somos de comunicação há dois meses, tens de ter isso em conta; não é a faculdade que define a pessoa.

JP: Mas é a pessoa que define a faculdade.

IA: Tu não vais para gestão sendo criativo.

HR: Não tem nada a ver com isso, João. Também ganhou a da Farmácia! E farmácia não tem nada a ver com aquilo! A criatividade nasce com a pessoa, não com a Faculdade. Não é a Faculdade que te incute a criatividade.

JP: OK. Mas deixa-me dizer o que eu te queria dizer: é muito mais provável que alguém supercriativo, que tenha essas ideias e tudo mais venha para uma escola de comunicação social, por exemplo, do que vá estudar Economia para o ISEG.

HR: Eu vou ser clara: tu só vieste para comunicação agora. Sempre foste criativo, certo? As de Farmácia também não têm nada a ver com comunicação e ganharam!

JP: OK… Se a escola nos ajudou a ganhar a fase nacional? Sem dúvida, pelos professores e pela fase local. Agora, se nos ensinou coisas fulcrais para que conseguíssemos vencer os desafios se calhar já não.

IA: Até porque não estamos aqui há tempo suficiente para isso.

PA: Foi também a nossa personalidade.

IA: Sim, creio que nós éramos um bocadinho mais criativos que os outros. É como o João: eles são mais virados para a gestão, engenharia… Coisas muito pesadas!

PA: Nós estávamos mais para fazer os briefings, resolver os desafios, falar uns com os outros. E os outros estavam mais ali… [desenha uma caixa com as mãos]

IA: Sim! Nós éramos os comunicativos.

HR: A ideia com que eu fiquei foi a de que a nossa personalidade não cabia naquele espaço. Aquilo parecia um lar da terceira idade, para ser honesta (risos). Um bocadinho mais competitivo e tal… Nós estávamos ali muito: «Vamo-nos divertir, sempre a sorrir, bem-dispostos, sempre a fazer perguntas impertinentes. A rir, a falar com os apresentadores».

IA: Os outros eram muito mais formais.

PA: Nós éramos o reggae, ali mais à vontade, e os outros eram o fado, mais rígidos.

Acham que isto prova que o futuro das empresas está na comunicação e não nos números?
PA: Não tanto na comunicação mas mais no empreendedorismo.

HR: Epá… Se dizes isso a um departamento de marketing (risos)…

IA: Eu concordo [com o Pedro Almeida].

JP: Mais no empreendedorismo, que pode vir de qualquer área, sem dúvida.

PA: Empreendedorismo engloba comunicação, criatividade, marketing, personalidade, trabalho em equipa…

IA: Acho que era disso que eles estavam à procura.

PA: Foi por isso que nós ganhámos: eles não queriam saber se sabíamos tudo ou não.

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De que é que tinham medo?
JP: Do facto de estarmos contra equipas que já de si foram vencedoras das respetivas fases locais. Ou seja, já houve uma triagem enorme, todas as pessoas que estão ali já venceram provavelmente mais de vinte equipas. Portanto, achávamos que estávamos a ir contra monstros. Vamos ter os melhores dos melhores de todas as faculdades ali.

IA: Aliás, nós dissemos isso antes: «vamos competir contra monstros!». E fomos.

Tiveram alguns obstáculos?
IA: Os desafios eram “bué” mais difíceis… Se o desafio da EDP fosse só, por exemplo: «crie a EDP do futuro»; mas não, nós tínhamos uma série de objetivos e de entraves. Limitavam-nos muito e tínhamos de ter uma ideia genial com aquilo que eles queriam. Eu pelo menos achei. Quando a Jerónimo Martins lançou o primeiro desafio ficámos um bocado: «ah… OK, ideias, concentrem ideias!». Ficámos: «WTF?» – desculpa a expressão. Não estávamos nada à espera de que fosse tão difícil.

HR: Cá vieram agências de publicidade, que estão sempre à procura de algo inovador. Lá fora [no Museu da Eletricidade], como era um pouco mais abrangente, como tinha gestão, economia, não fazia sentido estarem à procura daquelas ideias todas explosivas que mexem com a comunicação, com os quatro P [Produto, Preço, Praça e Promoção], não fazia algum sentido. Por isso lá foram mais… Tocava um pouco em todas as áreas, na economia, na gestão, no marketing; mas era mais abrangente, ou seja, não era tão fácil dizer: «ah, temos de fazer isto, temos de fazer aqueloutro».

Como foi a reação dos «monstros» que estavam à vossa volta quando ganharam?
(risos)

HR: Foi de se pagar!

JP: Aquele olhar de: «Epá, não acredito que foram estes gajos que ganharam!». Todos devem ter pensado o mesmo: «nós viemos aqui, estamos aqui todos bem vestidos, fizemos tudo o que era suposto, vencemos as fases locais e agora são aqueles gajos que ganham!?». Mesmo que estivéssemos vestidos da mesma maneira que eles, ia haver sempre aqueles olhares. Mas é normal que aconteça. Nós se calhar também passaríamos por isso um pouco se tivéssemos perdido.

IA: Aliás, eles ficaram tão chateados que, no palco, havia um género de peças de xadrez. Eles roubaram! O cavalo!

(risos)

HR: A reação ainda piorou mais depois de estarmos em cima do palco. Naquele fervor do entusiasmo dissemos sempre que há dois meses não pensávamos estar ali.

JP: Quando dissemos que éramos de primeiro ano! Pelo facto de sermos de uma escola de comunicação e não de gestão nem nada…

HR: Houve pessoas que vieram do Porto, de Coimbra… Vieram cá e perderam.

IA: Nós parecíamos até um bocado deslocados, ali num mundo à parte. Eles eram todos muito competitivos, muito formais, pesados, gestão, economia. E nós éramos os divertidos, os lunáticos… Os jovens líderes do futuro 2015!

HR: Éramos os autistas…

(risos)

IA: Éramos um bocado autistas em relação aos monstros.

Acham que vão ser os próximos tubarões do ‘Shark Tank’?
(risos)

JP: Sim!

HR: Eu tenho medo de tubarões, por isso…

JP: Se calhar não… Se calhar não vou estar tão interessado em dinheiro, mas…

IA: Depende do que estás a perguntar. Se te estás a referir aos tubarões como empreendedores, sim, somos uns “sharks” pequeninos que aqui andam. Somos uns peixinhos, nem somos tubarões. Agora, se te estás a referir mais à parte de…

JP: Dos magnatas?

HR: Tipo Monopólio?

(risos)

Como é que o mercado de trabalho vos vai receber?
HR: Se é que nos vai receber um dia…

IA: Como uma mulher recebe o marido quando vem da guerra!

(risos)

IA: De braços abertos…

HR: …e a chorar!

IA: Acho que vamos ser bem recebidos, mas não pelo nosso canudo. Não pelo nosso currículo, mas pela nossa personalidade e maneira de ser. Nós somos muito ativos, já deves ter reparado. Temos genica, ainda somos muito jovens, muito inocentes, muito apaixonados por tudo o que fazemos e acho que isso é bom e uma mais-valia. Mais do que termos 18 como média final de curso ou tido quarenta trabalhos é esta vontade de querer ser e querer fazer.

PA: Nós somos uma banana verde que vai crescer e tornar-se grande…

(risos)

Vocês vão sair daqui com uma coisa que os vossos colegas não têm. Estágios garantidos…
HR: Estágios garantidos, incubação… Uma visita ao Oceanário grátis! – isto é o mais importante de todos.

PA: Até pensámos em pedir uma para ti…

HR: Mentirosos!

(risos)

Um por todos e todos por um?
IA: Sempre.