Opinião

Dia da liberdade de informação: testemunho de uma (futura) jornalista frustrada

Hoje, dia 16 de março, celebra-se a liberdade de informação. Sabemos que, nos dias que correm, existem datas comemorativas para qualquer coisa, seja para celebrar a nossa família, os nossos animais, o nosso país ou até para nos lembrarmos dos acontecimentos mais trágicos. Não direi que não concordo com tais celebrações, até porque considero importante não deixar cair no esquecimento as datas mais relevantes. E esta é uma daquelas que julgo ser crucial, pelos menos para mim.

Quando, aos 15 anos, decidi que queria ser jornalista, acredito que tinha como grande objetivo saciar a minha vontade de mudar o mundo. Sim, nós, (futuros) jornalistas, temos esta mania de querer tornar o mundo num lugar melhor, correr atrás da verdade e trazê-la para quem nos ouve e para quem, tal como nós, gosta de conhecer a história do outro. À medida que fui crescendo e que fui definindo que tipo de pessoa e de profissional queria ser, apercebi-me de que, como em tudo na vida, nada se assemelhava ao mar de rosas onde eu achava que tinha mergulhado. Foi aos poucos que fui descobrindo o outro lado da moeda, aquele que ninguém nos conta.

Fonte da imagem: www.anf.org.br

Achava eu que o lápis azul tinha sido deixado na época da ditadura portuguesa, quando, numa breve pesquisa, percebi da pior maneira a embrulhada onde me tinha metido. Num artigo que li no CPJ Commitee to Protect Journalists –, deparei-me com a informação de que são ainda vários os países que praticam todos os tipos de censura. Na Eritreia, por exemplo, um país situado na África Ocidental, o presidente, Isaias Afewerki, obteve grande êxito na campanha que criou com o intuito de esmagar o jornalismo independente, acabando também por gerar um clima bastante opressivo para todos os órgãos de comunicação. Já na China, apesar dos milhares de utilizadores de Internet, o “Grande Firewall” continua “em ação”, bloqueando sites considerados perigosos e controlando os media. Nestes países, onde a tecnologia é bastante avançada, as restrições à Internet são combinadas com a ameaça sob penas de prisão, de modo a assegurar que as vozes críticas do online não ganham qualquer tipo de vantagem.

Já em Portugal, a situação não é assim tão preocupante, apesar de, neste tipo de casos, nunca ser boa ideia celebrarmos conquistas que não se sabe quanto tempo podem durar. No ranking de países com maior liberdade, o nosso encontra-se agora em décimo lugar entre os 180 estados avaliados pelos Repórteres Sem Fronteiras. No relatório lê-se: “mesmo que os jornalistas portugueses sejam mal pagos e a insegurança no emprego esteja a aumentar, o ambiente jornalístico é relativamente calmo“. Nem tudo é mau, portanto.

No entanto, colocando-me no lugar de futura profissional de comunicação e sabendo que o meu dever passa por combater a censura e o sensacionalismo e lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar, fico um pouco assustada por saber que, provavelmente, não poderei cumprir com aquilo que é o meu trabalho, por medo ou receio das represálias que possa vir a sofrer.

Sei que realidades utópicas não existem e que viver num mundo perfeito seria sinónimo de todos terem direito à informação fidedigna, sem controlo ou limitação, e de saber aquilo que se passa ao seu redor. No entanto, custa-me pensar que tudo aquilo que tinha imaginado que seria enquanto jornalista vá por água abaixo por existir quem nos queira calar – ou pior, por existir quem queira viver num mundo de pessoas desinformadas, influenciáveis e sem pensamento e ação próprios.

Por isto e por muito mais, considero crucial que esta seja uma das datas que se mantenha no nosso pensamento. Não só por aquilo que nos custou a ganhar, a nós portugueses, mas também por todos os países que sofrem com a falta desta liberdade de informação e que não têm o prazer de ver a vida como ela é, mas como querem que a vejam.

Atualmente e segundo o CPJ, cerca de 250 jornalistas em todo o mundo estão atrás das grades. Não nos esqueçamos de que a liberdade de informação é um essencial à democracia. Não a deixemos morrer.

Fonte da imagem de destaque: laicismo.org

Artigo revisto por Ana Janeiro

AUTORIA

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Com quase duas décadas de vida, aqui vos apresento a rapariga mais extrovertida que possam vir a conhecer. Nascida e criada na margem sul, sítio onde são feitos os sonhos, garante que tem uma mão cheia deles. Foi na área da comunicação que encontrou o melhor que a vida lhe podia oferecer – a oportunidade de conhecer histórias e de contá-las a quem mais as deseja ouvir. Prazer, chamo-me Margarida.