Opinião

A realidade guiada por uma série

Não é novidade que a era digital nos trouxe imensos malefícios e assuntos que, rapidamente, se tornaram numa preocupação nos dias de hoje. Não vamos negar que esta coisa de ligar um aparelho e acedermos tão facilmente a informação, minimamente, fiável, a conteúdos de entretenimento incríveis e a outros programas aos quais eu chamo “pastilha elástica para o cérebro” são vantagens incríveis desta era. No entanto, como um dos meus guilty pleasures é dizer mal de tudo (sempre de forma consciente), assim o farei.

Desde miúda que gosto de ver filmes e séries. Assim que comecei a consumir este tipo de conteúdo foi um instante até se tornar num vício. Desta forma, não me espanta quando vejo jovens adolescentes, e até mesmo crianças, a terem o mesmo comportamento que eu tive com a sua idade.

É fácil ouvirmos os graúdos dizerem que no tempo deles é que a infância era aproveitada e que as brincadeiras eram melhores do que as de hoje em dia. Não consigo concordar a 100% com esse mote, uma vez que o ser humano evolui e o seu comportamento também. Nada é estático, nem nada o deve ser. No entanto, considero que esta coisa de deixarmos os miúdos (e, por vezes, até os mais velhos) terem acesso a qualquer tipo de conteúdo, e com tanta facilidade, não é saudável. É neste ponto que está a minha preocupação e perturbação em relação ao tópico.

Não sei se estão recordados de um caso nacional chocante que ocorreu em abril do ano passado, em que duas mulheres mataram e decapitaram o amigo para lhe roubarem 75 mil euros. Crimes como este acontecem, infelizmente, todos os dias. No entanto, aquilo que mais me surpreendeu em toda a história foi o facto de se terem inspirado numa série policial para se livrarem do corpo. A série eleita para este crime macabro foi “Dexter” e foi dessa forma que conseguiram traçar um plano para desmembrarem o amigo após a sua morte.

Todos nós sabemos, ou devíamos saber, que existe uma barreira entre o real e a ficção. Mas o que fazer quando essa barreira é ultrapassada e se geram consequências deste tipo? Infelizmente, este não é um caso isolado e o assunto voltou à “baila” com a nova série coreana Squid Game. Apesar de o conteúdo televisivo ter os 16 anos como idade mínima para a sua visualização, há relatos de várias crianças que a veem com o conhecimento dos seus pais ou tutores. O mais recente êxito da plataforma Netflix tem, a um nível mais profundo, uma mensagem inteligente sobre o capitalismo e a ganância. Contudo, a um nível superficial, a série é um pote cheio de violência mascarada com jogos infantis.  

Fonte: Sábado

Ao pesquisar um pouco, percebi que a visualização deste tipo de programas se torna mais perigosa do que os videojogos, por exemplo. Alguns psicólogos afirmam que os jovens conseguem entender que aquilo que veem enquanto jogam não é real – são aliens, zombies e outras criaturas que não existem. Já nesta série em concreto a história é outra. Há uma dificuldade em entender qual a barreira entre o real e a ficção, uma vez que esta quase parece um reality show

Desta forma, é fácil percebermos que conseguimos ser rapidamente manipulados com o conteúdo que vemos na televisão ou a que acedemos através da internet. Quer queiramos, quer não, foi para isso que este tipo de aparelhos foram criados: para nos manipular e nos levar a consumir aquilo que eles querem que seja consumido. Diga-se de passagem que têm feito um belo trabalho, pois grande parte da população é levada por este tipo de influência que nem sempre é saudável.

Com a globalização da internet, das plataformas digitais e das redes sociais, parece-me impossível cortar o mal pela raiz e controlar essa manipulação na sua totalidade. Apesar disso, há como contornar a situação para que as suas consequências negativas não se tornem tão gritantes. Penso que cabe a cada um de nós não mergulhar tão profundamente na ficção e no digital e começar a perceber onde fica a “linha do limite”.

No que toca às crianças e aos jovens, penso que o papel crucial é o dos pais, na medida em que este tipo de assuntos deve ser falado de forma clara, explicando os perigos que envolve e evitando, simplesmente, a proibição da visualização de filmes ou séries. As crianças de hoje são o futuro de amanhã. Façamos com que este futuro seja algo bom.

Fonte da capa: Almanaque Literário

Artigo revisto por Ana Damázio

AUTORIA

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Com quase duas décadas de vida, aqui vos apresento a rapariga mais extrovertida que possam vir a conhecer. Nascida e criada na margem sul, sítio onde são feitos os sonhos, garante que tem uma mão cheia deles. Foi na área da comunicação que encontrou o melhor que a vida lhe podia oferecer – a oportunidade de conhecer histórias e de contá-las a quem mais as deseja ouvir. Prazer, chamo-me Margarida.