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Sobreviventes criam a primeira associação de apoio a vítimas de abusos na Igreja

A “indignação total e absoluta” com a reação da Igreja Católica portuguesa aos crimes sexuais cometidos por membros do clero motivou três vítimas a tomar a iniciativa. Querem “dar voz a quem não tem voz” e responder às necessidades das vítimas.

Em entrevista à Lusa, Cristina Amaral, uma das fundadoras, realça a importância do trabalho desenvolvido pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja, que permitiu a muitas vítimas falarem pela primeira vez. Em sentido oposto, revela um sentimento de revolta em relação à forma como a Igreja está a abordar a situação e às medidas tomadas até agora. “Face a estes acontecimentos e estas declarações vergonhosas e inacreditáveis de altos responsáveis da Igreja, a nossa indignação é total e absoluta”, sublinhou.

Após uma reportagem da RTP, Cristina, Nuno e Alexandra juntaram-se com o intuito de defender os interesses dos sobreviventes destes crimes: “Queremos reivindicar os nossos direitos, focarmo-nos no apoio a outras vítimas e fazer uma série de exigências à Igreja.”

Após a finalização de alguns processos burocráticos, Coração Silenciado – Associação de Vítimas e Sobreviventes dos Abusos Sexuais da Igreja vai ser o nome adotado para a associação que se propõe a assegurar apoio emocional e jurídico para as vítimas, e que estas sejam indemnizadas pelo seu sofrimento.

A questão das indemnizações divide opiniões mesmo entre as vítimas. Cristina Amaral explicou à Lusa por que é que as indemnizações são necessárias: “Uma vida não tem preço, mas pelo amor de Deus… Não estamos a falar em valores, mas é óbvio que nos têm de indemnizar. É o mínimo. Num crime qualquer do Estado, tudo envolve dinheiro em qualquer pena. Porque é que não haveria neste caso, em que somos sobreviventes? Estamos a sobreviver à custa de medicação. Sobrevivemos para contar a história.”

Para já, a associação apoia-se num site já existente, criado por outra vítima e ao qual já chegaram mais denúncias. A longo prazo, pretendem ligar-se a outras instituições de apoio a vítimas na Igreja em países como Espanha ou França. “Queremos que a Igreja assuma as suas responsabilidades. Queremos dar voz a quem não tem voz.”

Os fundadores da organização já pediram uma audiência com o Presidente da República e planeam fazer o mesmo pedido ao Papa Francisco, quando este estiver em Portugal a propósito da Jornada Mundial da Juventude, em agosto. “Queremos reivindicar os nossos direitos, focarmo-nos no apoio a outras vítimas e fazer uma série de exigências à Igreja”, reitera Cristina Amaral.

A fundadora salienta que a principal intenção da associação é o apoio à vítima, que considera que tem sido descurado dada a elevada atenção mediático dada aos alegados abusadores: “É uma comissão de vítimas para vítimas, com o apoio de pessoas que já provaram à sociedade que estão do lado da vítima”.

Através do site Coração Silenciado é possível ler testemunhos, bem como aceder a contactar com a organização. 

Fonte da capa: TVI

Artigo revisto por Carolina Rodrigues

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Maria Beatriz Batalha, 23 anos, sempre foi fascinada por História(s). Embalada pela ilusão de pensar o passado e o futuro no presente, encontrou o Jornalismo. Não ser ninguém é ao mesmo tempo o seu maior medo e o seu maior sonho. Na ESCS Magazine, a Editoria de Informação é o seu próximo desafio.