Em Arouca, o ataque é a melhor defesa
O sétimo lugar não faz justiça à qualidade de jogo que o Arouca tem demonstrado na segunda metade da época. À base da época passada, juntou-se um trio de espanhóis diferenciados e um dos treinadores portugueses mais promissores da atualidade. O resultado? Muitos golos e alguns resultados históricos.
Os últimos dois anos no Estádio Municipal de Arouca, um pouco como o caminho que é necessário percorrer para lá chegar, têm sido marcados por altos e baixos. A conquista do 5.º lugar na época passada significou um regresso à Europa que acabou logo na 3ª pré-eliminatória da Conference League, frente ao Brann. Daniel Ramos assumiu a pasta depois da saída de Armando Evangelista para o Brasil no verão, mas o seu reinado acabou em novembro, depois de quatro derrotas seguidas.
No último lugar com apenas seis pontos e uma vitória, a direção arouquense virou-se para Daniel Sousa. Após uma primeira experiência morna como treinador sénior em Barcelos, o antigo adjunto de André Villas-Boas está a demonstrar em Arouca que não é preciso treinar um “grande” para apresentar uma filosofia de jogo atacante, sem mastigar a posse de bola.
A transição ofensiva rápida é a principal arma utilizada para ferir os adversários, através de uma circulação rápida desde o momento da recuperação até à finalização, sempre com pelo menos três homens a dar várias linhas de passe. A opção por um 4x2x3x1 com bola, potencia as melhores características de um 11 cuja base transitou da época passada. Entre as adições a este grupo, destacam-se dois jogadores espanhóis com um perfume diferenciado – Cristo Gonzalez e Jason.
Formado no Tenerife e com uma passagem fugaz pelo Real Madrid, Cristo é tudo o que imaginamos que um jogador de futebol deva ser. O estilo arrojado transfere-se para dentro do campo, onde tem sido um autêntico game changer a partir do meio. Nas costas de Mujica com bola ou ao lado do avançado sem ela, o médio espanhol tem a liberdade para fazer tabelinhas com os colegas, arrancar com bola rumo à área adversária e, muitas vezes, finalizar as próprias jogadas. Responsável também pela marcação das bolas paradas, leva já 15 golos e dez assistências pelo clube, tendo já renovado contrato por mais duas épocas.
Com maior discrição, mas também com mais currículo, chegou Jason Remeseiro, que já faturou por sete ocasiões. Dono de um pé direito fantasioso, o antigo jogador de Levante, Valência e Getafe parte do lado direito do ataque, mas deambula quase sempre por zonas interiores, deixando a linha para Tiago Esgaio.
Rafa Mujica completa a armada espanhola no ataque (há Javi Montero na defesa) e de que maneira. Se os 14 golos na época anterior tinham sido um bom cartão de visita, um ano depois, ainda com cinco jogos por disputar, o avançado leva quase o dobro (22). Jogo de cabeça irrepreensível, posicionamento sublime e boa mobilidade são alguns dos pontos fortes de um dos avançados mais cobiçados do mercado português.
Ao todo, a veia goleadora do trio maravilha vindo do país vizinho representa 70% dos golos marcados pelo Arouca desde o início da temporada (62). Contudo, quando falamos da manobra ofensiva dos arouquenses não nos podemos esquecer de Morlaye Sylla, o “quarto espanhol”, como já brincou Daniel Sousa. Tal como Jason na direita, Sylla deambula entre a esquerda e terrenos mais interiores, apesar de fechar o corredor a defender.
Atrás deste quarteto, a casa das máquinas arouquense é ocupada pela veterania e sagacidade de David Simão e pela juventude de Pedro Santos, emprestado pelo Braga. O jogador com mais presenças na Primeira Liga pelo clube, é responsável por gerir os ritmos da equipa e partir, por vezes, o jogo para que o quarteto atacante possa explorar o espaço existente nas costas do adversário.
Nas vitórias imortais frente ao Porto (3-2) e em Braga (1-3), as situações de ataque rápido em superioridade numérica foram veneno que nem Artur Jorge nem Sérgio Conceição conseguiram conter. Contudo, na cidade dos arcebispos o guarda-redes, De Arruabarrena demonstrou que, apesar de com menos brilho do que no ano anterior, continua a dar pontos preciosos.
Ainda no setor defensivo, o polivalente Tiago Esgaio é cada vez um dos laterais mais consistentes da Liga Portugal, enquanto Weverson Costa dá bastante profundidade ao corredor esquerdo, aparecendo algumas vezes em zonas de finalização. Milovanov completa o trio de laterais com maior tempo de jogo e que conseguiram colmatar a ausência de Mateus Quaresma – o defesa esquerdo que se lesionou com gravidade em agosto, um dos destaques do Arouca na temporada anterior.
18 jornadas, 12 vitórias, 37 pontos. O registo de Daniel Sousa em Arouca é fenomenal e já lhe valeu o salto para Braga, na próxima temporada. Para já, o foco está na conquista da melhor classificação possível, mas também na luta não assumida pela melhor pontuação de sempre, -54, alcançada em 15/16 e 23/24. Os recordes de vitórias e de golos marcados estão também ao alcance de um projeto entusiasmante, mas cuja continuidade na próxima época levanta dúvidas.
*Artigo redigido antes da 30.ª jornada. Arouca – Rio Ave
Fonte da capa: Sapo desporto
Artigo revisto por Andreia Batista
AUTORIA
Desde miúdo que tinha duas paixões, a escrita e o desporto. Ao crescer percebi que combinar as duas áreas e tornar-me jornalista desportivo era o meu objetivo de vida. Gosto de dizer que fui criado por Pablo Aimar, Lionel Messi e Matías Fernández, dada a quantidade de horas que passei a vê–los distribuir classe e sonho pelos relvados. Tenho uma lista com duas páginas de estádios míticos que quero visitar e sim, a Bombonera está em primeiro lugar.