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Desculpabilização do não: eu não tenho culpa de dizer não, fomos ensinados a ser people pleaser

Desde crianças que nos ensinam a respeitar os outros, mas, por vezes, este respeito implica também fazer tudo aquilo que nos “mandam” ou pedem, sem haver muito questionamento sobre o que nós realmente queremos.

No entanto, é bastante importante, e cada vez mais valorizado, aprendermos também, desde crianças, a dizer “não”, isto porque nos ajuda a impor limites e a ter mais conforto no dia a dia, pois não fazemos as coisas “só porque sim” ou para agradar a alguém. Dizer “não” permite-nos viver uma vida mais nossa e mais segura também. 

Para entender melhor toda esta questão é importante entendermos o conceito de “inteligência emocional” e percebermos também como esta funciona. Daniel Goleman, psicólogo, autor e jornalista norte-americano, doutorado em psicologia pela Universidade de Harvard, é muito conhecido por ter popularizado o termo “inteligência emocional”. Para o autor, o sucesso na vida não é determinado apenas pelo QI (quociente de inteligência) da pessoa, mas também pela sua capacidade de entender e gerir as emoções, tanto as suas, como as dos outros. Ele defende que a inteligência emocional é composta por cinco elementos: autoconhecimento emocional, autogestão emocional, motivação, empatia e social skills.

Sabemos que gerir emoções é uma das artes que demora uma vida a aprender, pois quando achamos que já estamos muito bons, vem uma nova situação que nos põe à prova. Talvez alguns dos sentimentos que mais contribuem para alguém não dizer “não”, é a culpa que se sente ao não fazer algo que nos pediram e o medo de como o outro nos vai percecionar após este “não” ser verbalizado. 

Segundo Brené Brown, investigadora, autora de vários best-sellers, palestrante e, também, mestre em Serviço Social e doutorada em Política Social pela Universidade de Houston, a culpa é uma emoção complexa que pode ter um impacto significativo nas nossas vidas. Ela descreve a culpa como uma sensação de que fizemos algo errado, que violámos os nossos valores, ou as expectativas dos outros.

June Price Tangney e Ronda L. Dearing, duas psicólogas que têm contribuído significativamente para o entendimento das emoções humanas, a primeira doutorada em Psicologia Clínica, pela Universidade da Califórnia, e a segunda doutorada em Psicologia, pela Universidade de Miami. Ambas, e até mesmo juntas, desenvolveram pesquisas significativas sobre as emoções humanas, em especial a culpa e a vergonha. Estas duas autoras definem a culpa como uma emoção negativa, uma resposta emocional a um comportamento percebido como inadequado ou prejudicial a si mesmo, ou aos outros. 

Apesar de definirem a culpa de diferentes maneiras, as três autoras concordam que a culpa pode ter consequências positivas e negativas em nós. A culpa envolve uma crítica dirigida a nós mesmos: quando esta emoção surge, sabemos que somos responsáveis por algum erro ou transgressão e isto pode motivar-nos a corrigir o nosso comportamento, reparar relacionamentos e crescer individualmente. No entanto, se a culpa não for bem gerida e percebida, pode levar-nos a entrar num ciclo de autocrítica prejudicial. 

Assim, Brené Brown destaca a importância de “aprender com os nossos erros, em vez de sermos definidos por eles” e também de cultivar empatia e compaixão por nós mesmos e pelos outros. 

Sabemos que, por vezes, focamo-nos tanto no que precisam e pensam os outros, que as nossas próprias necessidades, vontades e pensamentos vão ficando para trás e damos-lhes cada vez menos importância. 

Harriet B. Braiker, psicóloga, autora e palestrante, doutorada em Psicologia Clínica, pela Universidade da Califórnia, no seu livro The Disease to Please: Curing the People-Pleasing Syndrome define “people pleasing” como um padrão de comportamento que faz com que uma pessoa procure constantemente agradar aos outros, muitas vezes, em detrimento das suas próprias necessidades, desejos e bem-estar. Ela descreve isto como uma tendência para colocar as necessidades dos outros acima das próprias, numa busca incessante por aprovação e aceitação.

Fonte: 8Quali

No entanto, é importante sabermos quais são os nossos limites e respeitá-los, porque isso é respeitarmo-nos a nós próprios.

Para Henry Cloud e John Townsend, ambos autores e psicólogos, doutorados em Psicologia Clínica, o primeiro pela Universidade de Biola, e o segundo pela Universidade de Rosemead, limites são linhas claras que definem onde termina uma pessoa e outra começa. Os limites representam fronteiras físicas, emocionais e mentais que uma pessoa estabelece para si mesma, definindo o que é aceitável ou não, em termos de comportamentos, interações e relações.

No livro de ambos, Boundaries: When to Say Yes, How to Say No to Take Control of Your Life, defendem que estabelecer e manter limites saudáveis é essencial para o bem-estar emocional, mental e relacional de todas as pessoas. Limites claros ajudam a definir quem somos, e estes limites podem incluir coisas como dizer “não” quando necessário, assim como expressar necessidades e desejos de forma clara e assertiva. 

Fonte: Total Wellness

“Sim” é uma resposta positiva e tranquilizadora, que a maioria das pessoas fica feliz a dar ou receber. No entanto, “sim” pode também causar problemas quando esta não é a resposta que realmente queríamos dar. Aprender a dizer “não” é uma ferramenta indispensável para respeitar os nossos limites, que são essenciais para vivermos uma boa vida, tranquila e que realmente é nossa. 

É preciso coragem para dizer “não”, mas é também libertador fazê-lo, pois cada “não” que dizemos a alguém é um “sim” que estamos a dizer a nós próprios.

Fonte da capa: YouVersion

Revisto por Carolina Rodrigues

AUTORIA

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A Leonor tem 21 anos, está no terceiro ano da licenciatura de Publicidade e Marketing, e se algum dia lhe dissessem que ia estar na ESCS Magazine a escrever artigos, provavelmente ela não acreditaria. Gosta de ouvir podcasts, músicas e de ter os seus cosy days em casa a ver séries ou a cozinhar, viu na ESCS Magazine a oportunidade de se expressar e mostrar a sua opinião. Este ano aceitou o desafio de ser Editora Executiva da melhor revista da 2ª circular.