(des)Rotular
Hoje em dia tudo tem um nome, um rótulo, até mesmo as pessoas. Aliás, cada pessoa tem inúmeros rótulos, desde a sua profissão ao seu estado civil, passando pela orientação sexual, religião, estilo de roupa, gosto musical, hobbies ou, até mesmo, o que gosta de comer. Hoje em dia, tudo gera rótulos; todos somos feitos de rótulos.
Dito assim parece algo mau, mas, na realidade, são estes rótulos que, muitas vezes, nos permitem encontrar pessoas semelhantes a nós, com os mesmos interesses, ou, até mesmo, descobrir realidades opostas à nossa.
Por outro lado, são também estes rótulos que nos metem em “caixinhas” das quais, por vezes, é tão difícil sair, seja porque a sociedade não permite ou porque nós próprios acabamos por nos adaptar de forma a continuar a caber naquela caixa, ainda que já não faça sentido.
Mudança é sinal de crescimento e evolução, e todos nós estamos em constante crescimento, evolução e, principalmente, mudança. É muito natural que aquilo que eu penso ou aquilo que sou hoje seja diferente daquilo que eu pensei e era há cinco meses, ou que vou pensar e ser daqui a dois anos. É assim que crescemos e nos tornamos melhores, sendo necessária tolerância para que seja possível mostrarmos estas mudanças que acontecem em nós e “mudarmos de caixa” cada vez que nos fizer sentido, sem sermos julgados por tal.
Mas e se nenhuma das “caixas” (rótulos) que existem forem certas e ajustadas para mim?
Pois bem, cria-se outra. Essa é a magia: podem existir tantos rótulos quantos nós quisermos.
A questão é que cada pessoa é diferente e o rótulo da minha amiga não me vai servir a mim. Se todos assumirmos isso, cada um terá o seu rótulo, cada uma das oito mil milhões de pessoas que existem no mundo terá o seu rótulo.
Mas então vão existir oito mil milhões de rótulos? (seria bastante complexo esta opção)
Então e porque não assumir que não há caixinhas e cada um de nós é o que quer sem ter que caber numa gaveta?
Acredito que pode ser mesmo importante em determinados momentos da nossa vida, e do mundo, existirem rótulos. Na nossa vida, porque nos permitem sentir que fazemos parte de algo maior e que nos possibilita rodearmo-nos de pessoas semelhantes a nós e que nos irão entender. No mundo, porque, para podermos ser quem somos, por vezes temos de lutar por essa liberdade.
Foi necessário lutar pela igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, e daí nasceu o Feminismo. Foi necessário lutar pela igualdade de direitos entre pessoas heterossexuais e de outras orientações sexuais, e daí nasceu a comunidade LGBTQIA +. Foi necessário lutar pela igualdade de direitos humanos, independentemente da cor da pele, e daí nasceram os movimentos Anti-Racismo. E como estes há muitos mais exemplos.
Os rótulos existem para mostrar ao mundo que há uma caixa que ainda não existe, mas que já há pessoas preparadas para entrar nela. Serve para dar nome a movimentos importantes e para dar voz a quem muitas vezes não tem.
É preciso rotular para que se conheça e normalize, porque todos sabemos que existe uma certa resistência à mudança. Mas penso que o ideal seria, depois de se aceitar estas pessoas que não se encaixam e que nem deviam ter de lutar pelo seu lugar, desrotularmos.
Sinto que o ideal é não termos rótulos. Aceitarmos as pessoas tal como elas são, pois ninguém tem o direito de julgar o outro ou não lhe conceder os mesmos direitos, apenas por ser diferente.
Sei que vivemos num mundo em que é necessário rotular, mas gostava de ainda estar cá quando não houver mais essa necessidade e começarmos a desrotular e aceitar, sem questionar.
Fonte da capa: Pixabay, StockSnap
Artigo revisto por Miguel Nascimento
AUTORIA
A Leonor tem 20 anos, está no segundo ano da licenciatura de Publicidade e Marketing, e se algum dia lhe dissessem que ia estar na ESCS Magazine a escrever artigos, provavelmente ela não acreditaria. Sempre gostou de escrever, mas de uma maneira mais livre e informal, agora está na jornada de "experimentar coisas novas" e decidiu atirar-se de cabeça para a editoria de opinião. Gosta de ouvir podcasts, músicas e de ter os seus cosy days em casa a ver séries ou a cozinhar, viu na ESCS Magazine a oportunidade de se expressar e mostrar a sua opinião.