Moda e Lifestyle

A MODA E UMA PANDEMIA

Era uma vez um vírus – aquele cujo nome não deve ser pronunciado –  que veio estragar muitos planos e mudar o nosso dia a dia. Ora, assim como aconteceu connosco, aconteceu com uma grande amiga nossa: a moda. Claro que ela já sabia há muito tempo que tinha de mudar a sua forma de ser (as pessoas estavam constantemente a lembrá-la disso), mas a pandemia foi o pontapé de que precisava.

A moda é aquela nossa amiga de quem gostamos imenso: é glamorosa, dá vida a tudo o que está ao seu redor e anima os nossos dias. No entanto,  é também aquela amiga que tem um estilo de vida super acelerado e com um grande impacto, nomeadamente no ambiente. As coleções diferentes para cada nova estação, as coleções Cruise e os seus eventos de apresentação são os aspectos mais criticados e face aos quais se exige mais mudanças. A verdade é que o vírus limitou o nosso quotidiano e obrigou as marcas a comportarem-se de forma diferente, iniciando aquilo que será a nova vida da moda.

A primeira grande mudança ocorreu nas Fashion Weeks, até porque este vírus-furacão começou a levar tudo à frente na época em que as marcas se preparavam para apresentar as coleções de outono/inverno. Por isso, foram necessárias respostas rápidas. Em Paris, cancelou-se a Semana da Moda Masculina e de Alta Costura; em Milão, fundiu-se a Semana da Moda Masculina com a Feminina. Nas Fashion Weeks houve quem optasse por não apresentar as coleções, mas também quem decidisse fazer livestream dos desfiles – que, no caso, se encontravam sem plateia física, como foi o caso da Giorgio Armani. Esta solução foi a mais usada pelas marcas, mas, como é óbvio, a essência do desfile não é a mesma. Toda a experiência sensorial fica perdida entre a câmara que grava o desfile e o ecrã pelo qual o vemos. Do ponto de vista do movimento do mercado, os compradores também são afastados das peças apresentadas no desfile, porque a relação torna-se distante e… ninguém gosta de relações à distância.

As cidades mais “pequenas” parecem ser as que estão mais à frente no novo modelo para as Fashion Weeks. É nelas que está o epicentro da mudança para onde todos devemos olhar em busca de inspiração e orientação. Um bom exemplo é a Semana da Moda de Xangai, que contactou o Alibaba, não o personagem… o gigante de eCommerce chinês, que forneceu uma plataforma para os criadores apresentarem as coleções em livestream, com muitas das peças a ficarem disponíveis para compra logo a seguir ao desfile.

Em África, a Arise Fashion Week não pensou em garantir que tudo ocorria dentro da normalidade, mas viu na pandemia uma oportunidade de reavaliar o modelo da semana da moda. Bolaji Animashaun, organizadora da Arise Fashion Week, mostra através do artigo da Vogue Portugal, que a sua preocupação não era garantir a normalidade, mas ir além do que é o convencional: «Se alguém estiver a vender roupa agora, as pessoas vão perguntar ‘Porque é que eu vou comprar roupa quando as pessoas estão a tentar sobreviver?’. É uma oportunidade para abrandarmos, reiniciarmos e questionarmos aquilo que é realmente importante e aquilo que é excessivo na nossa indústria. Não estamos a tentar mostrar nada em abril ou maio, porque, para nós, não faz sentido. O que quer que seja que façamos não será tão simples como meter um desfile online, mas sim ter uma conversa e questionar a nossa comunidade sobre aquilo que podemos fazer para além da plataforma física de um desfile.»

Em Portugal, Luís Onofre questiona o modelo tradicional de apresentar uma coleção na estação anterior a esta ser disponibilizada. Vemos roupa que só podemos comprar seis meses depois, como se fosse uma provocação. Neste contexto, a ModaLisboa ocorreu, pela primeira vez, sem estação do ano associada, tendo em consideração que todo o ciclo da moda estava obstruído pelas ruas vazias, sweatpants e hoodies. Ou será que não? Plataformas de análise de consumo global perceberam que as pessoas continuam a gostar da nossa amiga moda e que não a substituíram totalmente pelas calças e casacos de fato de treino. Claro que as peças mais confortáveis e práticas passaram a ser mais usadas do que os vestidos de noite e os fatos, mas há dados que confirmam que os meses de verão foram suficientes para as pessoas recuperarem a confiança nas marcas que tinha sido estremecida pelo confinamento. Em termos práticos, entre 17 de janeiro e 11 de março, houve uma queda de 23% do setor do luxo, o que representa uma perda de cerca de 152 mil milhões de dólares. Em Portugal, apesar desta quebra, as marcas portuguesas passaram a vender maioritariamente online, o que permitiu perceber que há clientes de todo o mundo interessados nas peças que se criam cá dentro.

Mas nem só de Fashion Weeks vive a moda. Por todo o mundo, a forma de operar das marcas mudou e assistimos a campanhas fotografadas via FaceTime, como foi o caso da Bella Hadid para a Jacquemus. Outro caso de adaptação do negócio para os tempos em que vivemos é o lançamento da Comfy Collection da Mango, que é tão gira e prática para usar dentro de casa, como o é para usar na rua.

Fonte: vogue.com
Fonte: vogue.com

O que é que os ricos dizem quando fazem cócegas? Gucci, Gucci

Brincadeiras à parte, a Gucci está de parabéns por todo o Marketing que tem feito nos últimos tempos. Para a campanha de inverno 2020, The Ritual, foram os modelos que se fotografaram em casa durante a quarentena. Foi-lhes pedido que representassem a ideia que têm de si e… para fazer um vídeo a cantar “Alright” dos Supergrass. O resultado foi incrível e pode-se ver no vídeo abaixo.

Fonte: Gucci, YouTube
Fonte: L’Officiel
Fonte: L’Officiel
Fonte: L’Officiel
Fonte: L’Officiel
Fonte: L’Officiel

Mais tarde, em julho, a Gucci transmitiu o Epilogue, um evento digital que apresentava a coleção com mais de 35 milhões de pessoas a assistir. Epilogue é o final de uma “trilogia” que desafia as regras da moda e mostra uma nova abordagem da mesma e que começou com The Ritual.

Já no outono, a marca anuncia o Gucci Film Fest, um festival online com a duração de uma semana, em que Alessandro Michele, o diretor criativo, promete as odes à beleza feitas por mentes criativas que se associaram à marca.

Agradecimentos

A nossa amiga moda agradece a preocupação que tivemos (e temos tido) com ela, mas pediu-me para vos dizer que está “alright” e que continua a contar com o nosso apoio na luta contra aquilo que tem sido uma grande vicissitude da vida – a pandemia.

Artigo escrito por Petra Namora

Artigo revisto por Bruna Gonçalves

Fonte da foto de capa: L’Officiel

Link do Artigo da Vogue Portugal: https://www.vogue.pt/covid-19-impacto-semanas-de-moda

AUTORIA

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A determinada altura percebeu que o melhor era levar a vida com leveza e humor e isto está presente também na sua escrita. Contudo, como acontece a todos, às vezes também se sente confusa, mas escrever sobre o que está a sentir ajuda-a sempre a clarificar e arrumar as ideias na cabeça. Na ESCS Magazine encontrou um espaço onde pode escrever sobre vários temas que são do seu interesse.