Editorias, Opinião

A política (ainda) não é digital

A relação dos políticos portugueses com os social media ainda se encontra em período de gestação. A política teima em subestimar o potencial das redes sociais, quando já se percebeu que os benefícios deste casamento são inegáveis. O fenómeno justifica-se, por um lado, pelo conservadorismo da classe política, assente em puritanismos, e, por outro, pelo medo de ouvir a voz do cidadão. Na verdade, poucos são aqueles que arriscam abrir portas aos social media. Quem dá esse passo, acaba por não conseguir levar avante a missão, porque, pura e simplesmente, não há uma estratégia de comunicação focada nas especificidades das redes sociais. Na era do Facebook e afins, seria expectável que a classe política visse nestas plataformas digitais um meio privilegiado para se relacionar com as pessoas e, quiçá, promover novos mecanismos de expressão democrática.

As excepções são raras. Em tempos de campanha eleitoral, lá se verifica alguma agitação das águas. De facto, alguns candidatos aderem aos social media, no entanto, só alguns conseguem levar o barco a bom porto. A maioria limita-se ao Facebook. E o Twitter? Por estas bandas, o passarinho azul é um parente pobre dos social media, o que se justifica, em grande medida, pelo monopólio facebookiano. Contudo, sabe-se que os debates políticos acontecem, sobretudo, no Twitter. É por lá que andam os líderes de opinião. Não seria, pois, de esperar que a presença dos políticos neste social media fosse óbvia?

E o que fazem os políticos nas redes sociais? Pouco, muito pouco. Na maioria dos casos, limitam-se a fazer copy/paste do tradicional para o digital, encarando os social media como meros meios propagandísticos e repositórios de conteúdos. Não existe produção exclusiva para estas plataformas digitais. Por outro lado, a presença nas redes sociais acontece apenas em momentos de campanha eleitoral. Quando esta termina, as contas morrem, ganhando pó e teias de aranha. Finalmente, há que ser coerente. Se se está no Facebook e no Twitter, tem de se cuidar de ambos. Não vale a pena estar por estar. Se não se sabe utilizar um determinado social media, então, mais vale limitar-se a estar (e estar bem) num único.

Há mais um aspecto que a classe política tem pudor em revelar: o seu lado humano. Os políticos são pessoas com uma vida familiar e social, que vai além dos seus deveres profissionais. As pessoas votam em políticos mas também em pessoas. Por isso, já é tempo de os políticos perderem o medo e de levantarem o véu sobre alguns aspectos mais quotidianos da sua vida. As relações humanas baseiam-se em confiança e para confiar é preciso conhecer.

Apesar do cenário descrito, já se vai notando alguma preocupação, por parte dos políticos, em estarem presentes nas redes sociais. Mas não basta marcar presença. É fundamental estar presente. E isto só se consegue com uma estratégia a médio/longo prazo. Abrir uma página no Facebook apenas durante o período de campanha e depois deixá-la morrer é um erro. É necessário construir uma relação duradoura e benéfica com as pessoas. Só desta forma os políticos se darão a conhecer. E, por fim, e porque as pessoas não são burras, é proibido utilizar as redes sociais como meio de propaganda. É preciso mostrar o lado humano dos políticos porque, afinal de contas, eles são pessoas e é aí que se consegue estabelecer empatia com o eleitorado.

O Marcos Melo escreve ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico.

AUTORIA

+ artigos