Editorias, Opinião

Cinco insights sobre os gays

Eu iria escrever sobre um assunto totalmente diferente, porém, aconteceu algo no início dessa semana que deve ser compartilhado aqui.

Estava eu na Fnac, a escutar o novo álbum do Justin Bieber (eu sei…. eu sei), quando me apercebo de que um senhor, por volta dos seus 30 anos, está a olhar para mim fixamente por um tempo considerável até eu começar a ficar com medo do que poderia acontecer. Porém, viro o rosto e volto a curtir “Sorry” como se não houvesse amanhã.

Então, o senhor aproxima-se de mim e pergunta se eu sou o Gonçalo, de Cascais. A contrariar as expectativas do estranho, apresento-me como Wesley, da Amadora. Insatisfeito, o senhor continua a insistir em que eu sou o tal Gonçalo e em que tínhamo-nos encontrado em um lugar qualquer há três dias.

“Você deve “tá-me” confundindo com outra pessoa e eu nem conheço esse tal de Gonçalo. Agora eu tenho de ir, ok?”

Ele se apercebe do meu sotaque lindo, unicamente esplendoroso, e chega à conclusão óbvia de que eu sou brasileiro e acrescenta que é impossível que eu seja o Gonçalo, pois o mesmo é romeno.

Naquele momento, eu acreditei que era inútil começar uma discussão e trazer à tona a impossibilidade de um romeno ter esse nome mas, na realidade, eu só queria sair daquela conversa o mais rápido possível, então nem toquei no assunto.

O senhor então acrescenta que, apesar de eu não ser o Gonçalo, o brasileiro aqui tem muitas semelhanças com o romeno: uma delas é que, assim como o Gonçalo, eu sou muito bonito, forte e tenho bom gosto para escolher roupas.

E é nesse momento que eu começo a perceber o rumo que aquela conversa iria tomar. Mesmo assim, o facto de ter dito que eu era forte deixou-me um pouco curioso porque eu não sou forte; sou até um pouco fraco – acontece que eu sou gordo mesmo, mas enfim.

E o senhor estranho não desiste de suas investidas, diz que o tal Gonçalo tem um sorriso encantador, assim como o meu, e que gosta de homens.

“Também gostas de homens, Wesley?”

Eu poderia muito bem terminar a conversa naquele momento com um simples “não” e revelar minha heterossexualidade. Porém, eu tenho um pequeno demónio do humor negro que anda sempre no meu ombro esquerdo e vibra de alegria quando momentos inusitados como esse aparecem no meu quotidiano.

E assim, eu acenei com a cabeça a confirmar que gostava de homens e até acrescentei que preferia os mais velhos, assim como o senhor que estava ali na minha frente. É uma ótima ideia começar por dizer isto, não é verdade?

Era notável a alegria no rosto daquele senhor. Ficámos uns bons dez minutos a conversar sobre coisas que nunca sairão da minha cabeça: foi a conversa mais gay que tive em toda minha vida. E com todo o poder persuasivo que tinha, o senhor tentava conseguir o meu número ou algo parecido a todo custo.

Enquanto conversava com o senhor, tive alguns insights sobre o mundo da homossexualidade masculina:

    1. Ser gay deve ser complicado do ponto de vista logístico, pois eles nem sempre sabem quando outra pessoa também é gay, então começam a falar sobre Gonçalos ou algo parecido para descobrirem.

    2. Os homens realmente não dominam o dom da conversa na sedução, independente da orientação sexual. Aquele senhor tinha uma conversa mais triste que dançar com a professora na festa da escola.

    3. Existe todo um preparo higiênico e psicológico para fazer amor pelo rabo; não é só chegar lá e enfiar.

    4. Gays também podem ser homofóbicos. O senhor estranho disse que odiava homens que se vestiam como mulheres, que curioso.

    5. Por algum motivo eu sou atraente para alguns homossexuais pois não é a primeira vez que isso acontece. Porém, reconheço que o facto de estar ali a escutar Justin Bieber não era também a atitude mais viril do mundo.

Depois dos meus insights na conversa, chegou um momento em que fingir ser gay já não estava a ser tão engraçado, por isso tinha que descobrir uma maneira de acabar com a conversa e fazer que o homem fosse embora.

Foi então que usei a minha tática infalível de dizer que tinha SIDA mas que estava em tratamento e que não haveria perigo nenhum. Sempre resulta.

E não foi diferente dessa vez: o senhor deu uma desculpa qualquer e saiu da loja e eu fiquei lá, a refletir um pouco e a tentar tirar algum ensinamento de tudo o que tinha acontecido.

Então cheguei à conclusão de que se fores contar histórias nas tuas tentativas de sedução, verifica se existe uma relação lógica entre o nome das personagens e suas nacionalidades.

Eu acho que é isso.

Ou não.

Não sei!