Abraçar-nos
Das primeiras coisas que esperam de nós é que paremos de chorar, mas a realidade é que ninguém chora só porque sim – nem mesmo um bebé. É natural sentirmos emoções menos boas, e isso não tem de ser mau, não tem de ter uma conotação negativa, nem tem de ser evitado.
Eu acredito que essas emoções têm de ser abraçadas.
Se tivermos um ataque de riso, somos incentivados a continuar a rir e, se possível, a nunca parar. No entanto, se tivermos um ataque de choro, somos encorajados a parar de chorar, quase como se, ao pararmos de chorar, parássemos de sentir o que estamos a sentir e o que nos faz chorar.
A sociedade não está preparada para que as pessoas sintam emoções menos boas; não nos ensina a lidar com sentimentos como tristeza, raiva ou frustração. Enquanto sociedade, desejamos que as pessoas sejam felizes, muitas vezes de uma maneira irreal.
Penso que aos poucos, com o tempo, a pandemia e as redes sociais, isto esteja a mudar. A saúde mental está a ser cada vez mais valorizada, e as pessoas cada vez mais a ser ouvidas. Muitas vezes, estão a encontrar online outras pessoas que sentem o mesmo, ou que as ajudam a lidar com o que sentem.
Ainda assim, chorar continua a ser um ato que nos trava enquanto ser humano.
A maior parte das vezes queremos desesperadamente que a pessoa pare de chorar, e eu não condeno. Ninguém quer ver alguém a chorar, porque chorar é quase símbolo de sofrimento e não queremos ver ninguém a sofrer. E, por ser um sentimento tão comum, é que acho que todos devíamos refletir sobre por que choramos, o que simboliza chorar e como nos sentimos depois.
Para mim, chorar é libertador, e não sinal de sofrimento.
É deitar cá para fora através de lágrimas o que ainda não estou preparada para dizer por palavras.
É a minha maneira de me abraçar e expressar aquilo que estou a sentir, mas que muitas vezes ainda não estou preparada para que o mundo saiba.
Porque, para que o mundo possa saber e abraçar a minha tristeza, primeiro tenho eu que chorar e abraçar-me a mim mesma.
Fonte da Capa: Visão
Artigo revisto por Leonor Almeida
AUTORIA
A Leonor tem 21 anos, está no terceiro ano da licenciatura de Publicidade e Marketing, e se algum dia lhe dissessem que ia estar na ESCS Magazine a escrever artigos, provavelmente ela não acreditaria. Gosta de ouvir podcasts, músicas e de ter os seus cosy days em casa a ver séries ou a cozinhar, viu na ESCS Magazine a oportunidade de se expressar e mostrar a sua opinião. Este ano aceitou o desafio de ser Editora Executiva da melhor revista da 2ª circular.