Literatura

Bibliotecas… nos hospitais?

Alguma vez te ocorreu como irias ler se estivesse num hospital? Não no caso de uma visita a um familiar ou amigo, mas infelizmente numa situação em que lá estás por necessidade. Não é o pensamento mais agradável, mas surgiu esta curiosidade à minha mãe, uma grande amante de leitura: “Se eu fosse uma pessoa sozinha e algum dia tivesse de ficar internada num hospital, quem é que me iria levar os livros?” 

Após uma conversa interessante sobre encomendas da Wook e a necessidade de colocar na morada o número da cama de hospital dela – sim, da cama –, chegou-se à conclusão de que, provavelmente, existiriam bibliotecas nos hospitais. Ao fazer alguma pesquisa, verificou-se que realmente existem bibliotecas nos hospitais, mas não da forma como imaginamos. Não com livros que os pacientes poderiam requisitar para se entreterem: são espaços de consulta para os seus médicos e profissionais. 
Bibliotecas hospitalares são normalmente criadas a partir da cooperação com o Ministério da Saúde. Visam a humanização da assistência aos doentes. Isto é, facilitam a pesquisa dos profissionais, ajudando a retirar conclusões mais precisas sobre diagnósticos, podendo, assim, oferecer um melhor tratamento e assistência aos pacientes. Pode verificar-se isso na série Anatomia de Grey, em que, em várias cenas, é atribuído aos profissionais um paciente cujo caso é complicado, levando a que estes se dirijam a uma biblioteca onde podem procurar informação em livros de medicina, teses de outros médicos, testemunhos, entre outras fontes.

Fonte: WeHeartIt

Nos Estados Unidos, a realidade de bibliotecas hospitalares está fortemente presente, uma vez que os hospitais recebem muitas vezes estudantes de medicina para realizar estágios, nos quais têm acesso a educação prática, bem como exames teóricos, que lhes permitem concluir o curso. 

No entanto, em Portugal, esse conceito não está tão vincado. Na verdade, muitos hospitais recebem queixas, já há alguns anos, por parte dos seus profissionais, pelo facto de não terem fontes de pesquisa suficientes que seriam essenciais para alguns casos e que até agilizariam muitos outros processos. Trata-se, assim, de uma área, até agora, com escassos estudos a nível nacional e conhecida, essencialmente, por profissionais da saúde ligados ao ensino e à investigação.

Mas fica a questão: quão importante são essas bibliotecas? Uma biblioteca médica num hospital é uma necessidade. Primeiro, ao beneficiar os profissionais de saúde, beneficia-nos também a nós, uma vez que toda a informação recolhida é para um melhor atendimento do paciente. Depois, tal como o médico, a biblioteca deve estar sempre pronta para atender as urgências dos seus utilizadores. 

Importa que seja um lugar calmo no meio de muita atividade, onde os profissionais de saúde devem poder usufruir de alguns momentos de tranquilidade e de condições de trabalho. Assim, estas bibliotecas apoiam a prestação de cuidados ao doente, a investigação científica, a educação e a tomada de decisão administrativa por parte das instituições.

Biblioteca do Hospital de Braga
Fonte: Hospital de Braga

As instalações de saúde em Portugal têm aderido cada vez mais a este novo conceito. Cerca de 27% dos hospitais e centros de saúde no norte e centro do país já adquiriram um espaço de estudo e de pesquisa para os seus profissionais. A biblioteca do Hospital de Braga, por exemplo, diz ter como missão “ser um centro de divulgação, organização, aquisição e disponibilização de recursos de informação, apoiando proativamente todos os setores de atividade do hospital, promovendo a acessibilidade à informação de forma a contribuir com qualidade, pertinência e evidência para a tomada de decisão na prática clínica, investigação e ensino”.

Em Lisboa também se vê com mais frequência a adoção destes espaços, como é o caso das bibliotecas do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central. Além de servirem os profissionais do Hospital de S. José, do Hospital Dona Estefânia e de outros, são também ótimos locais que os estudantes de medicina podem visitar para estudar.

Mas, fora a criação de uma biblioteca física, alguns centros hospitalares optam por um caminho mais tecnológico, como é o caso do Hospital da Luz, que, para os seus médicos associados, criou uma plataforma que possibilita não só a consulta de documentos e de informações, como também a experiência de outros médicos associados com os seus pacientes, proporcionando uma maior cooperação entre profissionais.

Assim, podemos concluir que, apesar de em Portugal o conceito de biblioteca hospitalar não ter ainda um grande impacto, cada vez mais se vê a adoção destes espaços no nosso país, o que contribui para um melhor atendimento do paciente e melhor (in)formação dos profissionais.

Mas e em relação aos espaços de lazer nas instalações de saúde, como é que poderei ler um livro se ninguém me puder trazer um? Nas alas pediátricas, fora outras atividades, muitos hospitais apostam em programas de apoio que promovem a leitura, desenvolvendo atividades de grupo que estimulam a vontade de ler e a procura de novos livros.

E para os mais crescidos? Vários hospitais organizam atividades voluntárias de lazer para distrair as mentes de pacientes internados. Muitas dessas atividades incluem jogos de cartas, clubes de leitura, visionamento de filmes, palavras cruzadas, jogos de tabuleiro, entre outras. Dependendo do tipo de atividade, o paciente poderá participar em atividades de grupo ou então fazer uma atividade sozinho (ou na companhia de um livro).

Urge, assim, apelar às unidades hospitalares para a necessidade de organizarem – recorrendo, por exemplo, ao voluntariado e ao espírito donativo dos pacientes, famílias e público em geral – bibliotecas de natureza eclética, direcionadas ao uso dos pacientes e familiares, permitindo, desta forma, amenizar o tormento que significa uma passagem ou estadia hospitalar, sem custos acrescidos para o utilizador.

Fonte da Imagem de Capa: Hospital de Braga

Artigo revisto por Ana Roquete

AUTORIA

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Por ter muitas paixões, Mariana é conhecida por estar envolvida em “mil coisas ao mesmo tempo”. Atualmente no curso de Publicidade e Marketing, mas com um (outro) grande amor pela escrita, escreve artigos onde consigam transmitir a emoção que sente sobre certos temas, não esquecendo de abordar também conteúdos importantes. Tem ainda o sonho de visitar o Japão e de um dia poder saber o que esteve por detrás do processo criativo da música Sunflower Vol.6.