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Despertares (1990): acordar sem estar a dormir

Desde pequeno que me habituei a ouvir os mais velhos proferir a frase “Nós estamos começados, mas não estamos acabados”, frase esta que era usada para me advertirem para o facto de a vida poder mudar de um instante para o outro e que, apesar de se ter nascido sem nenhuma enfermidade, tal não é garante de que não se venha a sofrer de um qualquer tipo de limitação física ou psíquica.

É neste contexto de constante mutabilidade da vida que se insere o filme Despertares (Awakenings, no titulo original), de 1990, realizado por Penny Marshall. Protagonizado por Robin Williams e Robert De Niro, esta obra, baseada em factos verídicos, leva-nos até ao ano de 1969 e a um hospital psiquiátrico em Nova Iorque onde são tratadas diversas vítimas de um surto de encefalite letárgica, que, devido à doença, se encontram em estado catatónico.

Nesse hospital encontramos o Dr. Malcolm Sayer, protagonizado por Robin Williams, que acredita que os seus doentes não se encontram catatónicos, mas apenas “adormecidos”, e que, com a medicação correta, reagiriam a estímulos e quiçá sairiam do estado catatónico no qual se encontram. Assim sendo, após pesquisa, Dr. Sayer descobre que o medicamento usado para tratar a doença de Parkinson poderia ter efeito no tratamento dos seus doentes e consegue autorização para administrar o medicamento a um paciente, Leonard Lowe, protagonizado por Robert De Niro.

O tratamento surte efeito e Leonard Lowe, em estado catatónico há décadas, “desperta” e prova que o Dr. Malcolm Sayer encontrara uma solução para o seu problema. Após este bom resultado, rapidamente o tratamento é alargado aos restantes pacientes, com resultados igualmente satisfatórios. Apesar de o inovador tratamento proporcionar aos pacientes um verão completamente diferente, no qual conseguiram, finalmente, comunicar com o mundo, os efeitos secundários cedo se revelam no primeiro paciente a usufruir do mesmo. Leonard Lowe, gradualmente vai perdendo a mobilidade conquistada, acabando por regressar ao estado catatónico do qual tinha conseguido sair, vaticinando o futuro de todos os outros pacientes, que se lhe seguirão na regressão dos progressos obtidos.

Este filme acaba por nos levar a compreender um pouco melhor as dificuldades sentidas pelos profissionais de saúde que tratam os casos tidos como “perdidos” pela restante comunidade médica e pela sociedade em geral. Na minha opinião, faz-nos também aprender a valorizar um pouco mais cada momento que temos, pois o que hoje é garantido amanhã pode não o ser.

Para finalizar, somos ainda presenteados com os excelentes desempenhos de Robin Williams e de Robert De Niro (a interpretação valeu-lhe até a nomeação para o Óscar de melhor ator). Robin Williams consegue encarnar na perfeição o médico tímido, mas atencioso e preocupado com os seus doentes. Robert De Niro leva-nos a criar empatia com a sua personagem, durante todo o processo de “despertar” e ainda no processo que o leva de novo ao estado catatónico no qual se encontrara durante décadas, conseguindo interpretar de forma categórica uma personagem em declínio físico e mental.

Resta-me apenas reafirmar que este é um filme que merece ser visto, levando-nos a refletir sobre diversas temáticas, como a efemeridade da vida ou a fragilidade da condição humana e a valorizar as pequenas coisas da vida.