Editorias, Opinião

Duplo “olhar” sobre o aborto

Não é novidade nenhuma que existe uma falta de consenso em relação ao aborto, considerado um problema bioético devido a estar relacionado com a justiça (ética) de retirar o feto (biológico), por alguma razão, antes de estar completamente formado. O aborto consiste no facto de uma pessoa grávida pedir para ficar sem o bebé, ou seja, fazer uma “operação” para retirar o bebé do útero antes de este nascer e provocar a sua morte.

Por essa mesma razão, este assunto sempre causou uma grande polémica, porque, para a maioria das pessoas, é ética e moralmente incorreto visto que estamos a cometer um homicídio consciente de um feto, e todos merecemos viver. Os argumentos usados a favor desta prática e contra a mesma são: a pessoa pode não ter as condições necessárias para criar um filho (neste caso a pessoa podia ter tido mais consciência no ato sexual para não ocorrer a gravidez), a pessoa poderá ter sido violada (neste caso a pessoa deveria ter todo o direito de provocar a interrupção da gravidez visto que foi um ato horrendo e sem qualquer consenso), a pessoa pode simplesmente não querer cuidar do “futuro” filho (neste caso a pessoa não tem qualquer razão de provocar uma interrupção, visto que todos temos cabeça para pensar duas vezes naquilo que estamos a fazer); a outra razão contra consiste no facto de a criança merecer viver e a sua morte ser considerada um homicídio (são estas as razões usadas para defender e refutar a ideia do aborto).

Na minha opinião o aborto deveria ser legalizado em todos os países, com regras bastante severas e exceções muito bem delineadas, para apenas ser posto em prática nas situações mais adequadas. Por exemplo, se uma pessoa for violada e reparar que está grávida, é óbvio que vai pedir para efetuar o aborto e nessa situação deveria ser legalizado, ou seja, é verdade que se está a matar um bebé (natimorto), mas será que a pessoa tem vontade de criar um filho visto que é fruto de uma violação da qual sofreu?

Contudo, deveria haver penas para quem colocar em prática o aborto em situações erradas ou simplesmente rejeitar esse mesmo pedido. Por exemplo, se uma pessoa não teve a melhor decisão na altura do ato, isso acaba por ser uma consequência e, tal como em tudo na nossa vida, podemos errar ou tomar a decisão certa.

Apesar de ser algo quase impossível de ser feito, deveria haver um pequeno “manual” a explicar quais as situações em que se pode colocar em prática o aborto e em quais não se pode. Desta forma até poderia haver um maior controlo e uma diminuição de práticas ilegais relacionadas com o aborto, isto é, temos de arranjar uma solução que satisfaça ambas as partes que tanto debatem sobre este mesmo assunto.

Antes de acabar este artigo vou-vos colocar perante a seguinte situação: “uma rapariga é violada por alguém desconhecido, faz queixa à polícia e compra um teste de gravidez para ver se tinha ficado grávida, e o teste dá positivo”. Era justo esta rapariga ter a possibilidade de fazer um aborto? Seria ética e moralmente errado efetuar um aborto nesta situação? Seria considerado homicídio se o aborto fosse efetuado nas primeiras dez semanas? Se o médico permitisse esta situação estaria a agir de forma moralmente correta? Ou estaria a ser negligente e a ir contra a sua ética medicinal? Pensem para dentro de vós e vejam que o aborto deveria ser legalizado em determinadas situações (muito específicas como é óbvio).

O Pedro Almeida escreve com o novo acordo ortográfico.

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