Música

É Urgente Apoiar Os Small Artists Portugueses!

Certamente todos nós temos ídolos no mundo da música, estrelas já com um nome sonante, mas será que já parámos para pensar que nem sempre foi assim? Até mesmo a Queen B já foi uma artista praticamente desconhecida!

A verdade é que é fácil ficarmos ofuscados pelas luzes dos charts e das galas de entrega de prémios, acabando por não dar a devida atenção a outros artistas ainda a construir uma carreira, mas já com bastante talento. É uma situação global, com uma presença bem acentuada em Portugal. Foi isso que levou a ESCS Magazine a falar com algumas bandas e cantores a solo a dar os seus primeiros passos na indústria musical: Jayde; Bergalgo; Inês Lucas; Misuzy Delgado, Pacensis e Querubim. Os mesmos contaram-nos um pouco sobre o percurso que já percorreram até chegar onde estão neste momento, aquilo em que estão a trabalhar atualmente, planos para o futuro e ainda houve tempo para umas leves divagações acerca de como é ser um “small artist” no nosso país.

Jayde, nome artístico da Marlene, é uma jovem de 24 anos e reside em Almada. Descreve-se como uma artista versátil, mas com um dom especial para o R&B, soul e pop e o seu maior sonho é atuar no Madison Square Garden. A paixão pela música surgiu bem cedo, inspirada pela famosa série da Disney ChannelHannah Montana”, protagonizada por Miley Cyrus.

Fonte: Jayde via Instagram

Tudo o que aprendeu até hoje deve-se à sua força de vontade e dedicação. Aos 9 anos tentou compor em inglês, embora ainda tivesse algumas dificuldades na língua. “Comecei a meter as minhas letras por cima de instrumentais que via no YouTube (…)” – conta-nos a artista em relação às suas primeiras criações. O passo seguinte foi aquele que chamou mais a atenção do público: publicar covers nas redes sociais. Depois disso, recebeu várias propostas, chegando mesmo a gravar originais em estúdio. Jayde acredita que após a pandemia surgirão ainda mais oportunidades para mostrar o seu talento e apostar nos seus projetos.

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Quando confrontada com a pergunta “Achas que há falta de apoio a novos artistas?”, Jayde considera que “não se trata de falta de apoio, mas de falta de oportunidade, principalmente para estilos diferentes ou para tudo o que pode sair do padrão da sociedade”. Contudo, não é isso que a deita abaixo! Pelas suas palavras: “É uma questão de aceitar que neste mundo é preciso arriscar e que vão existir muitos “não”, mas, mesmo assim, é necessário continuar a tentar se a música é realmente o que queres fazer”. Confessou que o maior desafio que um artista em ascensão tem de ultrapassar é “ter a capacidade de criar algo diferente, algo que prenda as pessoas às suas músicas, algo com que as pessoas se identifiquem, há muita concorrência, há muito conteúdo, é preciso ser exótico à maneira de cada um, seja pela letra da música, pelo timbre, pela postura, pela presença”.

Analisando agora o ponto de vista de uma banda, entrámos em contacto com os Bergalgo: um projeto com pouco mais de 1 ano de existência, mas que já deu cartas! A banda de Rock Moderno, exclusivamente em português, é composta por 4 membros: Bruno (voz e guitarra), Diogo (guitarra), João Quarenta (teclados) e João Carvalho (bateria), todos com influências musicais bastante distintas, mas que se completam. Bastante ecléticos, todos participam no processo criativo com “uma postura muito aberta à experimentação, tanto a nível de sonoridade, como a nível de concertos e gravação”. Consideram que aquilo que mais os caracteriza é a atitude crítica: “Tentamos sempre experimentar e analisar o que falhou e o que funcionou. Somos muito observadores, creio, tanto de outras bandas e amigos, como uns dos outros (para conseguirmos perceber os pontos fortes e fracos de cada um) e também de nós próprios. (…) Tudo isso converge no produto final do que fazemos (que ainda é algo muito infante e revela uma procura de identidade)”. Fãs do improviso, mas também de estrutura. Quando se trata de apresentar trabalhos ao público, estes jovens já têm algumas experiências de palco.

Fonte: Bandcamp

Numa abordagem mais específica ao tema deste artigo, consideram que existe falta de apoio aos artistas em crescimento, ainda para mais na era globalizada em que vivemos. “Estamos numa era com a maior disponibilidade de recursos e de transmissão de informação alguma vez possível. As possibilidades para se criar, desenvolver e partilhar conteúdo informativo e divulgador são praticamente infinitas. Contudo, sobressai ainda uma certa apatia, talvez uma pequena ignorância em todo o foro cultural que se desenvolve atualmente. Existem iniciativas e existem pessoas dedicadas e com vontade, mas as oportunidades são cortadas por vezes e a mensagem acaba sempre por chegar cortada. Podemos enunciar os pequeníssimos gastos com a cultura, ou a falta de infraestruturas que permitam a sua propagação, mas também dentro do próprio meio, subsistem alguns problemas, relacionados com a iniciativa municipal, em casos mais específicos, ou até da dimensão das atividades e iniciativas”.

Com o lançamento do EP “Algo”, marcado para 5 de Março, a banda apresenta um conjunto de 4 canções que mostra ao público a versatilidade e o potencial da banda até ao momento em que foram gravadas e é um reflexo dos concertos que já deram. Foi um projeto que os fez evoluir bastante. Podem acompanhar os passos de Bergalgo aqui!

Algo que ajuda vários artistas no início das suas carreiras são os programas televisivos de “caça talentos” e a ESCS Magazine não deixou escapar a oportunidade de falar com alguém que já experienciou o que é participar num.

Inês Lucas via Instagram

Inês Lucas tem 18 anos e é cantora e compositora. Começou a estudar música aos 10 anos e teve aulas de piano, guitarra e canto. Em 2017, começou a sua carreira como artista de rua e tem um projeto com um guitarrista que se chama “Canários de Lisboa”. Infelizmente, a pandemia cortou-lhe um pouco as asas, deixando a artista sem trabalho. Tenciona lançar originais brevemente, mas a Covid-19 continua a ser um obstáculo.

Em 2019, participou no The Voice Portugal, tendo chegado até à fase das batalhas. Destaca a gigante competição que existe neste tipo de programas e que por vezes nem damos conta.

Prova cega de Inês Lucas. The Voice Portugal via YouTube.

Diretamente dos Açores, Miriam Delgado sabe aquilo de que é capaz e valoriza imenso o seu trabalho. De nome artístico Misuzy, tem 28 anos e começou a cantar aos 12.

Créditos: @air.nani

O seu pai é cantor e, assim que se apercebeu do talento da filha, não hesitou em puxar por ela, convidando-a para participar nos seus concertos. Foi a partir daí que surgiram novos projetos, sendo que foi em 2019 a grande aposta na sua carreira a solo. O seu gosto musical vai desde Alicia Keys a System Of A Down e considera-se uma artista bastante versátil e ambiciosa, não tendo medo de arriscar em fazer aquilo de que gosta em detrimento de ceder aos padrões da sociedade! Já conta com vários originais lançados e aponta para breve a divulgação do próximo.

Podes ouvir aqui os trabalhos da Misuzy!

À semelhança das trocas de ideias com os restantes artistas, mais uma vez surgiu a afirmação de que há falta de apoio a novos artistas e à cultura em geral, frisando o contributo da pandemia para essa situação. Contudo, reforça a importância de não desistir e de ter determinação para alcançar os objetivos em vista.

Mais uma banda. Pacensis é um duo que surgiu em janeiro de 2020, resultado da dissolução de um projeto anterior que já contava com Danger Machine, nome artístico de Diogo Maurício no baixo e Luís Mendes na bateria. No entanto, nesse projeto sentiam uma certa pressão dos rótulos musicais a que estavam vinculados, então decidiram criar Pacensis como uma banda sem rótulo, como um meio para tocar aquilo que sentem. Atualmente, a banda conta com Diogo nos vocais, baixo, guitarra e sintetizadores e com Luís nos vocais e bateria. Ambos os seus integrantes se interessaram por música desde cedo e procuram trilhar um caminho que deixe um legado que valorize sempre a qualidade da música e consiga marcar pela positiva a sua presença no cenário. Afirmam que há um trabalho futuro no horizonte sobre o qual ainda não podem revelar muita coisa. Para os jovens, um dos grandes desafios enquanto small artists é lidar com “uma descrença geral perante o conteúdo que estes têm a oferecer e uma certa conceção que se formou de que para se fazer música é necessário o melhor equipamento ou a melhor formação musical, quando na nossa visão acreditamos que a música vem mais da vontade e esforço que se tem e da atitude que se esboça através dos trabalhos”.

Pacensis via Instagram

Para terminar, deixo ainda em aberto e ao critério da curiosidade dos nossos leitores umas palavras sobre o projeto Querubim.

Rodrigo Cardoso via Instagram

O mesmo nasce da vontade do talentoso Rodrigo Cardoso de criar música. As canções nascem no seu quarto, pensadas já em forma de banda. Conta com um álbum lançado e uma mão cheia de concertos dados. Ouve aqui o álbum “Saber Estar”:

Aqui ficam os perfis da rede social Instagram de cada um dos artistas que aceitaram colaborar neste artigo, para que possam estar sempre a par das novidades acerca do trabalho dos mesmos.

Jayde: @yourlanisss

Bergalgo: @algo.bergalgo

Inês Lucas: @heyitsinesss

Misuzy: @misuzy_delgado

Pacensis: @pacensisband

Querubim: @__querubim_

Artigo por: Joana Salvada

Imagem de capa / Créditos: Rafael Serra

Artigo revisto por Lurdes Pereira

AUTORIA

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A Joana encontra-se na junção do perfeccionismo e da ambição. Natural de Beja, sempre quis ter um papel ativo na indústria da música. Mudou-se para Lisboa para estudar Publicidade e Marketing, adaptando os conhecimentos adquiridos à sua área de interesse. Claramente não deixou para trás o seu amor pela escrita, fazendo convergir as duas paixões na secção de música da ESCS Magazine.