Ensino Superior – a grande mudança
A transição do Ensino Secundário para o Superior vem acompanhada de novos desafios, preocupações e angústias. Este é o evento que marca, verdadeiramente, o início da vida adulta, pois força a entrada num universo de responsabilidades e de deveres. Quem é arrancado da casa dos pais – quer por escolha, quer por necessidade – vê-se então inteiramente encarregue de cuidar de si próprio e, consequentemente, vê-se obrigado a conciliar as tarefas domésticas com os estudos. Nem sempre é fácil passar por esta grande mudança, mas, como disse o escritor irlandês C.S. Lewis, as “dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários”.
A estudante Margarida Silva aceitou o desafio. Saiu da sua zona de conforto, que é a ilha de São Miguel, nos Açores, onde nasceu e passou toda a sua vida, para embarcar numa nova aventura em Lisboa. Numa entrevista à ESCS Magazine, a aspirante a jornalista partilhou algumas das conclusões que tira depois de pouco mais de um ano a viver na Grande Capital.
O que sentiste quando te mudaste para Lisboa?
“Por um lado, estava incrivelmente feliz porque o curso de jornalismo na ESCS era a minha primeira opção. Há muitos anos que eu sabia que era esse o caminho que eu queria seguir; logo, estava ciente da mudança que teria de fazer. Mas, por outro lado, tinha medo do desconhecido.”
Como é que essa mudança te afetou?
“Notei uma grande evolução em mim durante o primeiro semestre na faculdade! Quando terminou, senti-me mais desenrascada e desinibida. No princípio, eu tinha alguma vergonha de ir, por exemplo, à farmácia e falar com o senhor ao balcão, mas agora faço-o sem problemas. Passado mais de um ano desde a mudança, noto também uma maior independência a nível emocional. Perante dilemas emocionais, eu precisava logo de falar com a minha irmã; precisava de um abraço, de contactar alguém… Hoje ainda o faço, mas já não sinto uma necessidade urgente. Aprendi a resolver os meus problemas sozinha e sei apreciar a minha própria companhia. Ainda assim, em certos momentos, quero o colinho da mãe e companhia lá no apartamento, tal como qualquer outra pessoa.”
Tiveste dificuldades no relacionamento com novas pessoas?
“Sinceramente, não tive. No início estávamos todos no mesmo barco, ou seja, estávamos a experienciar algo novo e à partida ninguém conhecia ninguém. Quando as pessoas descobriam que eu era dos Açores e ouviam o meu sotaque achavam sempre imensa graça – e isso originava tema de conversa. Era logo um pontapé de saída e, depois, naturalmente os laços foram-se criando. A integração na praxe e nos núcleos também me ajudou imenso – especialmente na praxe, porque me permitiu conhecer pessoas de vários cursos e anos.”
Quais são os aspetos negativos e positivos desta transição?
“Estou aqui a realizar o meu sonho! Apesar de ter mudado de casa e de a minha vida ter sofrido uma grande mudança, tenho muita sorte por estar a fazer aquilo de que realmente gosto. Além disso, tornei-me mais independente – não só do ponto de vista emocional, como também na organização das tarefas diárias. Eu cresci, a responsabilidade e a mudança obrigam a isso.
O principal aspeto negativo é estar tão longe de casa. Duas horas de avião é diferente de duas horas de carro, tanto pelos preços, como pela logística da viagem – marcá-la com antecedência, chegar cedo ao aeroporto, etc. Não tenho a possibilidade de ir a casa todos os dias ou todos os fins de semanas; logo, não posso ver as pessoas de quem gosto quando quero e não posso festejar aniversários junto daqueles que amo.”
Teres mudado de cidade teve repercussões na relação com os teus pais?
“Acho que os meus pais depositam mais confiança em mim agora. O facto de não poderem controlar aquilo que faço cá em Lisboa obrigou-os a isso. Além do mais, sinto que nos aproximámos, no sentido em que o tempo que passamos juntos ou a conversar por vídeo chamada é quase sempre de qualidade. Quando volto para casa, sinto muita saudade e vou cheia de vontade de sair com os meus pais, porque sei que durante alguns meses não terei essa possibilidade.”
No final de contas, mudar de cidade e de escola é um grande obstáculo à comodidade. No entanto, é muitas vezes a saída da zona de conforto que potencia o crescimento individual. É normal que surjam incertezas e questões. Será que te adaptarás ao Ensino Superior? Será que os teus colegas gostarão de ti, e tu deles? Será que te desenrascarás sozinho? Sim. Afinal, “O ser humano adapta-se a tudo, inclusive ao caos”.
Fonte da capa: Guia do Estudante
Artigo revisto por Andreia Custódio
AUTORIA
Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.