Editorias, Música

Few Fingers tocam guitarra até as mãos arderem

(ou o pior trocadilho alguma vez feito com um nome de um excelente álbum)

Burning Hands é o disco de estreia dos Few Fingers, mas não podemos dizer que eles sejam novatos. Nuno Rancho e André Pereira já estiveram juntos nos Team Maria e entre os dois têm talento para dar e vender.

“From Pale to Red” já era conhecida, pelo menos de alguns, por ter figurado no Leiria Calling, o disco que a Omnichord Records editou com a Blitz e que centralizou o essencial daquilo que se faz naquela região. É uma música que cumpre o propósito de apresentar a banda: as guitarras, as vozes esfumadas e as harmonias emocionantes. É como um catálogo daquilo que podemos ir ouvindo à medida que o disco roda.

Todas as músicas são diferentes e todas nos parecem familiares. Não no mau sentido (não parecem copiadas!), mas no óptimo sentido: são canções bem feitas que nos fazem sentir em casa. “Our own holidays”, em terceiro no alinhamento, vai parecer até lá a mais bem feita. Mas logo a seguir, “Ignore” supera as expectativas, com o seu permanente crescendo de arrepiar. Em oitavo chega “Damn You (The Piano Song)”, momento em que mudamos de cordas no disco para uma suavidade sofrida. Nada de novo em música, mas bem executado. Até ao final, a sonoridade mantém-se. Qualidade louvável na banda, que podemos apontar como exemplo de sucesso, é a capacidade de construir canções tão diferentes mantendo a sonoridade e sem as fazer soar ao mesmo. O que é bom. Já vimos vir de Leiria muita coisa a parecer sempre a mesma música, mas os Few Fingers souberam fazer o seu som: coerente, mas cada canção é uma canção.

A propósito do Leiria Calling e dos Few Fingers, aproveitamos para deixar no ar a questão: qual é o idioma oficial em Leiria? É mesmo o inglês? É que talento não falta à cidade e à região, mas parece que pouco é dito em português, o que costuma ser uma mais-valia numa canção.

Alinhamento:

    1. From Pale to Red
    2. High Garden
    3. Our Own Holidays
    4. Ignore
    5. Forward March
    6. Now That it Settled
    7. With No Stop And No Border
    8. Damn You (The Piano Song)
    9. Waters Broke
    10. Bruises (Light us a Candle)

Os Few Fingers respondem à ESCS MAGAZINE:

– Já trabalharam juntos antes em música – os Team Maria, por exemplo. O que é que é tão diferente que vos obrigue agora a criar uma identidade nova?
Nuno Rancho: Os Team Maria eram uma banda pop virada para a electrónica. Com os Few Fingers queríamos fazer canções simples, orgânicas onde a guitarra acústica e a lap steel guitar fossem predominantes.

– Leiria tem um estilo próprio? Como descrevem a atual “cena musical leiriense”?
Não encontro na cena de Leiria um estilo próprio, existem muitas bandas mas todas a explorar sonoridades diferentes. Diria que o que nos cola é Omnichord Records que se tem preocupado em editar e dar exposição ao que se faz de bom por aqui. Sempre houve boa música a ser feita em Leiria mas agora temos quem esteja disposto a arriscar e a mostrá-la ao país e ao mundo.

– Quais são as vossas maiores influências?
Temos gostos diferenciados mas também muitos que se tocam, para este disco as sonoridades folk do Neil Young, Ryan Adams ou Beck foram uma grande inspiração.

– Olhando para os últimos 50 anos de música portuguesa, em que época gostavam mais de subir ao palco? Porquê?
Pensando no nosso álbum a altura para subir ao palco é agora, a música Portuguesa está bem de saúde com muita coisa boa a acontecer, queremos fazer parte disso.

– Quem ouça o Leiria Calling, excelente disco em que vocês alinharam, pode ficar quase convencido de que a língua oficial de Leiria é o inglês. O que vos faz, portugueses, escrever em inglês? Acham que essa é uma tendência positiva para a música portuguesa?
As minhas maiores influências musicais e literárias escrevem em Inglês, é natural para mim fazer o mesmo. As palavras são uma ferramenta, um pintor por exemplo, escolhe o tipo de tinta que usa conforme o tipo de pintura que quer fazer, nos escolhemos fazer folk em Inglês porque é assim que queremos transmitir a nossa arte, só será negativo se não soubermos usar bem essa ferramenta.

– Prevêem que os Few Fingers durem uma vida? Ou preferem ir construindo novos projetos?
Para já temos planos para começar a trabalhar num novo álbum, se fizer sentido durarmos uma vida, que assim seja, no entanto, como músicos irrequietos que somos, penso que vai haver muitos projectos paralelos pelo meio.

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