Desporto

Game, Set, Match: O Roland-Garros de 2012

Servir para vencer um encontro não é o mesmo que rematar num penalty. O silêncio, no ténis, é respeitado de tal forma que a ação pode parar ao mínimo sinal de desassossego. Por isso, quando um jogador está a servir para vencer um encontro, aqueles segundos de silêncio são ainda mais preciosos. O silêncio é tanto que quase conseguimos sentir uma pessoa suster a respiração do outro lado do court. Na verdade, sustemos todos a respiração. E quase conseguimos ouvir o bater do coração, cada vez mais acelerado. Isto tudo acontece em segundos – nos segundos em que o tenista bate a bola no chão e depois a eleva no ar e lhe acerta com a raquete. O som da raquete a bater na bola e, do outro lado, do adversário a mexer-se para tentar evitar que aquele seja o match-point enchem por completo o court. Pode ser um ás ou pode ser uma troca de bolas desgastante que até adia o match-point. Não importa. Quando o match-point se concretiza o silêncio acaba e é substituído por um suspiro de alívio quase coletivo, por todas as expressões de felicidade e festejo que possam imaginar e, em alguns casos, por algumas expressões de desagrado e desespero.

Acredito que, no mundo, uns nascem com o dom de serem excelentes em determinado desporto e outros nascem com o dom de serem excelentes a apoiar determinado desporto. Eu faço parte do segundo grupo. Cresci a adorar ver futebol, a sofrer com derrotas, a revirar os olhos perante empates e a celebrar vitórias como se também eu tivesse contribuído para que elas acontecessem. Sou portista, nas grandes vitórias e nas derrotas que já me fizeram perder a vontade de falar com pessoas durante um ou dois dias, e tenho o meu futebolista preferido, que defendo contra tudo e todos. No entanto, à medida que fui crescendo, fui-me apaixonando mais e mais por ténis.

Podia falar-vos do Federer. Afinal, foi ele o primeiro tenista que me lembro de ver jogar. No entanto, o momento que me fez perceber o quanto gosto de ténis não aconteceu no início do milénio, aconteceu há cinco anos. O Roland-Garros de 2012 coincidiu com os meus últimos dias de aulas do 12º ano. Chegava a casa, ligava o computador, abria os livros e ia ver como tinham corrido os encontros do dia. O primeiro interesse era, claro, saber como se estavam a portar os portugueses. Depois, espreitava o resto dos resultados e, se chegasse cedo o suficiente, estudava com uma partida de ténis como barulho de fundo.

Nas semifinais, o Djokovic derrotou o Federer e o Nadal derrotou o Ferrer. Tudo bem. Mas a final foi diferente. Cresci a admirar o Nadal e o Federer, mas gostei do Djokovic desde início. Não sabia ao certo quem queria que saísse dali vencedor. Até que chega o quarto set. O Nadal tem dois sets de vantagem e o Djokovic venceu o terceiro set. 5-5. Não faço ideia de quem vai sair dali vencedor. O Rafa vence o jogo de serviço. 6-5. O Nole vai servir para não perder o encontro. Não está a correr assim tão mal. Faz o 30-15. No entanto, ainda antes de o Nadal fazer o 30-30, tenho a sensação de que aquele encontro está prestes a terminar. 40-30. Championship Point. O Djokovic vai servir para tentar que aquele não seja o momento em que o Nadal é campeão. Falha o primeiro serviço. Ainda me lembro dos arrepios. Repete o serviço. Falha. Double fault. Ponto, set, encontro: Nadal. O Djokovic mal consegue acreditar que aquilo aconteceu. O Nadal está de joelhos, no chão. Foi a sétima vez que Rafa Nadal venceu Roland-Garros.

O ténis já me deu muitas alegrias, tanto ao vivo como pela televisão. No entanto, acredito que tal só aconteceu porque, naquela tarde de domingo de 2012, eu escolhi ver a final de Roland-Garros e estudar cada movimento, cada jogada. Por isso: obrigada, Rafa, obrigada, Novak!

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