Cantora, compositora, produtora e atriz são apenas alguns dos papéis com os quais Chloe Elizabeth Bailey, protegida de Beyoncé e integrante da dupla Chloe X Halle, se identifica. 

Nascida e criada em Atlanta (EUA) junto dos seus irmãos Halle e Branson, a jovem de 24 anos ingressou no mundo da fama muito nova, participando no seu primeiro filme, The Fighting Temptations, em 2003, com apenas cinco anos – onde representou a versão mais nova da personagem de Beyoncé (que protagonizou o filme) – e em Let It Shine, da Disney, em 2012. Além das várias atuações cinematográficas, Chloe partilha poderosos dotes musicais com a sua irmã Halle – que atualmente assume o papel de Ariel na live-action de A Pequena Sereia (2023) – destacando-se esse mesmo talento como o principal motivo do sucesso de ambas.

As célebres irmãs Bailey mantiveram, desde jovens, uma imagem conjunta, estando fortemente associadas uma à outra. Isto porque as suas carreiras musicais tiveram um início comum: em 2011, quando lançaram um canal de Youtube no qual partilhavam covers de músicas populares, beneficiando de um grande reconhecimento devido às suas capacidades vocais, nomeadamente por parte de Beyoncé, com quem assinaram contrato em 2015, na Parkwood Entertainment, estando este vigente até aos dias de hoje. Deste acordo originaram-se três álbuns, dos quais se destaca Ungodly Hour, lançado em 2020, que inclui hits como Do It, apresentando-se como sendo o último corpo de trabalho divulgado por Chloe X Halle até hoje, uma vez que, em 2021, as irmãs decidiram seguir carreiras independentes.

Seguindo uma carreira solo, Chloe Bailey apresenta-se apenas como Chlöe, lançando o seu primeiro single Have Mercy a 10 de setembro de 2021. O seu álbum, ansiosamente antecipado pelos fãs, foi precedido de outros três singles independentes (Treat Me, Surprise e For The Night), onde a artista apresenta o seu rebranding não enquanto uma jovem fielmente cristã e inocente – como o público perspetivava as irmãs Bailey (embora Chloe se mostrasse mais ousada do que a irmã) -, mas sim uma mulher independente, empoderada e extremamente confiante da sua sensualidade.

É então a 31 de março de 2023 que Chlöe divulga o seu álbum de estreia, In Pieces, produzido pela própria, através da Parkwood Entertainment e a Columbia Records. O corpo de trabalho aborda essencialmente o fim de uma relação amorosa nas suas mais diversas “fases de luto”, e conta com a participação de Chris Brown e Missy Elliott. 

A mágoa, o desespero e a raiva são aspetos predominantes em faixas como Pray It Away e In Pieces, traduzidos num tom baixo e profundo (especialmente na sobreposição de vozes ou no acompanhamento do piano), assim como a recordação e idolatração da figura masculina e da sexualidade envolvida, em faixas como Feel Me Cry. Contudo, não poderiam faltar aspetos de superação e empoderamento, presentes nas batidas rítmicas de Body Do e Worried ou na balada How Does It Feel, com Chris Brown.

Neste álbum, o trabalho vocal encontra-se bem exercitado, como era de esperar, contudo a ordem das faixas cria uma narrativa confusa e muito típica da temática em si, que não é propriamente a menos abordada no ramo musical. As críticas apontam para o facto da descrição de uma figura masculina genérica – ou seja, um relacionamento tóxico com um homem que trai, mas que deixa um vazio enorme na sua ausência e que tem uma boa performance sexual – dificultar o contacto do ouvinte com a experiência e vulnerabilidade da artista. Pessoalmente, considero que a conexão com a mesma é estabelecida a partir da execução da música e aspetos vocais (o tal soul e identidade que tornam a canção relevante, porque o artista se expressa daquela maneira). Ainda assim, é possível considerar que a figura masculina transmite a ideia de que o álbum está feito para a própria Chlöe. De resto é um pouco enigmático para o público, nesse sentido.

Outro aspeto altamente debatido diz respeito à hipersexualização de Chlöe. A jovem chocou a opinião pública por se demonstrar tão ousada e referenciar “exageradamente” aspetos sexuais tão abertamente. Por isso, muitos dos críticos condenam a transição da artista para uma imagem “pouco coerente”, afirmando que a indústria “está a tentar criar outra Beyoncé” e, por isso, Chlöe se apresenta de forma tão “exposta” e “sexual”. A jovem é conhecida, de facto, por ser doce e gentil, mas tal não invalida a expressão da sua sexualidade, até porque, enquanto elemento de uma geração mais nova da música, é expectável que o conforto com o corpo e as temáticas quanto às experiências relacionais e sexuais sejam debatidas e expressas com tal naturalidade, como se espelha na sociedade.   

Posto isto, é possível afirmar que a estreia de Chlöe enquanto artista solo não terá correspondido às expectativas da maioria do público. Contudo muitos dos seus fãs (concordando ou não com as críticas) não deixam de apoiar a jovem, que ainda tem muito a provar no meio musical, mas, que de certo não desapontará, pelo simples facto de ter a orientação e o talento necessário para vingar. In Pieces é, portanto, o grito de libertação de Chlöe, que apesar de pouca recetividade é uma obra com potencial.

Neste novo capítulo da sua vida profissional, Chloe não desliga da sua carreira de atriz, integrando ainda projetos como Swarm, uma recente série de suspense da Amazon Prime Video, e Praise This, uma comédia musical da Peacock protagonizada pela artista, onde demonstra uma grande performance vocal.

Fonte da capa: Columbia Records

Artigo revisto por Marta Nobre