Literatura

Ler o mundo através do tato

Desde os nossos antepassados que a escrita é um passo fundamental para o desenvolvimento da intercomunicação cultural, pessoal e social. Através do sangue, tintas rudimentares, até às ferramentas que possuímos hoje em dia. Desde que há memória, a escrita sempre deteve o papel de levar conhecimento adiante, de gerações em gerações.
Até há relativamente pouco tempo, usar as mãos para ler era algo inconcebível, mas, hoje em dia, graças à criação do Braille é possível.

Louis Braille: o criador da escrita às cegas

Louis nasceu em 1809 nos arredores de Paris. Para a sua infelicidade (ou não) veio a perder a visão aos cinco anos de idade, devido a um acidente na oficina do seu pai. Contudo, Braille estudou em estabelecimentos de ensino comuns (não adaptados para pessoas com deficiências visuais), até aos dez anos. Nesta altura, quem viria a ser um revolucionário mais tarde, recebe uma bolsa de estudo para ser transferido para uma escola para cegos: o Instituto Real de Jovens Cegos de Paris, fundado em 1785. O fundador desta escola (Valentin Hauy) já contava com um sistema de leitura/escrita para cegos, porém bastante complexo. Isto levou a que, aos 16 anos, Louis Braille apresentasse a sua proposta de um novo sistema a partir da sua invenção: a célula Braille (seis pontos em alto relevo dispostos em três colunas de dois). Esta criação consistia na possibilidade de 63 combinações de modo a formar letras, números, sinais de pontuação, etc… Anos mais tarde, Louis acabou por estabelecer-se como professor auxiliar na escola onde estudou e, consequentemente, instituiu o seu sistema de escrita Braille nesse espaço de ensino.

Ainda hoje em dia, após a sua morte aos 43 anos, vítima de uma tuberculose, Braille recebe o devido reconhecimento oficial.

Curiosidades táteis

Nos dias que correm, o Braille é utilizado tanto por pessoas cegas como por pessoas com baixa visão, sendo uma ferramenta indispensável para uma aprendizagem inclusiva – a  escrita Braille é obrigatória em elevadores e em embalagens de comprimidos, por exemplo.

Em 1951, a UNESCO elaborou o código oficial deste sistema de escrita e criou o Conselho Mundial do Braille. Exatamente um século após a sua morte, Louis Braille foi reconhecido mundialmente e teve o seu corpo trasladado para o Panthéon, em Paris.

Devido ao espaço ocupado pelas letras, cada página escrita a caneta corresponde a cerca de três páginas em Braille. Os livros em Braille devem ser preferencialmente transcritos em papel sulfite de gramatura 120. Tirando a forma mais convencional, através da máquina Braille, também é possível escrever à mão, utilizando uma ferramenta chamada reglete e outra chamada punção, que funcionam como caderno e caneta.

Braille em Portugal

Tendo em conta a escassez de títulos na maioria das livrarias, a Biblioteca Nacional é um verdadeiro oásis dos livros Braille. A instituição conta com aproximadamente 3000 títulos variados. Entre estes estão manuais escolares, livros de literatura (sendo os romances o género em maior número), periódicos portugueses e estrangeiros, assim como obras temáticas sobre psicologia e filosofia. Além disso, o catálogo conta com uma coleção musical com 4000 títulos, que detém diversos tipos de géneros e compositores de nome.

Este sistema de escrita revolucionou a forma como pessoas cegas ou com baixa visão interpretam o mundo. Com esta evolução ao nível tátil, as mãos tornam-se no passaporte para o conhecimento.

Desde 2018 que, no dia 4 de janeiro (dia do nascimento de Louis Braille), é celebrado o dia mundial do Braille, uma  forma de homenagear o criador deste sistema e marcar a importância que este imprime na vida de muitas pessoas.

Fonte da capa: Portal C3

Artigo revisto por Inês Pinto

AUTORIA

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Um misto de curiosidade, de muito trabalho e determinação é o de que é feito Tomás Delfim. Gosta de desporto, ciência e, principalmente, de se comunicar e fazer ouvir. A falta da sua visão nunca foi um obstáculo no seu caminho, o que apenas o tornou mais determinado.