Opinião

Não queremos flores; queremos respeito

Hoje, dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher. O Dia da Mulher representa todas as conquistas e batalhas enfrentadas pelas mulheres ao longo dos séculos. A celebração desta data não é sobre um dia no qual damos flores às mulheres que amamos e metemos fotografias no Instagram a mostrar o quão lindas elas são, mas sobre o progresso, o sangue e as lágrimas de muitas mulheres que sofreram para que hoje pudéssemos ser livres de tomar decisões como ir viajar e votar ou até mesmo vestir uma saia mais curta.

Ainda assim, a mudança e o progresso são coisas que têm de continuar a existir. As desigualdades, as agressões e o machismo tóxico ainda são uma realidade muito atual. As mulheres continuam a ser desvalorizadas e ridicularizadas. Atualmente, segundo a ONU, as mulheres recebem menos 23% do que os homens. 

Fonte: Foxbit

Mas falemos de violência. Ser mulher é aprender desde nova que é preciso ter um cuidado extra. Mas porque é que eu não posso andar sozinha à noite na rua? Porque é que não posso usar um decote? Porque é que não sou livre de fazer o que quero e tenho de viver com medo? É certo que nos dão estes conselhos para o nosso bem e para a nossa segurança, mas será que também lhes ensinam a eles a não assediar e a não violar? O problema não é a mulher querer passear sozinha, nem é a mulher querer usar um decote; o problema são eles, porque a eles não lhes ensinaram o que é respeitar a liberdade delas. 

As estatísticas mostram tudo e são horrendas. São elas as maiores vítimas de abusos e de violência; são elas que quando engravidam ou quando têm vários casos são as badalhocas. E eles, o que são eles? São os grandes, os maiores, os reis da sociedade.

Em 2020 foram assassinadas 30 mulheres. Quando é que vamos levar a sério as queixas das mulheres em vez de assumirmos que é tudo um exagero ditado pelo novo feminismo que por aí anda com as típicas desculpas como: “Ai… mas ele deve ter motivos para te tratar assim. Vestida dessa forma, esperavas o quê?”.

Se as estatísticas que demonstram a quantidade de mulheres que são violentamente agredidas e até mesmo assassinadas são pavorosas, então imaginem o número de mulheres que sofrem em silêncio – essas não entram para os dados, mas todos os dias sofrem sem que ninguém saiba.

Mas, no fim, fica tudo na mesma. Como não afeta o João, amigo de toda a gente e filho de bons pais, nada muda. Seguem todos em frente, como se a vida de mais uma mulher não fosse nada aos olhos da justiça. É só mais uma que mereceu. A vida continua. Ou então fazemos um post no Facebook acerca da notícia que deu no Jornal das 8 a abordar a morte de mais uma mulher, ficamos muito furiosos, mas no dia seguinte já ultrapassámos: há outras notícias mais importantes.

Fonte: A Gazeta

Mas porque é que precisam de um dia para celebrar? Não há desigualdade; vocês até entram de graça na discoteca às sextas e gostam disso.

Gostamos de ser o produto que atrai os homens para as festas e gostamos de ser boas para o comércio. Gostamos da atenção que nos dão quando mandam aquele piropo descabido. Gostamos de ser sexualizadas. Na verdade, nós só gostávamos de receber o mesmo respeito que um homem recebe, mas isso só será possível numa sociedade utópica. 

Atualmente, o Dia Internacional da Mulher é só mais um dia. O seu verdadeiro sentido perdeu-se por detrás dos chocolates e das flores que oferecemos, mas de que serve dares-me flores se depois me vais desrespeitar?

Não queremos flores; queremos direitos iguais e respeito.

Artigo revisto por Miguel Bravo Morais 

AUTORIA

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Ana Rita, ou Rita, que é como prefere ser chamada, é aluna de Jornalismo. O sonho é a televisão, e a realidade atual é estudar para o alcançar. A escrita também sempre foi uma paixão, especialmente uma escrita que provoque algum tipo de reação no ser humano, pugnando por que exista ação para alterar se alterar e ter consciência face a problemas sociais. Estar informada é tão importante quanto ter o poder de informar os outros.