Opinião

O amor é cego

“O amor é cego”, pelo menos é o que dizem os universitários portugueses.

As relações dos jovens portugueses universitários já foram alvo de vários estudos ao longo dos tempos e denunciam que mais de metade dos namoros nesta etapa da vida dos jovens perpetuam a violência.

A verdade é que mais de metade dos nossos “Pedros” e “Inêses” já foram vítimas de violência quer física, quer psicológica, quer sexual; e muitos até consideram que, pelo menos até certo nível, é normal. Ora, concordar em discordar.

Entre perseguições, exigências de acesso ao telemóvel e ciúmes, o choque não se faz notar – pelo menos não suficiente. Muitos talvez sigam o raciocínio de que tudo isso deriva do medo de que a relação acabe, do amor verdadeiro ou das inseguranças, que devem ser respeitadas. E eu entendo medos e inseguranças, mas faz também parte do meu entendimento que o amor nunca envolve quebrar alguns limites básicos – e a privacidade, o respeito e a confiança naquela que é suposto ser a nossa “pessoa especial” são alguns desses limites essenciais. Caso contrário, não é amor.

Não obstante, isto não é claro para todos. Os estudos mostram que, por mais que a normalização de estes atos de violência tenha vindo a diminuir, continuam a ser o padrão para muitos portugueses. Alguns sociólogos culpam o tradicionalismo, isto é, consideram que estes comportamentos não cessam, pois muitos casais e portugueses ainda vivem com a noção de que os dois namorados não são iguais em termos de direitos e papel. Muitos acreditam que a mulher deve um certo respeito ao homem e que se deve focar numa lista definida de assuntos – centrados na família e no lar -, e portanto será aceitável que a falta de cumprimento desses “deveres” a sujeite a uma punição. Por mais difícil que seja para mim acreditar, este pensamento é ainda mais frequente nas raparigas, segundo os questionários. Até à parte do referido respeito estamos de acordo, mas não nos podemos esquecer de que o respeito deve ser essencialmente pessoal. Uma pessoa não deve nunca abdicar do respeito para agradar a outra – sem mencionar, claro, o facto de que um namorado não nos deveria pôr numa posição de escolher quem respeitar.

Aquilo que parece mais estranho é que muitas vezes as agressões que os casais podem perpetuar não são reconhecidas como violência mas sim romantizadas e normalizadas. Para muitos, o acesso às redes sociais da pessoa com quem se está é um simples direito e um ataque público de ciúmes é uma demonstração pública de afeto. Uma vez, numa aula, foi-nos perguntado se deixaríamos o nosso namorado ou namorada ir passar um fim-de-semana numa casa que fosse de uma rapariga. A pergunta foi respondida com exemplos de ultimatos, acompanhados de risos e expressões que davam a entender que a pergunta seria ridícula. Para mim, é exatamente isto que preocupa: a noção de confiança e liberdade num namoro parece ser estranha. As agressões tornaram-se tão comuns que nem nos parece que sejam agressões. Não estou a defender relações abertas (nem a deixar de as defender), mas não entendo por que é que a partir do momento em que uma pessoa começa a namorar deve ficar proibida de se divertir na presença de seres do género pelo qual se sente atraída… penso em quão solitária deve ser a vida das pessoas bissexuais nesta lógica…

Parece-me que estes universitários, antes de encontrarem o amor da vida deles nos corredores, bibliotecas e festas, precisam de tentar entender que mais vale estar só do que mal acompanhado.

Artigo revisto por: Joana Silvério

AUTORIA

A Constança é aluna de Relações Públicas e Comunicação Empresarial, sendo uma nerd pela estratégia e pela comunicação interpessoal. Com uma paixão por escrever e debater, a escrita de opinião sempre foi o elemento natural desta autora. O seu objetivo é conseguir ser versátil na escrita ao abordar todo o tipo de temáticas e receber feedback que a ajude a elevar a sua escrita para o próximo nível.