Opinião

Pêras e Abacates: Portugal às vezes não é sinónimo de ter

Desta vez, para contrabalançar com a semana passada, vou ser mais breve. “Os outros é que são bons”. Ouvimos isto muitas vezes. Já o ouvi vezes de mais em apenas 19 anos de existência. Não é que não concorde. Falta-nos muita coisa, é verdade, mas temos aquilo que muitos ambicionam. De mau temos crise, má gestão, corrupção, líderes fracos, políticos fantoches e a interminável procura pelo chamado “tacho”, etc., etc. Mas e aquilo que temos de bom? É muito e bem mais difícil de mudar (apesar de o que temos de mau não parecer estar para acabar tão brevemente).

A ideia para esta crónica surgiu enquanto ouvia a Antena 1 a caminho do comboio: o pivô entrevistava um emigrante português no Brasil e, de repente, algo me chamou a atenção. O entrevistado disse algo do género: “São Paulo é uma cidade magnífica! Muito agitada e as pessoas são muito simpáticas. Mas tenho é de deixar as coisas de valor em casa. Relógios e afins.”. Curioso. É tudo perfeito! Só vivo é com o risco constante de ser assaltado.

Portugal não é um país perfeito mas, em muitos aspectos centrais, estamos descansados. São problemas que nem nos parecem tão ou mais graves do que a crise ou a corrupção porque, na verdade, nem os conhecemos. Claro que há excepções mas, no geral, não temos assaltos fervorosos, não temos tiroteios, não temos assassinos em série, não temos polícias violentos, não temos extremistas violentos, não temos raptos, não temos guerras.

Na “terra das oportunidades” (aka USA) há disto tudo à grande, por exemplo. Em Portugal não temos dinheiro para oportunidades mas temos, pelo menos, uma “garantia” de que vou chegar a casa inteiro e ter a família à espera também sã e salva. Lá está, parece pouco porque é algo que, para nós, é natural.

Por falar em natural, nesse aspecto também somos sortudos. Mais uma vez temos muito de mau. A agricultura sofre muito. Em vinho, azeite e cortiça somos os maiores (só nos falta espaço) e no resto esforçamo-nos. Agora, a parte boa: não temos vulcões, não temos furacões, não temos terramotos, não temos tsunamis, não temos tufões, não temos epidemias, não temos bichos venenosos a viver debaixo das nossas camas. Mais uma vez, nem notamos nestes aspectos perfeitos do nosso país porque nem sequer nos lembramos deles.

Portugal como um todo não é perfeito mas, se pensarmos bem, em muitos aspectos até que o é. Uma sociedade pacífica e uma natureza que não nos ataca é o sonho de alguns. Nós já o temos. Também temos crise, má gestão, corrupção, líderes fracos, políticos fantoches e a interminável procura pelo chamado “tacho”, etc., etc. Mas não se esqueçam, é muito mais difícil tapar a boca de um vulcão do que a boca de um político.

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