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Olho por olho e dente por dente?

“Cabe a Deus perdoar os terroristas, mandá-los até Ele cabe-me a mim”. Esta frase foi falsamente creditada a Vladimir Putin. A pivot responsável logo admitiu que retirou a citação do Facebook e pediu desculpa por não ter verificado a veracidade do que anunciou como “notícia”.

No entanto, não deixa de ser uma boa frase para ponderar o que pode ou vai ser feito daqui para a frente. Existe, obviamente, uma relação de proximidade natural no que toca a sentimentos de vingança. Dias antes dos atentados em Paris morreram 40 pessoas no Líbano à conta de um ataque reivindicado pelo Estado Islâmico (EI). Na Europa não houve silêncio.

Mas, se pensarmos bem, é natural (quase Darwiniano) que as reacções não sejam proporcionais. Nós fazemo-lo todos os dias. Aquilo que nos é distante é-nos mais ou menos indiferente. Não por sermos egocêntricos, mas porque, como primatas, temos uma tendência para agrupar e defender o grupo. Se algo aqui está mal é, talvez, como alegados seres racionais que somos, não considerarmos o Homem como um só grupo. Mas antes de analisar reacções há que analisar culturas, sistemas e estruturas. Dentro do que temos, não seria de esperar outras reações. Depois temos também o hábito. Hábito dos desastres em locais que só conhecemos em conflito. Esse hábito é inimigo da nossa perceção da realidade. Por vezes custa-nos descobrir o mal e exigir melhor de algo que já é habitual.

Passando este ponto à frente, qual é a postura a adoptar por parte do Ocidente? Queremos paz ou vingança? A vingança pode levar à paz? Pode. É a mesma coisa? Não.

A não extinção do EI tem dois grandes argumentos: os lobbys do petróleo e das armas. A consequência é termos países a querer tirar com uma mão e dar com a outra. Os interesses económicos das grandes potências no Médio-Oriente são demasiado elevados para quererem genuinamente “dar” o território ao povo que é quem realmente o merece. Quando pensamos “como é que um grupo de pessoas sem um décimo das capacidades de organização, experiência, financiamento ou força bruta de países como a China, a Rússia ou os EUA lhes consegue resistir?”, esta é a resposta.

Agora, paz ou vingança é a diferença entre ajudar quem precisa e destruir quem queremos. A vingança tolda-nos o julgamento e desprende-nos dos verdadeiros objetivos. É a diferença entre construir e destruir. Entre a preocupação com quem pode sofrer e o não olhar a meios.

O Ocidente tem de ter muito cuidado com a forma como vai lidar com esta questão. Neste momento estamos todos contra os terroristas. Devíamos estar todos a favor da paz. São motivações completamente diferentes. Lá está, querer a paz inclui acabar com os terroristas, mas acabar com os terroristas não obriga a que haja paz.

Reparem: se for olho por olho, dente por dente, no final o que sobra são cidades destruídas, milhares de mortos e um monte gente zarolha e desdentada.

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