Promessas a mim
Na agitação do dia a dia, com tantas obrigações e compromissos sociais que ocupam o nosso tempo e energia, há um padrão curioso que muitas vezes passa despercebido. É comum zelarmos pela palavra dada aos outros, enquanto, com uma facilidade surpreendente, negligenciamos as promessas feitas a nós próprios. Mais do que curioso, este contraste é revelador – mostra a falta (ou, até, a inexistência) de amor e respeito que temos por nós próprios.
Refletindo sobre o ano que passou, a maior lição que aprendi foi: a paz interior é fruto da admiração, amizade e carinho que nutrimos por nós mesmos. Estes sentimentos manifestam-se em ações concretas, como a disciplina de ir ao ginásio conforme prometido, ou o esforço de levantar à hora agendada no despertador, mesmo nos dias em que a cama nos seduz com o seu conforto. Estes atos, aparentemente pequenos, são testemunhos de um compromisso maior. Quando um amigo ou familiar me decepciona repetidamente, é natural que eu comece a desconfiar e a perder o respeito por ele, chegando ao ponto de não querer manter uma relação devido à falta de apoio que sinto. Segundo essa lógica, se eu não cumprir com aquilo a que me comprometo, como posso manter a confiança e o respeito por mim própria?
Numa análise mais íntima, a lealdade às promessas pessoais transforma-se numa questão de honra – ao honrar os compromissos que assumi, estou a construir uma ponte de confiança pessoal. Este exercício de integridade pessoal solidifica o meu carácter, reforça a minha auto-estima e, sobretudo, aumenta a minha capacidade de confiar nas minhas decisões e escolhas. É um ciclo: quanto mais respeito os meus compromissos pessoais, mais confiança deposito em mim, e mais capaz me torno de enfrentar desafios maiores.
Por outro lado, falhar em manter estas promessas pessoais tem o seu preço. Cada vez que negligencio um compromisso, mesmo que aparentemente insignificante, envio ao meu inconsciente a mensagem de que não sou digna de esforço ou de dedicação. Também é um círculo vicioso de negligência e auto-sabotagem, em que cada falha justifica a seguinte. Reconhecer cada promessa pessoal como um ato de amor-próprio permite-me celebrar o meu valor e reconhecer a minha capacidade de ser arquiteta da minha felicidade.
Muitos reconhecem a importância da disciplina, mas poucos conhecem o verdadeiro porquê. Disciplina é, na verdade, a manifestação mais genuína do amor-próprio. É o ato de priorizar o que é melhor para o futuro em detrimento daquilo que desejamos no momento. Cada dia em que persistimos, mesmo (e especialmente) sem vontade, é uma prova da dedicação ao nosso “eu futuro”, construído a partir das promessas feitas pelo “eu presente”. Mais do que uma ferramenta para atingir objetivos, a disciplina é uma forma de nos honrarmos, de respeitarmos o caminho que escolhemos e de investirmos na construção de uma realidade que reflete as nossas mais altas aspirações e valores.
Fonte da capa: Cláudia Pinto
Artigo corrigido por: Beatriz Santos
AUTORIA
Daniela nasceu nos Estados Unidos, mas cedo se mudou para a ilha da Madeira, onde foi criada. Embarcar para a cidade de Lisboa é um primeiro passo para conquistar o seu sonho de criança: ser uma renomada Jornalista. Ambiciona criar conteúdos para grandes revistas turísticas, porque, para além da escrita, a sua paixão é viajar. São os pequenos prazeres da vida que a movem, e deseja partilhar esse olhar único sobre a vida.