Opinião

Sem plano

Cada vez mais acredito que deve ser dada uma certa independência às crianças no que toca às suas escolhas de vida. Penso em coisas como: escolher a roupa, a comida e as atividades extracurriculares. Isto porque, não só as ajuda a ter mais liberdade de expressão e, à partida, crescerão menos à imagem dos pais, como também as ajudará no futuro a sentirem-se mais confiantes para tomar decisões mais importantes na sua vida. 

Enquanto somos crianças, escolhem quase tudo por nós, inicialmente porque não somos capazes de escolher sozinhes, ainda que vamos demonstrando o desagrado perante aquilo que não gostamos, como também porque há uma tendência nos adultos em acharem que sabem sempre o que é melhor para as crianças e adolescentes. E a verdade é que nem sempre sabem, por vezes ninguém vai saber o que é melhor, só vamos saber o que cada um quer, e teremos de arriscar. 

Em diferentes pontos da nossa vida, temos decisões que parece que podem mudar radicalmente o nosso dia a dia, e até nós mesmos. A verdade é que todos os dias tomamos decisões que, aos poucos, irão moldar e transformar a nossa vida para esta ficar, idealmente, cada vez mais à nossa medida e gosto. Mas, no fim do dia, uma decisão é apenas isso, uma decisão; dificilmente não tem forma de voltar atrás, ou corrigir, caso percebamos que não é aquilo que queremos. E já todes decidimos algo que mais tarde percebemos não ser exatamente o que queríamos.

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É por isto que, para mim, não faz sentido a pressão que existe para sabermos sempre o que queremos fazer a seguir, a partir de uma certa idade. A pressão que existe para termos a vida toda planeada. A pressão que existe para sabermos a área que queremos no secundário, o curso que queremos na universidade, o mestrado, o trabalho, a relação amorosa para a vida, se queremos filhos e, se sim, a que idade e quais são os nomes.

Já todes nos sentimos perdides e sem saber o que fazer a seguir, então porque é que não somos mais tolerantes com quem passa por isso?

Entendo que seja importante termos objetivos bem definidos, é isso que nos mantém motivades e nos ajuda a “medir” se estamos a ser bem sucedidos ou não, mas a verdade é que, por vezes, não vamos ter objetivos assim tão bem definidos, porque não sabemos o que queremos, e está tudo bem. 

Existe ainda, a meu ver, um pouco a ideia de que quem não sabe o que quer ou não tem objetivos super bem definidos não vai chegar a lado nenhum, não vai ser bem sucedide e não se vai safar, mas isto não é verdade. Até a pessoa mais bem sucedida do mundo, o que quer que seja que isto queira dizer, já se sentiu perdida. 

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Mais importante do que saber exatamente o que quero ser, fazer ou ter no futuro; é saber o que quero ser, fazer e ter agora.

A transição entre decidirem por nós e nós termos de decidir, a meu ver, é muito abrupta. Não é fácil decidir e planear o que queremos fazer, quando até há pouco tempo faziam isso por nós. Sei que esta transição terá sempre de existir, e talvez se sentirá mais intensamente com a saída da casa dos pais, ou a escolha do curso, caso seja esse o percurso que decidiste seguir; mas acredito mesmo que tem de haver uma maneira menos agressiva e dolorosa de vivenciar este sentimento tão comum, que tantos tentam esconder, de não saber o que fazer a seguir, de não ter a vida planeada.

Não ter tudo planeado ou não saber o que queremos fazer depois em nada mede o nosso sucesso enquanto profissionais ou pessoas. Não saber o que queremos demonstra apenas que estamos abertes às várias opções que existem, às oportunidades que podem surgir.

Não ter tudo planeado ou não saber o que queremos fazer depois demonstra que estamos abertes à (nossa) mudança.

Revisto por Beatriz Mendonça

Fonte da capa: Unsplash

AUTORIA

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A Leonor tem 21 anos, está no terceiro ano da licenciatura de Publicidade e Marketing, e se algum dia lhe dissessem que ia estar na ESCS Magazine a escrever artigos, provavelmente ela não acreditaria. Gosta de ouvir podcasts, músicas e de ter os seus cosy days em casa a ver séries ou a cozinhar, viu na ESCS Magazine a oportunidade de se expressar e mostrar a sua opinião. Este ano aceitou o desafio de ser Editora Executiva da melhor revista da 2ª circular.