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Pelos caminhos das Serras de Aire e Candeeiros

Para quem vem de Lisboa, fica do lado direito da antiga estrada nacional nº 1, agora chamada de IC2, acompanhando-a durante cerca de 30 km, atravessando os concelhos de Rio Maior, Alcobaça e Porto de Mós. Estou a falar, nada mais, nada menos, do que do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) – uma área protegida enquadrada no Maciço Calcário Estremenho, no centro de Portugal. 

A cerca de 1h30 da capital e 2h30 do Porto, não há desculpas para não visitar esta zona protegida, que se estende por cerca de 389 km quadrados, para interior do IC2, alcançando ainda os municípios de Alcanena, Santarém, Torres Novas e Ourém, além dos já referidos. 

Fonte: Raquel Montez

Repleta de paisagens únicas e rica em património cársico, esta é a zona ideal para uma escapadinha calma e em conta, dentro do nosso próprio país. 

Aqui fica um guia com alguns dos locais a não perder.

Lagoas do Arrimal

Um desvio de 6 km para lá do IC2 leva-nos até à localidade de Arrimal, no concelho de Porto de Mós, conhecida pelas suas lagoas: a Lagoa Pequena e a Lagoa Grande.
A primeira encontra-se no centro da localidade e a segunda está a escassos metros, numa zona menos central. A sua origem está na formação de pequenas depressões superficiais que deixam acumular as águas pluviais. As duas são exemplo de algo raro no PNSAC – água à superfície -, pois a circulação desta ocorre maioritariamente em profundidade. É por esse motivo que as lagoas assumem grande importância para as populações próximas, uma vez que servem de reservatório de água, que é utilizada tanto para rega, como para consumo do gado. Os seus solos foram até impermeabilizados artificialmente para assegurar a presença de água durante todo o ano. 

Junto à Lagoa Pequena existe o parque de campismo, com capacidade para 90 pessoas, que se encontra aberto durante todo o ano. A partir desse local há dois percursos pedestres, Serra da Lua e Arco da Memória, para que se desfrute por inteiro da experiência que é visitar o PNSAC.

Réplica do Arco da Memória junta à Lagoa Pequena. Fonte: Raquel Montez.
Fonte: Raquel Montez
Lagoa Pequena. Fonte: Raquel Montez

Já a Lagoa Grande, está dotada de um parque de merendas com churrasqueira e casas de banho, onde se pode desfrutar de uma tarde em família.

Parque de merendas Lagoa Grande. Fonte: Raquel Montez.
Parque de Merendas Lagoa Grande. Fonte: Raquel Montez.

Ecopista

Caminhando mais para norte do concelho de Porto de Mós chegamos à localidade de Bezerra, ponto de partida do percurso pedestre da ecopista, que termina na Corredoura. Ao longo de cerca de 12,8 km é possível contemplar a paisagem de que este parque natural dispõe, sempre com o Castelo de Porto de Mós como fundo. O percurso é feito no local onde há algumas dezenas de anos estava ativa a linha férrea do Mineiro do Lena (Ramal do Lena), através da qual se transportava o carvão das minas da Bezerra para a central termoelétrica de Porto de Mós. O caminho pode ser feito a pé, de bicicleta ou a cavalo, sendo que veículos a motor não estão autorizados no local. Pelo meio atravessamos dois túneis, que se mantêm intactos até aos dias de hoje, e no fim é possível descansar no parque de merendas e admirar três moinhos. 

Percurso da Ecopista. Fonte: Raquel Montez.
Fonte: Raquel Montez.
Túnel da Ecopista. Fonte: Raquel Montez.
Fonte: Raquel Montez.

Castelo de Porto de Mós

Se fizeste o percurso da ecopista e o castelo te chamou a atenção, do que estás à espera para o visitar? Nem só de paisagens naturais se faz esta escapadela pelo PNSAC, visto que esta zona tem também algum património histórico muito interessante. 

Fonte: Raquel Montez.

Ainda que sem certezas, algumas fontes indicam que D. Fuas Roupinho foi alcaide da vila no século XII, pelo que também se atribui o seu nome ao castelo. O certo é que este edifício serviu de proteção da vila, aquando das invasões dos mouros. A partir daí, foram várias as obras que sofreu durante os reinados seguintes, até ao terramoto de 1755, em que ficou parcialmente destruído. Quem o visita nos dias de hoje encontra um edifício em excelente estado de conservação, de onde sobressaem os coruchéus verdes, colocados sobre duas torres. 

Ao fim de três pisos, chega-se ao topo, de onde a vista alcança quase 360 graus e a serra é o limite. 

O preço de entrada para adultos é de 1,57€, sendo que os jovens até aos 25 anos e os idosos (a partir dos 65) pagam apenas 0,79€. 

Fórnea

Arrancando de Porto de Mós em direção a Alcanena, encontramos a aldeia de Zambujal de Alcaria, que, só por si, não nos diz nada.

No entanto, é a partir desse local que se inicia o percurso pedestre em direção à Fórnea, um dos mais emblemáticos pontos do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Este cenário natural consiste num recuo, semelhante a um abatimento, em forma de anfiteatro, que começa na localidade de Chão das Pias e desce até Alcaria. A população atribuiu-lhe o nome de Fórnea por se parecer a um forno, e assim ficou até aos dias de hoje. 

O percurso pedestre que se inicia no Zambujal de Alcaria acompanha o curso do Ribeiro da Fórnea, por entre caminhos de fácil acesso, ricos em fauna e flora. Pelo trilho é possível contemplar a deslumbrante nascente que vem da gruta da Cova da Velha e cai pela encosta. 

Olhos de Água

Para quem está de visita numa altura de mais calor, a Praia Fluvial dos Olhos de Água é o local perfeito para se refrescar. Numa zona de calor tórrido do Ribatejo, já no concelho de Alcanena, a água, que percorre dezenas de quilómetros num percurso subterrâneo, brota à superfície por entre as rochas. É a nascente cársica mais importante do país, devido ao elevado volume de água que ali desagua e, por isso, abasteceu durante muitos anos a cidade de Lisboa. 

Em 2016, as margens do rio, onde já era habitual a presença de alguns aventureiros, foram requalificadas, tornando o espaço numa verdadeira praia fluvial, dotada de todos os equipamentos para se passar uma bela tarde de verão.
Não se espantem, pois a água – vinda das profundezas da terra – não vem com a temperatura mais agradável a banhos. 

Se não és dado a banhos, podes sempre aventurar-te num dos percursos pedestres possíveis na zona ou visitar o Centro de Ciência Viva do Alviela, que está mesmo ao lado da praia. Neste podes aprender mais sobre o percurso que a água percorre, mas também sobre outros temas, como a fauna e flora, onde se incluem diversas atividades, nomeadamente a observação de morcegos durante as noites de verão. Os bilhetes são grátis para crianças até aos 5 anos; os estudantes e os idosos pagam 2,50€; e os adultos 4,50€. 

Visitar o PNSAC é muito mais do que as palavras podem contar, por isso, do que estás à espera para explorar esta que é uma das regiões do país mais ricas em património cársico?

Fonte da capa: Raquel Montez

Artigo revisto por Inês Pinto

AUTORIA

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Luísa Montez é redatora da ESCS Magazine desde novembro de 2020, tendo começado por escrever apenas para a secção de Moda e Lifestyle. Após o sucesso do seu artigo escrito, excecionalmente, para a secção de Grande Entrevista e Reportagem, decidiu aceitar o convite e fazer parte da mesma. Antes de entrar na ESCS já sabia que queria pertencer à revista, pois a escrita é um dos seus pontos fortes.