Editorias, Opinião

Só aqueles que se atrevem vencem verdadeiramente

Para se conduzir qualquer carro é necessário, em primeiro lugar, conhecer-se bem o motor que se tem nas mãos: saber se atinge grandes velocidades, se aguenta bem as ultrapassagens, ou se tem pedalada para as subidas. Para se conduzir um Ferrari, além de tudo isto, é também preciso – já dizia Jorge Jesus e bem – que se tenha “andamento para ele”. Só que afinal Jorge Jesus não é o único capaz de se sentar ao volante da máquina encarnada.

Nesta troca de carros, ou melhor, de condutores, Rui Vitória também conseguiu que o Ferrari Benfica continuasse a andar. E Jorge Jesus, apesar de ter acordado o potente motor da máquina leonina e de a ter posto a correr em primeiro lugar com um grande avanço, acabou mesmo por ser ultrapassado pela equipa da Luz à 25ª. jornada.

A ultrapassagem foi apertada, mas fez-se, ainda que o treinador da equipa de Alvalade não tenha tido tempo para “saber bem como”. Mas não se pode censurar Jesus por não perceber que o segredo da força do motor Benfica esteve na obsessão de Rui Vitória pela equipa que conduz. Porque o treinador sportinguista passou este campeonato mais obcecado com o rival encarnado do que com a sua própria equipa.

Talvez fosse a força do hábito depois de seis anos a treinar o clube da Luz. A mesma força do hábito que o levou, já como treinador dos leões, a enganar-se várias vezes na direcção e a conduzir rumo ao Centro de Treinos do Benfica no Seixal em vez de se dirigir para Alcochete. Fosse força do hábito ou não, a obsessão do treinador com a equipa que ganhou tudo não parou de aumentar desde o início da época. E, se o cérebro nada devia ao clube ao qual deixou um legado de títulos, a verdade é que pareceu temê-lo.

Disse Jorge Jesus, e bem, em conferência de imprensa, por engano, no início desta época, que o Sporting queria perder*. O facto é que pareceu querer mesmo e assinou o seu destino com múltiplas atitudes reprováveis ao longo desta temporada. Primeiro vieram os famosos sms’s enviados pelo treinador dos leões aos jogadores do Benfica antes do dérbi da Supertaça. Depois as provocações ao novo treinador dos encarnados. E finalmente as acusações à arbitragem, muitas vezes feitas pelo Presidente do Sporting em forma de insulto. Perante tamanha falta de compostura, deixa de ser difícil compreender a motivação da equipa da Luz para vencer o campeonato e assim legitimar o seu novo treinador.

No final deste dérbi de 34 jornadas, o pontapé no rabo não foi afinal para a equipa de arbitragem do jogo, mas sim para equipa de Bruno de Carvalho. Com dois treinadores obcecados com a mesma equipa e com a falta de escrúpulo e de decoro dos leões neste campeonato, a balança da vitória só poderia pender a favor dos vermelhos e brancos. E, com Vitória, vitória, e o Benfica continuou a fazer história.

*Para os fervorosos sportinguistas que duvidarem deste facto, aqui fica o link onde o poderão confirmar: Entrevista a Jorge Jesus

A Joana Costa escreve ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico